A pandemia da Covid-19 acabou causando períodos de isolamento e distanciamento de pessoas e atividades. Mas com o retorno às atividades presenciais, uma realidade para muitas pessoas que ficaram em casa na época mais crítica da pandemia, é que algumas delas têm manifestado o que se conhece como ansiedade social.
A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) destacou em uma publicação no final de 2021, o efeito da pandemia da Covid-19 sobre a saúde mental e o bem-estar das populações das Américas, bem como o impacto da interrupção de serviços em toda a região.
O documento publicado recentemente na revista The Lancet Regional Health – Américas, “Strengthening mental health responses to COVID-19 in the Americas: A health policy analysis and recommendations”, examina estudos e dados de países da região em um esforço para compreender melhor o impacto da pandemia na saúde mental da população.
Os dados analisados mostram que mais de quatro em cada 10 brasileiros tiveram problemas de ansiedade; os sintomas de depressão aumentaram cinco vezes no Peru; e a proporção de canadenses que relataram altos níveis de ansiedade quadruplicou como resultado da pandemia.
“A mensagem é clara: temos operado em modo de crise desde o início da pandemia”, afirmou Anselm Hennis, diretor de Doenças Não Transmissíveis e Saúde Mental da OPAS.
O documento também indica um aumento acentuado nos incidentes de violência doméstica durante a pandemia, citando estudos nacionais baseados em registros de linhas diretas, relatórios policiais e dados de prestadores de serviços, compondo taxas já altas de violência na região – três vezes a média mundial.
O documento também analisa as consequências para a saúde mental das pessoas que sofreram com o novo Coronavírus. “Os dados existentes sugerem que um terço das pessoas que sofreram com Covid-19 foram diagnosticadas com transtorno neurológico ou mental”, disse a principal autora do artigo da OPAS, Amy Tausch. “Esperamos que o aumento da carga de saúde mental seja um dos efeitos mais importantes da Covid-19 a longo prazo”, previu.
Em um momento em que cuidados e tratamento são mais necessários, a publicação aponta para interrupções contínuas em serviços essenciais para transtornos mentais, neurológicos e por uso de substâncias em mais da metade dos países da região.
“A falta de acesso a serviços de aconselhamento, a redução da disponibilidade de atendimento presencial e o fechamento de escolas têm limitado as formas pelas quais as pessoas podem receber suporte de saúde mental, deixando-as muitos isoladas, vulneráveis e em maior risco”, declarou Renato Oliveira, chefe da Unidade de Saúde Mental e Uso de Substâncias da OPAS.
Os autores pedem uma ação imediata para fortalecer os sistemas e serviços de saúde mental na região, com atenção especial à integração do apoio psicossocial em setores e ambientes como a atenção primária à saúde, educação, serviços sociais e sistemas. Para mitigar o impacto da pandemia, os autores enfatizam que a saúde mental deve ser incorporada aos planos de preparação, resposta e recuperação para emergências.
Com informações da Opas