Na última quinta-feira, 23, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) emitiu o novo Boletim do Observatório Covid-19 Fiocruz, onde reforçou a necessidade de transparência e divulgação de dados oficiais sobre a pandemia no Brasil, afirmando que a ausência de informações impede a adoção de medidas adequadas para controle da doença com base em evidências científicas. Outro apontamento feito pela Fiocruz foi a defesa da vacinação de crianças brasileiras contra o Coronavírus, alertando que foram registrados no Brasil 301 óbitos por Covid-19 na faixa etária de 5 a 11 anos.
“A análise ressalta que o país termina o ano com mais de 600 mil óbitos e 22 milhões de casos registrados, em um cenário de incertezas para a tomada de decisões com o objetivo de controlar a Covid-19. Diante do chamado ‘apagão de dados’, que deixou a ciência e a saúde ‘às escuras’, os pesquisadores do Observatório, responsáveis pelo Boletim, alertam que, na ausência de informações, as imprecisões são exponencialmente ampliadas, impedindo a adoção de medidas adequadas, baseadas em evidências”, evidencia a Fiocruz.
“A informação é fundamental para a soberania nacional e crucial para apontar diretrizes para combate da Covid-19”, afirmam os cientistas no boletim. O informe ainda alerta sobre o surgimento de novas variantes da doença e preocupação com a propagação da Ômicron. “Os pesquisadores alertam que, combinada com a maior circulação de pessoas nas férias e festas de fim de ano, o crescimento de casos, internações e óbitos podem se potencializar, culminando em crises e colapso do sistema de saúde, a exemplo do vivenciado no final de 2020, quando a variante Gama foi identificada”, informa, pedindo mais segurança na divulgação de dados oficiais sobre a pandemia “que constituem um bem público e um patrimônio da sociedade brasileira”.
Outro ponto destacado pela Fiocruz é que a pandemia não deve ser politizada, ou seja, deve ser feita de forma técnica e científica. “Na visão dos cientistas, esse processo tem combinado a desvalorização de medidas preventivas fundamentais com a propagação organizada de fake news e a criação de um clima de descrédito e desconfiança em relação às vacinas”, alerta.
Vacinação de crianças
Outro ponto de destaque foi a defesa da vacinação contra a Covid-19 de crianças, alertando quanto aos 301 óbitos pela doença na faixa etária de 5 a 11 anos. “Cerca de 32% da população mundial é de indivíduos com menos de 19 anos. Aproximadamente, essa mesma proporção é observada no Brasil. Trata-se de um contingente essencial para que se consiga controlar a transmissão da doença e que precisa ser protegido”, informa.
“Embora o quadro da Covid-19 para as crianças seja de sintomas mais leves e com risco mais baixo que em outras faixas etárias, como a acima de 60 anos, não se deve desconsiderar a ocorrência de quadros mais graves, como a Síndrome Inflamatória Multissistêmica em Crianças (MIS-C) e outras manifestações da Covid longa, condição já evidenciada nesse grupo etário”, explica o boletim, frisando que a imunização nesta faixa etária é muito importante para controle da cadeia de transmissão, com redução da circulação do vírus e do surgimento de casos graves “o que leva a menor chance de surgimento de novas variantes”, acrescenta.
“Os estudos recentes mostram evidências robustas de segurança da vacina para crianças. As vacinas contra a Covid-19 também estão sendo monitoradas quanto à segurança. No Brasil, tanto a Anvisa como o Programa Nacional de Imunização acompanham e investigam as notificações de eventos adversos e informam que eventos graves são raros. O fato é que são bem menos frequentes do que os casos de complicações da Covid-19 e podem ser clinicamente tratados de modo adequado”, destaca o boletim.
A fundação ainda exemplifica que nos Estados Unidos, onde mais de cinco milhões de crianças de 5 a 11 anos receberam a primeira dose do imunizante Pfizer contra a Covid-19 e mais de dois milhões têm o esquema vacinal completo, “97% dos eventos não foram graves. Todas estas evidências apontam que os benefícios de tomar a vacina superam o risco de Covid-19 em quadro grave e possíveis complicações futuras”.
Número de casos e mortes no Brasil
Segundo a Fiocruz, falhas nos sistemas de informação apresentaram problemas na coleta, disponibilização e digitalização de casos e mortes por Coronavírus, algo “que prejudica o acompanhamento da pandemia e a avaliação dos possíveis impactos nas medidas de flexibilização”.Entre outubro e novembro, foram registrados uma média de 10.200 casos e 260 óbitos por dia. “No entanto, nas duas últimas Semanas Epidemiológicas (SE) 49 e 50 (5 a 18 de dezembro), se observou uma maior oscilação no número de casos e de óbitos, o que se deve em parte a problemas no fluxo de dados por toda a rede de atenção e vigilância do SUS. A queda observada do número de casos registrados (5 % ao dia) é incompatível com a dinâmica de transmissão da doença. Isso se pode confirmar pelo aumento abrupto da taxa de letalidade, que saltou de 2,5% para 4,2%, o que indica uma queda no número de casos, não acompanhada pelo número de óbitos, o que é resultado da subnotificação de grande parte dos casos nas últimas semanas”, explica.
“Dados obtidos em 20 de dezembro de 2022 mostram taxas predominantemente baixas e sugerem o gerenciamento de leitos de disponíveis, com a manutenção da tendência da retirada paulatina em alguns estados (Acre, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Goiás) e reabertura de leitos em Rondônia e Pará, que, respectivamente, saíram da zona de alerta intermediário para fora da zona de alerta, e da zona de alerta crítico para a zona de alerta intermediário. Além do Pará, somente o Distrito Federal aparece esta semana na zona de alerta intermediário”, ressalta a assessoria.
SRAG
Com relação aoscasos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), a Fiocruz considerou os dados obtidos somente até a SE 48. “A partir desse período, os dados da base Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe), do Ministério da Saúde, passaram a ficar indisponíveis, impossibilitando a realização do estudo e do Boletim InfoGripe da Fiocruz”, detalha.
“Em outubro, verificou-se uma desaceleração da taxa de incidência de SRAG, que pode estar ligada a várias atividades presenciais, como escolas e eventos, entre outros. Até a o final de novembro e início de dezembro, este movimento levou a uma ligeira tendência de aumento, com taxas de incidência muito menores que no primeiro semestre, mas ainda altas – entre dois a cinco casos por 100 mil habitantes”, finaliza a Fiocruz.
Com informações da Fiocruz