Não é de se espantar que muitos moradores em Paranaguá e outros municípios do Estado estejam assustados com a notícia recebida recentemente. A Campanha de Vacinação contra a Dengue, que encerrou a terceira fase no mês passado, alcançou pouco mais de 50% das pessoas entre 9 e 44 anos. Mas, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgou na quarta-feira, 29, que a vacina contra a dengue, a Dengvaxia, só deveria ser tomada por pessoas que já apresentaram a doença.
Ou seja, grande parcela da população ficou preocupada com o comunicado, que afirma ainda que a doença pode ser potencializada naqueles que tomaram a vacina, mas nunca foram notificados com dengue. O laboratório Sanofi-Aventis e a Secretaria de Estado da Saúde (SESA) também se pronunciaram sobre a polêmica.
ANVISA
Em nota, a Anvisa informou que o laboratório Sanofi-Aventis apresentou informações preliminares e ainda não conclusivas, que apontam que indivíduos podem desenvolver formas mais graves da doença, quando usam a vacina sem ter tido contato prévio com o vírus da dengue.
“A vacina em si não desencadearia um quadro grave da doença nem induzia ao aparecimento da doença de forma espontânea. Para isso, é necessário o contato posterior com o vírus da dengue por meio da picada de um mosquito infectado”, divulgou a Anvisa.
O diretor presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Jarbas Barbosa, disse que a pessoa pode ter um risco aumentado, mas ainda não está estatisticamente comprovado se o risco existe ou não, se tratando agora de uma medida preventiva. “A dengue se dissemina com muita velocidade e mesmo a pessoa que não tem a doença manifestada, alguns estudos mostram que quando há epidemia, há uma porcentagem importante da população em contato com o vírus, por isso neste caso não há nenhuma preocupação maior, os dados que temos têm apresentado isso”, declarou.
Doses deveriam ter sido tomadas apenas por pessoas que já tiveram a doença
ATUALIZAÇÃO DA BULA
Desta forma, a bula da vacina será atualizada e a recomendação é para que pessoas que nunca tiveram contato com o vírus não tomem as doses. A Dengvaxia foi aprovada no Brasil em 28 de dezembro de 2015. A vacina não é oferecida pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI). O Estado do Paraná foi o único das Américas a disponibilizar a imunização para 30 municípios onde foram constatados casos graves da doença.
SECRETARIA DE SAÚDE
A Secretaria de Estado da Saúde (SESA) se pronunciou em nota ontem e esclareceu que o comunicado da Anvisa não irá interferir na estratégia adotada no Paraná. A SESA ressalta que a decisão do Governo do Paraná em adotar a vacina foi baseada em dados epidemiológicos consistentes, seguindo recomendações da Organização Mundial da Saúde, sociedades acadêmicas e a liberação da Anvisa. “Assim, a campanha foi direcionada somente aos 30 municípios endêmicos e epidêmicos. São cidades que concentraram 80% dos casos registrados no Paraná, 93% dos casos graves e 82% das mortes por dengue do Estado, que enfrentaram epidemias consecutivas e registraram grande magnitude de casos”, enfatizou.
A SESA disse ainda que as evidências científicas demonstram claramente que a vacina não causa dengue e todos os casos identificados de manifestações adversas tiveram recuperação total, com tratamento de rotina.
“O Paraná vacinou 300 mil pessoas contra a dengue em três etapas da campanha: agosto/setembro de 2016, março/abril de 2017 e setembro/outubro de 2017. A Secretaria de Estado da Saúde monitora os vacinados nos 30 municípios que receberam a campanha e não registrou nenhuma reação adversa grave. Somente foram notificadas reações locais leves”, reiterou a SESA.
Estudos sobre a efetividade da vacina são realizados nos 30 municípios que receberam a campanha. Além de técnicos da Secretaria de Estado da Saúde, participam dos estudos profissionais da Universidade Federal do Paraná (UFPR), do Hospital Pequeno Príncipe de Curitiba, representantes do Ministério da Saúde, Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), Instituto Sabin e pesquisadores da Santa Casa de São Paulo e Universidade de São Paulo (USP).
A superintendente de Vigilância em Saúde do Estado do Paraná, Júlia Cordellini, acrescentou que não foi observado nenhum caso grave de dengue após a campanha. A profissional reforçou o benefício que a vacina já trouxe a Paranaguá.
“A vacina faz a prevenção de casos graves e óbitos, foi liberada e nós do Governo do Paraná seguimos exatamente todas as recomendações da Anvisa, da Organização Mundial da Saúde e da própria bula”, garantiu Júlia.
O QUE DIZ O LABORATÓRIO
A Sanofi-Aventis, laboratório francês que fabrica a Dengvaxia, destacou que os resultados adicionais de um estudo de acompanhamento da eficácia mostrou que há desempenhos diferentes entre aqueles que já tiveram contato com o vírus da dengue e aqueles que não tiveram. A companhia já apresentou para a Anvisa a proposta de atualização de bula com a nova informação.
“As pessoas podem ser infectadas pela dengue até quatro vezes durante a vida”, explicou Sheila Homsani, diretora médica da Sanofi Brasil. “Algumas infecções resultam em doença sintomática, mas a maioria dos casos é silenciosa e assintomática, o que significa que a prevalência da dengue é sub-reportada. A forma severa da doença após a infecção por dengue é rara, mas pode ocorrer depois de qualquer picada de um mosquito que carregue o vírus. Entretanto, a dengue é uma doença complexa e as pessoas têm maior probabilidade de contrair a forma grave após uma infecção secundária de um subtipo diferente do vírus”, ressaltou em nota de divulgação à imprensa a Sanofi.
O laboratório lembrou ainda que dados de vigilância de alguns países endêmicos indicam que entre 70 e 90% das pessoas serão expostas ao vírus da dengue pelo menos uma vez até chegarem à adolescência.
“Há muitos fatores que levam à infecção severa por dengue. Entretanto, o maior risco de desenvolver a forma severa foi observado em pessoas infectadas uma segunda vez por um diferente tipo de vírus”, ressaltou.
A Dengvaxia demostrou prevenção de 93% de casos severos e redução de 80% de hospitalizações pela doença durante os 25 meses de estudos clínicos de larga escala conduzidos em 10 países da América Latina e Ásia, onde a dengue é muito difundida.
MINISTÉRIO DA SAÚDE
O Ministério da Saúde disse que para uma vacina ou outro medicamento ser integrado ao Sistema Único de Saúde (SUS) precisa passar pela análise da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS, levando em conta aspectos como eficácia, segurança e custo efetividade do produto, aliás dos benefícios da oferta para a população.
“Cabe esclarecer que Estados e municípios possuem autonomia para avaliar e adquirir qualquer vacina devidamente registrada na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e realizar a vacinação da população, de acordo com as necessidades locais”, diz a assessoria de imprensa do Ministério.
Outra vacina está sendo analisada pelo Ministério da Saúde desenvolvida pelo Instituto Butantan. A pesquisa já está na terceira e última fase e irá proteger contra os quatro vírus da dengue com uma única dose, além de poder ser aplicada em pessoas de todas as idades, inclusive em crianças e idosos, consideradas as populações mais vulneráveis.