Embora tomando todos os cuidados para evitar a infecção pelo novo Coronavírus, Ivo Marcos Dranka Júnior, de 53 anos, foi um dos 13 mil pacientes que tiveram a Covid-19 em situação grave e precisou de internamento por mais de 30 dias.
Quando percebeu que estava com sintomas gripais, Ivo Marcos Dranka Júnior, 53, não imaginava o que enfrentaria. Após a coleta de amostra para a realização do exame RT-PCR, por precaução do médico, o aposentado da Copel, retornou para casa. Dois dias depois, ainda sentindo que estava resfriado, foi novamente ao hospital e de lá só saiu após 32 dias, 25 quilos a menos, sem força e com um tubo de oxigenação auxiliar para levar para casa.
“Fui para o hospital achando que retornaria para casa e seguiria a vida. Mas me mantiveram internado porque a oxigenação estava baixa. Dois dias depois estava na UTI, intubado”, relata.
O copeliano é uma pessoa ativa e que pratica exercícios físicos na academia, além de jogar tênis duas vezes na semana. “Sou totalmente saudável, não tenho nenhuma doença preexistente, comorbidade alguma. Talvez tenha sido por isso que eu tenha conseguido sobreviver”.
DOENÇA
“Essa doença é uma grande loteria. A minha namorada também desenvolveu a Covid-19 e teve somente três dias de febre e mais nada, outras pessoas sentem somente dores no corpo.”
Durante o período de internamento, Ivo chegou a ter 80% dos pulmões comprometidos, foi colocado em posição de prona, ficou intubado por 14 dias e sofreu também pelo isolamento da família e amigos.
“É uma situação que eu não desejo para ninguém. Na UTI, embora estivesse sedado, a minha cabeça não parou de funcionar em nenhum momento. Eu ouvia tudo o que falavam ao meu redor e comigo. Eu não tinha a consciência do meu corpo, mas o que eu percebia é que eles (os profissionais de saúde) estavam brigando pela minha vida e eu não estava reagindo. Mesmo com máquina, com apoio para respiração, eu não conseguia. A dificuldade de respirar aumentava cada vez mais. Achei que não passaria por essa.”
“Para as pessoas que estão ao seu redor, também é muito difícil. Porque elas não podem te ver, não sabem o tempo inteiro de você, não podem ficar junto porque é necessário o isolamento. Então, mesmo que a equipe médica seja fantástica e passe diariamente informações, o familiar sofre pela ausência porque o internado não pode ter nenhum tipo de contato.”
Reabilitação
“Agora no período em que deixei o hospital e retornei para casa o mais difícil é a reabilitação. A respiração, falta de força. Para ter uma ideia, eu não conseguia apertar o desodorante para sair o jato, de tão enfraquecido que estava. E para uma pessoa que era saudável, praticante de esporte e ativo, eu tenho que ter uma consciência bem grande para saber que o processo de retomada é longo, que vai demorar alguns meses para que eu possa fazer alguma atividade física
Após deixar o hospital, além das terapias que faz na própria residência, segue com acompanhamento de um pneumologista. Consultou nos últimos dias um cirurgião-geral para preparar a retirada da traqueostomia e também um otorrinolaringologista. Antes da doença, a rotina médica era somente anual com checkups preventivos e acompanhamento do colesterol, regulado com medicamento.
“Estou tomando anticoagulante, corticoide, fazendo reposição de ferro em função de uma anemia, vitamina D, zinco, potássio, além de um para proteger o estômago em função do corticoide! Um coquetel. Antes da Covid-19 não tomava medicamento nenhum, tudo isto é novidade pós Covid-19!”, comentou Dranka.
Alerta
“As pessoas não podem arriscar. Como vão saber como o organismo vai reagir? Eu sou uma pessoa que tinha tudo para que a doença fosse leve, insignificante.”
“Não só você não sabe o que vai acontecer com você doente, como não sabe também o que vai acontecer com alguma pessoa que você pode transmitir a doença mesmo sendo assintomático e ficar bem debilitado.”
“Essa doença é muito perigosa, muito traiçoeira. As pessoas estão relaxando, pensando que por não conhecer ninguém que ficou de verdade ruim, isso está longe. Mas não. Recebi muitas ligações e mensagens de pessoas falando que eu fui o primeiro conhecido mais próximo que ficou em estado grave e por isso entenderam a necessidade de cuidar.”