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Coronavírus

90% dos hospitalizados pela Covid-19 não completaram esquema vacinal

Segundo estudiosos da UFPR, circulação menor do vírus é principal vantagem ao frequentar ambientes com vacinados

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Na segunda-feira, 24, a Universidade Federal do Paraná (UFPR) divulgou uma série de respostas a questionamentos em torno da vacinação contra a Covid-19, sua importância para salvar vidas e evitar hospitalizações, assim como a redução da carga viral em cada pessoa que completa o esquema vacinal. No Brasil, cerca de 70% das pessoas estão imunizadas com as duas doses, algo essencial na superação da pandemia e na redução de mortes, visto que, segundo dados repassados pela UFPR, 90% dos pacientes que desenvolvem a doença na forma mais grave ou que precisam ser hospitalizadas são justamente as que não tomaram a vacina ou não completaram o esquema vacinal.

Outro ponto destacado pela universidade é a questão das novas variantes em circulação pelo mundo, entre elas principalmente a Ômicron, onde muitas pessoas questionam o seguinte item: “Se é possível contaminar e ser contaminado mesmo após a vacina, por que alguns lugares exigem comprovação do esquema vacinal?”. Para o professor do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular e presidente da Comissão de Acompanhamento e Controle de Propagação do Novo Coronavírus na Universidade Federal do Paraná (UFPR), Emanuel Maltempi de Souza, esse questionamento pode ser respondido com o fato de que o objetivo de exigir a vacinação é sanitário. “O intuito é reduzir a circulação do vírus, especialmente nos locais por onde transitam muitas pessoas”, acrescenta.

De acordo com o estudioso, apesar da Ômicron contaminar com a Covid-19 muitas pessoas, mesmo as vacinadas, a chance delas transmitirem o vírus a outros indivíduos é muito menor do que não completou a imunização, visto que quem se imunizou completamente apresenta carga viral menor e por menos tempo do que quem não quis tomar a vacina ou as duas doses dela. “Temos esses dados para diversas variantes, inclusive para a Delta, que é uma cepa de transmissibilidade muito alta, assim como a Ômicron. Quem tem menos vírus, transmite menos. Quem está infectado e transmite por menos tempo, também vai transmitir menos”, detalha o professor.

Segundo a chefe da Unidade de Infectologia do Hospital de Clínicas da UFPR e coordenadora do estudo da vacina CoronaVac no Paraná, Sonia Mara Raboni, a carga viral menor e com menos tempo de eliminação do vírus são itens que afetam a transmissibilidade. “Se as pessoas têm uma quantidade menor de vírus sendo eliminada e por um tempo menor, aliando-se às medidas restritivas que já são recomendadas – como máscara e distanciamento social -, há diminuição da possibilidade de infecção de outras pessoas”, informa.

Algo que comprova isso é o cenário do Brasil em 2021 com relação à pandemia. “Até junho, mês em que o país bateu o recorde de número de casos de Covid-19 registrados em menos de 24 horas – chegando a passar de cem mil notificações -, o aumento de infectados era constante. A partir de julho, quando a vacinação foi bastante intensificada no Brasil, houve uma estabilização, seguida de um forte declínio nos registros da doença”, explica a assessoria da UFPR. “A partir de agosto ficou muito clara a queda progressiva do número de casos”, explica Emanuel Maltempi. 

Ômicron e importância da vacina

Segundo o estudioso da UFPR, a variante Ômicron, que chegou ao Brasil em 2022, produz uma carga viral alta nas vias aéreas superiores, ou seja, garganta e nariz. “Esse pode ser um dos motivos que a tornam uma das cepas de maior propagação. Contudo, mesmo com o altíssimo número de casos que a Ômicron tem causado, é possível observar um número relativamente baixo de internação”, informa a assessoria

“Isso indica que, mesmo que a variante escape parcialmente da vacinação, a estratégia ainda faz muita diferença. Se está afetando a internação, podemos compreender que essas pessoas estão ficando doentes com menor carga viral e por menos tempo, o que influencia na transmissão”, detalha o cientista da UFPR.

“Entre os dias 15 e 21 de janeiro o Estado registrou um total de 104.134 diagnósticos de Covid-19, o que representa um aumento de 254,87% na média móvel de novos casos nas últimas duas semanas. A região teve a segunda maior taxa de incidência do Brasil, compreendendo 7,49% dos registros de todo o país. Apesar da elevada incidência de casos, com relação aos óbitos, a taxa de letalidade da doença caiu expressivamente, mantendo-se em 2% no Paraná”, afirma a assessoria da UFPR, com dados da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa).

O número de mortes por Covid-19 neste ano é bem diferente do observado em 2022. Só em março de 2021, “a doença matou em média uma pessoa a cada 40 minutos”, explica. “Ao longo daquele mês, um dos piores desde o início da pandemia, foram registrados 4.186 mortes e 137.095 novos diagnósticos. No primeiro semestre do ano passado, o Paraná teve 20,5 mil mortes. Enquanto, no segundo, o número caiu para sete mil, indicando uma quantidade 65% menor de falecimentos, acompanhando o avanço da vacinação pelo estado”, acrescenta a UFPR.

Média móvel de mortes muito menor 

“Atualmente, temos praticamente o mesmo número de casos ativos que tínhamos em março do ano passado, quando a pandemia fez um número elevado de vítimas. Porém, a média móvel de mortes é mais de dez vezes menor que a daquele período. Isso mostra o impacto da vacina na população e, quanto mais pessoas forem vacinadas, maior será esse impacto”, explica Emanuel Maltempi.

Circulação entre vacinados e controle da pandemia 

De acordo com a chefe da Unidade de Infectologia do Hospital de Clínicas da UFPR, Sonia Raboni, o ideal seria um programa de vacinação mundial em massa contra a Covid-19, algo que já estaria ocasionando o fim da pandemia atualmente. “Nós ainda estamos sofrendo consequências dessa pandemia por conta da limitação de vacinação em muitos países, que sabemos que têm problemas até mais sérios que o Brasil”, explica.

“A grande vantagem de circular em ambientes frequentados apenas por pessoas vacinadas é justamente a menor transmissibilidade do vírus”, explica Souza. O pesquisador da UFPR afirma que  “se a máscara reduz a transmissão em mais de 70% – fazendo uma média que leva em conta os níveis de proteção de diversos tipos do artefato – somada à redução da propagação pelos vacinados, ganha-se em menor transmissibilidade de um modo geral”, complementa.

“Cada pouquinho que adicionamos nesse contexto, proporciona uma menor probabilidade de uma pessoa se contaminar com a doença. Com menos chances de contaminação, menor a circulação do vírus e, quanto menor for a circulação do vírus, menor será a taxa de contágio”, relata o professor. Para o presidente da Comissão da UFPR que aborda a pandemia, uma taxa de transmissão que seja menor que um, a longo prazo, poderá ocasionar o desaparecimento da doença em questão. 

Taxa de transmissão

A taxa de transmissão da Covid-19 no Brasil atualmente é a maior em um ano, sendo de 1,83, segundo o que aponta a plataforma de monitoramento Info Tracker – desenvolvida pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e pela Universidade de São Paulo (USP). “Isso significa que cada 100 infectados transmitem o vírus para outras 183 pessoas”, detalha. “Esse índice é o mesmo vigente para o Estado do Paraná, em 20 de janeiro, segundo a plataforma Loft Science. O índice é o terceiro maior do País”, completa a UFPR.

“Com esse nível de transmissão, precisamos associar todas as formas de evitar o contágio: aumentar o distanciamento entre as pessoas, usar máscara sempre e continuar com a vacinação. Não dá pra abrir mão de nenhuma dessas estratégias”, alerta Maltempi de Souza. “Nessa situação de propagação da doença, sem as vacinas só teríamos uma opção: fechar tudo. Com a vacinação, nós podemos manter as nossas atividades e ainda assim conviver com esse vírus”, detalha.

Máscara e vacina

De acordo com a UFPR, “a vacina e a máscara são as principais aliadas nessa luta, pois protegem individualmente e toda a comunidade”, completa. Para Souza, as máscaras devem ser ainda melhores e com uso mais constante. “O ideal, nesse momento, é usar a PFF2 ou N95”, ressalta, frisando ainda que a continuidade da vacinação é essencial para a vida de todos, ou seja, para o coletivo e o individual, sendo que não se pode justificar a recusa em se imunizar contra a Covid-19. 

“A vacina protege a comunidade. Se uma pessoa quer participar da comunidade e frequentar ambientes com outras pessoas, ela deve pensar na saúde de todos ao seu redor e precisa se vacinar”. Além disso, ela reafirma a credibilidade da ciência. “A ciência já está tão à frente que não se discute mais benefício de vacina, O que ela nos mostrou até hoje é que vacinas fazem a diferença no controle da pandemia”, finaliza Emanuel Maltempi de Souza. 

Com informações da UFPR

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