Médico explica sintomas da doença, tipos de bactérias, diagnóstico, tratamento e aplicação das vacinas
No dia 13 de julho, uma criança com cerca de dois anos veio a óbito por suspeita de meningite bacteriana, em Paranaguá, algo que acendeu um alerta na saúde pública do município, sendo que a Secretaria Municipal de Saúde e Prevenção criou uma comissão para investigar a morte do menino. A confirmação de o óbito ter sido decorrente da meningite ainda será feita oficialmente pela Secretaria de Estado da Saúde (SESA), no entanto, desde já a sociedade não só se consternou pela morte da criança, como também está preocupada com relação ao aumento de casos da doença, algo que pode ser evitado com uma série de cuidados, entre eles a vacina contra a meningite.
O médico João Felipe Zattar Aurichio ressalta que essa doença é algo sério e gera uma série de dúvidas entre profissionais médicos e pacientes pelas dificuldades no diagnóstico e sobre situações em torno da vacina. De acordo com ele, a criança que morreu em Paranaguá é um fato triste que ainda não possui uma confirmação oficial de que tipo da doença teria sido a causa do óbito. “A meningite é a inflamação das meninges. O nosso cérebro tem uma capa que o recobre e a coluna vertebral também e o nome dela é meninge. Ela é muito importante por dar proteção ao cérebro e ajuda a nutrir também esse importante órgão humano. Então dá para notar que meningite não é uma coisa para se brincar”, explica.
“Esta infecção é causada por vários agentes externos, entre eles bactérias, vírus, fungos, protozoários, entre outros organismos”, destaca Zattar. De acordo com o médico, a meningite bacteriana é a com maior incidência no Brasil e no mundo todo e o tipo que mais mata. “Crianças e adultos hígidos, com nenhum tipo de doença e sem problema nenhum, de repente, adquirem a meningite e morrem em pouco tempo”, alerta.
MENINGITE E SUBTIPOS DE BACTÉRIA
Segundo o médico, a meningite é contraída de humano para humano, principalmente através das vias aéreas, entre elas nariz e boca, com saliva e secreção nasal. “É por lá que você vai transmitir a meningite e que você vai pegar. Através disso você pode pensar em como se prevenir da meningite, que é através da proteção da boca e do nariz, não espirrando nos outros, sempre higienizando as mãos”, destaca Zattar. “Vinte e cinco por cento das pessoas que possuem a bactéria neisseria meningitidis no nariz e na boca não apresentam sintoma nem meningite. A explicação é que a pessoa pode ter uma imunidade boa, ou a bactéria presente não ser tão virulenta para causar a meningite”, detalha.
IMUNIDADE MAIS BAIXA
“A pessoa para contrair a meningite deve ter uma imunidade mais baixa e também tem que contrair uma bactéria mais virulenta e forte. Às vezes, esta bactéria é tão virulenta que não dá nem tempo de fazer a clínica da meningite, ela já vai direto para a meningococcemia, que é o que pode ter acontecido com a criança que veio a óbito no último fim de semana, ela pode não ter tido nem tempo de clínica, ela simplesmente, em questão de horas, ter evoluído para febre e óbito”, explica Zattar.
De acordo com o profissional, muitas vezes o paciente contrai a bactéria e pode ser que demore um período de incubação para ter os sintomas da doença. “Na meningite bacteriana este tempo pode durar de dois a 10 dias. Isso é muito importante, porque a partir de que você tem sintoma, todas as pessoas que entraram em contato com você nos últimos dois dias podem ter contraído a bactéria. Crianças e idosos, principalmente, podem ter um período de incubação mais prologando, durando até 15 dias, por isso é importante o cuidado, pois ela é um infecção com dois picos de incidência de acordo com a idade, abrangendo crianças abaixo de cinco anos e em adultos/adolescentes entre 15 e 25 anos. É claro que a meningite é algo muito mais grave se atingir uma criança, principalmente abaixo de dois anos, que é um grupo de risco altíssimo para se ter a doença, é por isso que insistimos que as crianças devem se vacinar contra a meningite”, explica Zattar. Segundo ele, idosos, bem como pacientes com problemas cardíacos, respiratórios, renais, diabéticos descompensados, também são grupos de risco para a meningite.
SINTOMAS
O profissional médico explica que o principal sintoma isolado da meningite é a febre. “A febre, às vezes, é um sintoma isolado por até dois dias, com o paciente não tendo nenhum outro tipo de sintoma”, detalha. Posteriormente à febre, os sintomas são dor de cabeça, fotofobia (aversão à luz), aversão ao som e vômito. “É importante destacar que se o paciente sente náuseas e vomita é um quadro normal da meningite, mas se a pessoa, por exemplo, está falando e vem um vômito em jato é necessário cuidado, pois, às vezes, o paciente está em um quadro mais grave, com hipertensão intercraniana”, explica, destacando também a rigidez na nuca, que pode ocorrer em alguns casos. “Grande parte das pessoas que contraem a meningite não apresenta rigidez na nuca. Chamamos a meningite de sintoma tardio, pois os sintomas muitas vezes só se apresentam quando o estágio da doença está avançado”, destaca.
“Devemos prestar atenção nas manchas avermelhadas pelo corpo, que podem se tornar petéquias, que são pontinhos vermelhos que são sangramentos na pele”, explica. “Quando o paciente está com meningite e acontece isso, o alarme tem que piscar e imediatamente esta pessoa deve ser levada a um médico, pois em horas ela pode falecer, com meningococcemia, que é quando a bactéria não está mais na meninge, ela já passou para o sangue e está lesando os vasos sanguíneos e os destruindo, tendo hemorragia em tudo quanto é parte do corpo”, explica, ressaltando que o paciente pode morrer pelo choque hipovolêmico pelo corpo não ter mais volume e tudo ir para fora do vaso sanguíneo. “É como se ele tivesse perdendo sangue no próprio corpo”, explica. “Essas manchas às vezes ficam escondidas dentro da boca ou nos olhos”, detalha.
Crianças abaixo de cinco anos são o principal grupo de risco da meningite, com pais e responsáveis devendo estar atentos à vacinação e cuidados de higiene (Foto: Divulgação)
DIAGNÓSTICO
Na suspeita de meningite o paciente já é internado pelo médico, inclusive para isolá-lo das outras pessoas. “Após isso são feitos vários exames laboratoriais e de sangue, e aí o médico pode pedir a coleta do líquor, que é o líquido da espinha, e ali é analisado se existem bactérias e se possui um aspecto infeccioso, verificando se há meningite. O profissional pode também solicitar se há uma cultura do sangue para saber se a bactéria está no sangue, porém isto é uma coisa que pode demorar mais tempo. Normalmente, na suspeita da meningite, a gente não vai esperar o laboratório vir e falar que é meningite, pois é algo que pode demorar alguns dias, portanto o paciente já é isolado, os exames são coletados e já é iniciado o antibiótico”, explica. Segundo Zattar, se o paciente está em um quadro gravíssimo, imediatamente é encaminhado para a UTI e é feita a medicação antibiótica, tratando logo antes dos exames. “É um protocolo de diagnóstico da meningite bacteriana”, explica. O médico destaca que pode ser feita também uma solicitação de tomografia de crânio, para detectar se há aumento da pressão, com necessidade de cuidado para a punção lombar.
TRATAMENTO
O tratamento da meningite bacteriana é feito com antibiótico. “De 24 a 48 horas após iniciar esta medicação, o paciente não transmite mais a bactéria. Então a gente pode deixar o paciente em isolamento de um a dois dias e já chamar a família para visitar, enfim, ficar com ele. O tratamento dura de sete a dez dias, dependendo muito da condição clínica do paciente, mas a maioria deles nos primeiros dias já se livra de ficar em isolamento”, explica Zattar, destacando que ele é feito em internamento.
VACINA
O médico João Zattar afirma que existem várias vacinas que protegem contra a meningite. “Muita gente acha que apenas tomando a meningococo já está protegido da meningite, mas outras vacinas que nós tomamos também protegem contra a doença, por exemplo, a vacina pneumocócica que muita gente acha que é apenas contra a pneumonia, ela protege da bactéria Streptococcus pneumoniae que também pode causar meningite. Outra vacina, que é contra o Haemophilus influenzae e que é pentavalente, você também está protegendo seu filho contra a meningite por Haemophilus e não somente contra a gripe Influenza”, detalha.
“No caso das vacinas meningocócicas temos três tipos que é a meningocócica C conjugada, B e ACWY. A única vacina disponível na rede pública de saúde é a meningo C, escuto várias pessoas falarem que a mais grave é a meningite B, mas não é bem assim, pois a mais prevalente pela infecção causada pela bactéria neisseria meningitidis é a do tipo C que é a mais incidente e a que mais temos no nosso meio”, destaca, ressaltando que é este o motivo dela ser disponibilizada na rede pública. “Pelo Ministério da Saúde, ela deve ser feita em duas doses e dois reforços. A primeira dose deve ser feita aos três meses de idade, a segunda aos cinco meses e a primeira dose de reforço aos doze meses a quatro anos de idade. A segunda dose de reforço, completando quatro, deve ser feita dos 11 aos 14 anos”, explica. “Toda criança deve tomar esta vacina, ela só não irá tomar se tiver algum tipo de infecção na hora em que for tomar a vacina”, detalha.
Segundo o médico, a vacina meningo C entrou no calendário de vacinação em 2010. “Então, se você tem mais de 15 ou 20 anos de idade, você provavelmente não tomou esta vacina meningo C, pois ela só entrou no calendário de vacinação em 2010, a menos que seus pais tenham feito esta vacina para você na rede particular”, afirma Zattar. “O público-alvo, os grupos de risco, são as crianças, que são as mais afetadas pela meningite do tipo C que podem morrer. Adulto pode morrer, porém a chance é muito menor do que uma criança. As vacinas que temos na rede pública são para crianças de até dois anos, a preferência é delas, se o seu município vacinou todo mundo que deveria vacinar com esta idade, aí ela pode liberar esta vacina para outras idades”, explica.
“Todo mundo pode se vacinar, mas na rede pública, inicialmente só as crianças devem se vacinar, após isso a preferência é para adolescentes, idosos e depois os adultos”, ressalta João Zattar. No caso do município ter vacinado todas as pessoas prioritárias da vacina e abrir para pacientes adultos a disponibilização das doses, a orientação é que a pessoa tome duas doses em um intervalo de dois meses da meningo C, com dose de reforço sendo feita em doze meses. “A vacina meningo C protege os pacientes de quase 60% dos casos de meningite bacteriana”, afirma.
OUTRAS VACINAS
De acordo com João Zattar, a vacina meningo B protege contra a meningite causada pela bactéria neisseria meningitidis do tipo B, que é um tipo que mais causa a meningite. “Ela só é disponibilizada na rede privada, infelizmente não está no Programa Nacional de Imunização (PNI)”, frisa. “Essa vacina tem uma produção limitada, não tem para todo mundo, mesmo na rede privada, aqui em Paranaguá não há tantas vacinas, foram poucas e foram feitos vários pedidos em virtude do que aconteceu”, explica. “O esquema de dose da meningo B deve ser feito em duas doses e um reforço. A primeira dose é aos três meses, a segunda aos cinco meses e um reforço aos 12 a 15 meses de idade”, explica.
“A situação financeira de cada pessoa é diferente. Se você tem condição financeira de bancar esta vacina dê aos seus filhos, é mais uma proteção. É importante destacar cuidados com higiene, contato com outras crianças, entre outros, com boa alimentação, fazendo todas as outras vacinas”, detalha. O médico destaca que há outros esquemas vacinais para crianças com outras idades, algo que será estabelecido pelo profissional médico.
A vacina meningo ACWY é outra só disponível na rede privada de saúde, abrangendo proteção contra os tipos de bactéria A, C, W e Y, que são os maiores causadores da meningite. “O esquema vacinal é o mesmo da meningo C, porém, se você tomou a vacina meningo C na rede pública, você só complementa com as doses contra os tipos A, W e Y”, destaca. “Se o bebê tomou a ACWY não precisa dar a vacina meningo C da rede pública, pois ele já está protegido contra e meningo C”, destaca. “Se você quer dar a vacina ACWY e a vacina B para a criança, isso pode ser feito no mesmo momento ou aguardar 15 dias para dar a outra vacina”, destaca Zattar, disponibilizando o seu contato via WhatsApp pelo telefone (41) 99134-8913 para orientação e sanar dúvidas com relação ao esquema vacinal.