Na segunda-feira, 6, foram iniciadas as gravações do filme “A Lenda do Tesouro do Padre sem cabeça da Ilha do Mel” em Paranaguá, algo que ocorreu no Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da Universidade Federal do Paraná (UFPR). A diretora da obra, Solange Pizzatto, abordou a importância cultural e histórica do filme, que além de contar a lenda que ela conhece desde a infância, quando visitava a Ilha do Mel, traz passagens históricas de Paranaguá e do Paraná como a escravidão, as primeiras leis abolicionistas, o incidente Cormorant e outros episódios dos séculos de existência do município.
“Este é um projeto aprovado pela Lei Rouanet em 2021, desde então estamos na captação de recursos, fazendo toda a pré-produção e produção. É um projeto que está em curso há alguns anos, estamos agora gravando as cenas de Paranaguá no MAE onde se passou parte da história. Teremos a oportunidade também de, após o projeto ficar pronto, exibi-lo no mesmo local onde aconteceu a história, onde foi gravado, para toda a população de Paranaguá conhecer um pouco mais da sua própria história, da cidade e da região que é tão rica e que muitas pessoas não conhecem”, salienta Pizzatto.
Segundo a diretora, o filme é baseado na lenda do Padre Sem Cabeça, um personagem que ela conhece desde a infância. “Quando eu era criança, os meus avós contavam essa história, mas era algo mais para assustar as crianças que frequentavam a Ilha do Mel, eu frequentava a ilha desde criança. As noites, as crianças queriam continuar brincando, saindo na praia, indo até a Fortaleza, e para que os pais pudessem ter mais controle dos filhos eles usavam esta história do personagem, como se fosse o homem do saco. Diziam que não podíamos sair, porque se não o padre iria nos achar, só para assustar”, salienta.
“Comentei agora adulta com amigos que frequentavam a Ilha do Mel naquela época de uma história que aconteceu lá quando eu era criança, ninguém lembrava da história, foi algo que me marcou bastante, não era a história do padre, era de um pescador que vivia na ilha e que contava a história do padre. Quando eu era criança esse pescador vivia sozinho, era amigo e conhecido de todas as pessoas que frequentavam a praia da Fortaleza e os ajudavam, levavam comida, davam roupa, e nós, quando éramos crianças, levávamos comida todos os dias na hora do almoço”, explica Solange.
Ela disse que um dia este pescador contou que sonhou com o padre sem cabeça. “Este pescador contou um dia que tinha sonhado com o padre sem cabeça. As crianças ficaram assustadíssimas pelo padre ter aparecido para este pescador e teria dito para ele que um tesouro estava enterrado embaixo da cama do pescador que pediu a nossa ajuda para que a gente desenterrar este tesouro dele, era um grupo de crianças e achamos aquilo absurdo, de um adulto pedir a nossa ajuda, e não acreditamos muito nesta história ser verdade. Depois, voltando para Curitiba, passou-se um tempo, e quando voltamos na Ilha do Mel a história que o pescador começou a se realizar do jeito que o padre tinha dito para ele em sonho. Esta história foi indo e agora, eu adulta, preciso contar esta história, se não ela irá cair no esquecimento”, salienta.
Segundo a diretora, ela fez um roteiro da história e teve a ideia de trazer para o conhecimento das pessoas a lenda em questão. “É uma história que possui toda uma ligação com Paranaguá. Fui fazer uma pesquisa para descobrir quem era este padre, se ele existiu, acabei não encontrando nenhuma informação, a não ser com a escritora paranaense Etel Frota no livro O Herói Provisório que se passa em Paranaguá e que tem um padre. Conversando com ela, ela disse que achava que o padre da minha história era também o padre da história dela. Colocamos o padre então neste perfil dentro deste contexto, que na verdade não existe, é uma ficção que eu inventei, incluindo algumas partes históricas”, acrescenta.
Pizzatto ressaltou que a história também inclui o episódio do navio Cormorant em 1850, o único confronto ocorrido na Fortaleza da Ilha do Mel. “Eu juntei este confronto com a história do padre e segui a história por aí. Temos outras histórias também do Rei de Portugal, dos ingleses que patrulhavam as costas dos países em busca de navios negreiros, porque era uma época que se proibiu o tráfico de pessoas, aqui no Brasil estava em vigência a Lei Euzébio de Queiroz que proibia o tráfico de pessoas”, detalha. “Tudo isso envolveu a formação e desenvolvimento da sociedade parnanguara, envolvendo também o surgimento da lenda do padre sem cabeça. Dei uma vida a ele o transformando”, detalha.
Elenco e equipe
Segundo a diretora, a atriz Guta Stresser fez parte da primeira versão do filme e do teaser da obra. “Temos profissionais maravilhosos que cedem o tempo dele, eles se apaixonaram também pela história do filme e da cidade. Eles resolveram abraçar o meu sonho e mostrar esta história, muitos deles participando voluntariamente. É uma produção de baixo orçamento, apesar de ser aprovada pela Lei Rouanet, existe a dificuldade de captação de recursos, passamos pela pandemia onde as empresas estavam paradas e com dificuldade de acesso ao departamento de marketing. Ainda precisamos de patrocínio para poder terminar o filme que estamos fazendo com muito esforço e carinho com artistas maravilhosos”, explica, destacando também que uma das artistas que irão participar da produção é a atriz Cristiane Macedo.
“Temos 23 pessoas na equipe apenas. Sei que existem equipes com 300 pessoas, mas estamos fazendo isso com tanto carinho e dedicação e nem por isso com menos técnica. Sempre buscamos excelência no trabalho com muito carinho, dedicação e cuidado com o que estamos fazendo”, afirma a diretora. “Temos muitas cenas gravadas, algumas cenas gravadas em Bombinhas – SC, na Ilha do Mel, em Paranaguá e Curitiba. “Estamos com 50% do filme pronto com cenas gravadas. Esta etapa em Paranaguá começa hoje e agora vamos dar um tempo em janeiro e fevereiro para passar a época de férias, porque é um pouco difícil gravar na Ilha do Mel devido aos turistas. Então retornaremos em março e abril a Paranaguá. A previsão é finalizar até o final deste ano para podermos apresentar a vocês. É uma história muito especial para todos da cidade, inclusive porque tem muita gente que não conhece a Ilha do Mel, a Fortaleza”, afirma Pizzatto. “É uma oportunidade de todos conhecerem um pouco mais de sua própria história”, finaliza.
Município
O secretário municipal de Cultura e Turismo, Ivan Lapolli, salientou a importância da obra cinematográfica ser gravada em Paranaguá. “É um privilégio que Paranaguá receba a produtora Solange Pizato reconhecida internacionalmente, ainda mais quando se trata de um filme que descreve a lenda do Padre sem Cabeça vivida na Ilha do Mel. Que abriu as espaço para divulgar outros cenários de Paranaguá que é a construção Jesuíta Mais Importante do Paraná”, ressalta. Ele visitou o set de filmagem no MAE junto à vice-prefeita de Paranaguá, Fabiana Parro.
“Produções cinematográficas movimentam o turismo em diversas cidades do mundo, e A Lenda do Padre Sem Cabeça tem a possibilidade de fazer o mesmo por Paranaguá. Inspirado em uma das lendas marcantes da região, o filme foi gravado em cenários históricos. A expectativa é que a produção atraia turistas do Brasil e do exterior, fortalecendo setores como hotelaria, gastronomia e comércio, além de gerar novas oportunidades de emprego. O filme reforça o potencial artístico da cidade. Agradecemos a toda a equipe que escolheu Paranaguá para sediar esta produção cinematográfica”, finaliza a futura secretária municipal de Turismo e que faz parte do comitê de desmembramento da Secultur, Paula Patrícia Torres.