Segundo dados da 6.ª edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, divulgada na última semana, o brasileiro está menos interessado na leitura de livros. De acordo com a pesquisa, houve uma queda de 6,7 milhões de leitores nos últimos quatro anos no país. A pesquisa também revela que, pela primeira vez desde 2001, quando começou o Censo, o número de pessoas que não leram nenhum livro é maior do que o de pessoas que leram pelo menos um. 53% da população não leu nenhuma obra publicada pelo mercado editorial (seja ficção, não ficção ou autoajuda) nos três meses que antecederam a pesquisa.
Quando o assunto são livros inteiros, os números de não-leitores são ainda maiores: 73% dos brasileiros não leram nenhuma obra por completo. O censo mais recente foi realizado em 208 municípios e entrevistou 5.504 pessoas. A pesquisa foi conduzida pelo Instituto Pró-Livro.
Na contramão do desinteresse pelos livros, no litoral, duas jovens têm a leitura como hábito diário. Heloisa Rodrigues, de 25 anos e moradora de Matinhos, já leu mais de 300 livros e mantém a leitura como parte de sua rotina. Gabriela Martins Silva, de 17 anos e moradora de Paranaguá, conta que foi incentivada pelos pais desde pequena.
Heloisa Rodrigues
A analista de dados Heloisa tem fantasia e romance como seus gêneros de leitura favoritos. Com uma biblioteca de mais de 150 livros em casa, ela lembra que começou a ler aos quatro anos e que o hábito foi fortalecido durante a faculdade. “Tive muito incentivo da minha mãe, que me ensinou a ler com 4 anos. O hábito da leitura me acompanhou por toda a minha vida e me ajudou bastante com a escrita e interpretação de texto na escola. Na época da faculdade, aderi ao Kindle e aos e-books para facilitar a logística de levar os livros comigo de uma cidade para outra. Ultimamente, comecei a ouvir audiolivros e consegui incluir a ‘leitura’ nas minhas atividades diárias, como faxina, preparo de comida e prática de atividades físicas. Isso aumentou significativamente o número de livros lidos e ajudou a estimular meu foco em atividades distintas, o que é muito bom para o cérebro”, afirmou.
Heloisa acredita que a leitura teve um papel fundamental em sua jornada acadêmica. Ela conta que um de seus artigos científicos ganhou um prêmio do CREA-PR (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná) pela boa estruturação do trabalho.
Heloisa também deu dicas para quem deseja criar o hábito de ler e falou sobre os impactos da leitura em sua vida: “Algumas pessoas têm preconceito com livros digitais ou audiolivros, mas acredito que eles podem ajudar muito quem tem dificuldade de pegar um livro ou quem tem algum tipo de dificuldade visual. O Kindle, por exemplo, tem a opção de ajustar o tamanho da letra e pode ser muito útil. Incluir audiolivros nas atividades diárias também ajuda, pois não toma mais tempo do dia. Sempre tive facilidade para me comunicar por meio da escrita e percebo que a leitura também me ajudou muito com o raciocínio lógico, em imaginar coisas e fazer conexões de ideias. A leitura trouxe um impacto muito positivo para a minha vida acadêmica e profissional.”
Gabriela Martins Silva
Outra jovem que fez da leitura sua rotina é Gabriela Martins Silva, estudante do 3.º ano do Ensino Médio. A parnanguara, que tem preferência por gêneros como suspense e romance, também afirma que gosta de ler desde que foi alfabetizada. “Meus pais já incentivaram a leitura desde pequena, com livros infantis, de acordo com a minha idade. À medida que fui crescendo, continuei lendo por conta própria, justamente porque aprendi a gostar, e a leitura se tornou um hobby”, destaca.
Gabriela também destaca a importância do ambiente para uma boa leitura e dá dicas para quem quer começar a ler: “Para mim, o hábito de ler não é nada complicado, mas o que me ajuda bastante é estar em um ambiente calmo e silencioso, que facilite a concentração e o entendimento do que estou lendo. Eu indicaria começar com livros menores, com uma linguagem mais simples e fluída, que sejam fáceis de entender e sobre um tema ou gênero que te interesse”, destaca.
A jovem também falou sobre a importância da leitura em sua vida: “Para mim, ler é uma forma de escape. Muitas vezes, me acalma e me distrai de situações e conflitos do dia a dia, reduzindo o estresse e a ansiedade, além de ajudar muito com a criatividade e a imaginação”, concluiu Gabriela.
Por outro lado, o desinteresse pelos livros é visível em todo o Brasil, independentemente de gênero, idade, escolaridade, classe ou renda. O aumento do tempo de tela é apontado como um dos fatores para a queda no número de leitores. A pesquisa revelou que 87% do público leitor e 70% dos não-leitores mencionaram o uso de internet no tempo livre.
Entre os leitores, as motivações para ler um livro têm como maior fator o gosto pessoal, com 26% das respostas. Distração (14%) e atualização cultural ou conhecimento geral (14%) foram outros motivos mencionados. Entre os gêneros mais lidos, a Bíblia ocupa o primeiro lugar, com 38% das respostas. Seguem-se os contos (22%) e os romances (20%).
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