Cultura

50 anos do Hip Hop: movimento vive e prospera em Paranaguá

Rapper parnanguara "Wag" reforça importância do Hip Hop para contar a história contemporânea do povo negro brasileiro

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Celebrado no último dia 12 de novembro, o Dia Mundial do Hip Hop, datado na mesma semana em que se comemora o Dia da Consciência Negra (20 de novembro), reforça a importância do movimento hip hop como manifestação popular e artística que me agosto de 2023 completou 50 anos de existência. Nascido no bairro do Bronx, em Nova York, em agosto de 1973, a expressão cultura vive e prospera, inclusive em Paranaguá, onde o rapper “Wag”, o Wagner Luiz Peixoto da Silva, frisou a força do movimento na cidade-mãe do Paraná como música, arte, cultura e resistência nos bairros e ruas. 

“A gente teve um movimento muito relevante na cultura que foi o Black Power, sobretudo estético e musical, e o Hip Hop vem dos centros urbanos realmente, só que na questão mais vinculada à periferia, a um território e a uma renda mesmo. O Hip Hop surge a princípio como uma música tecnicamente mais viável de ser produzida poe este público, bem como os próprios recursos, o grafite, que são feitos nos muros da cidade, a dança que é uma manifestação livre, com o teu corpo sendo uma ferramenta”, afirma Wag.

Com relação ao Brasil, o movimento Hip Hop foi essencial para contar a história do povo negro e ampliar este conhecimento. “Se não fosse o Hip Hop, sobretudo o Rap, na parte discursiva e escrita, salvo as pessoas que estavam vinculadas à Academia e alguns artistas, nós não teríamos a história do povo negro brasileiro contemporânea contada por esses agentes. A história dos marginalizados e excluídos não seria contada. Se você pega esse disco dos Racionais MC`s, que não começa com ele, a gente tem o DMN, DJ Hum, outros grupos e mulheres inclusives, Sharylaine e tal, sem eles a gente não teria esta história contada. Este disco do Racionais de 1998 é extremamente relevante, hoje ele cai em processos seletivos, vestibulares, sendo um baita documento”, explica.

Segundo Wag, o Hip Hop concede um senso de unidade e reconhecimento como produtores e agentes de uma luta legítima. “É uma luta legítima contra uma estrutura que é violenta para este público especial que é o povo negro periférico. Se não fosse o Hip Hop teríamos esta história apagada, não haveria relato algum. Minha experiência pessoal agora é que esta é a minha enciclopédia que está nas letras de Rap, de compreender que o descobrimento do Brasil não foi daquele jeito, que o país foi invadido, que a Princesa Isabel não foi uma pessoa que acordou em um ótimo dia e resolver ser boa com todo mundo. A partir daí a gente começa a se interessar pela Sociologia e por coisas mais complexas que subsidiam esta consciência popular, procurando mais ferramentas na História”, ressalta, destacando que o Hip Hop não é só estético e cultural, é político, abordando economia, renda, resistência e ascensão social e política.

“Os frutos da luta do Hip Hop estão se colhendo agora. Nem por isso, com todo este trabalho de conscientização e luta progressista feito, isso não impede de vermos lutas perdidas, vendo dentro das periferias debates ganhando força de que é ‘mimimi’, meritocracia e outras coisas. A gente ainda precisa fazer muito trabalho de consciência de classe, étnico-racial e território. O Hip Hop tem muito mais a contribuir”, ressalta o líder cultural.

Paranaguá e seu cenário do Hip Hop

Wag explica que seu trabalho como rapper de Paranaguá e do litoral buscou através do espaço comercial nos últimos anos divulgar o Rap como uma música que está na noite, disputando espaços e formando público. “O Hip Hop hoje em Paranaguá acontece principalmente na rua. Temos as batalhas de rima, que não se resumem apenas a duelos de MC´s, mas eles incorporaram muitos elementos como performance de dança, dependendo da oportunidade consegue ter algo artístico como poesia, com o rapper cantando a música que compôs, o pessoal está tentando realizar eventos com o DJ junto, dependendo também conseguimos colocar o grafite, sempre com autorização”, ressalta.

“Uma das coisas mais interessantes em Paranaguá é que o Hip Hop é cultura de rua mesmo no sentido estrito, ele vem acontecendo nas ruas. Eu mesmo, durante o processo de pandemia, muito atento a isso, tinha preocupações de que a gente voltando se perdesse o vínculo com as ruas e os jovens, bem como no lazer, e outra preocupação era a repressão”, afirma Wag. “Mas em Paranaguá o Hip Hop é um ponto pacífico com a gestão atual assim, compreendendo o movimento e o reconhecendo, quando as pessoas vem uma batalha de rima e um ajuntamento de pessoas duelando, a população da cidade têm sido muito simpática com o que está acontecendo, isso para nós é um avanço. Tudo que não fosse isso seria realmente preconceito, racismo, sabe? Por que outras manifestações culturais podem ocorrer na rua e o Hip Hop não? Porque ele é feito por jovens e negros, muitos deles a margem da cidade? Então não, em Paranaguá é um ponto pacífico e eu, como alguém mais velho, fico muito feliz em ver as batalhas acontecendo”, finaliza. 

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Leonardo Quintana Bernardi

Jornalista graduado pela PUC-PR com atuação desde 2012 no jornalismo impresso, online e em audiovisual, bem como em assessoria de comunicação. Já trabalhou em órgãos públicos, jornais locais, freelances em veículos de alcance nacional e desempenha suas funções na Folha do Litoral News desde 2017. Defensor do jornalismo como meio de transformação social.