Ciência e Saúde

Assessora administrativa conta como foi receber o diagnóstico tardio para o autismo

Larissa Kamarowski descobriu o transtorno há três anos e é exemplo de superação

hhh0o25

Recentemente, alguns famosos revelaram possuir o Transtorno do Espectro Autista (TEA), algo confirmado somente na vida adulta. Os casos de diagnóstico tardio têm ganhado repercussão e podem ser explicados pelo conhecimento do transtorno que hoje está muito mais amplo e difundido na sociedade.

Sobre o tema, a assessora administrativa do gabinete da Secretaria Municipal de Inclusão de Paranaguá, Larissa Kamarowski, de 30 anos, contou como foi descobrir o autismo já na vida adulta e como o diagnóstico fez diferença na sua vida.

“Idealmente o autismo deve ser diagnosticado na infância, quanto mais precoce melhor, pois há mais chances de sucesso nas intervenções por se tratar de um transtorno do neurodesenvolvimento. Porém, na década de 90, o diagnóstico era muito raro, especialmente em casos de autismo de menor suporte, era muito difícil de ser diagnosticado naquela época, principalmente pelo desconhecimento”, disse Larissa.

A partir da publicação do manual da DSM-5, em 2013, que traz os critérios do autismo, que foi possível ter uma melhor compreensão. “Ficou muito mais fácil diagnosticar, de forma mais precisa. Há muitos casos de pessoas que tinham um atraso, déficits e algum transtorno no neurodesenvolvimento que passaram sem nenhum diagnóstico ao longo da sua vida e por muito tempo eu fui um desses casos”, afirmou Larissa. 

Segundo ela, vários sinais foram percebidos na infância. “Meu diagnóstico foi na vida adulta, não necessariamente que meus déficits apenas estiveram presentes na vida adulta, pelo contrário, um dos critérios de diagnóstico é que esses prejuízos estejam sempre presentes desde o início da vida da pessoa”, relatou.

Larissa contou que seus pais sempre relataram aos médicos a preocupação quanto ao seu desenvolvimento, mas sempre foram orientados de que “cada criança tem seu tempo”. “Na verdade, essa frase não faz sentido. Existe um tempo ideal de desenvolvimento e se você não segue esse tempo ideal pode ser um transtorno. Ao longo da vida, definitivamente, eu me sentia uma pessoa diferente, eu conseguia notar que eu era uma pessoa diferente, na infância e na adolescência os déficits ficavam evidentes, as maneiras diferentes que eu faço as coisas, sempre ficaram explícitas, muitas vezes eu precisei de acompanhamento profissional só que eu nunca tive o diagnóstico sobre qual era o meu transtorno”, recordou.

Relação com o filho

Hoje, Larissa é casada e tem um filho, o Nathan, também diagnosticado com o transtorno. “Nos primeiros meses de vida do meu filho eu comecei a notar alguns atrasos no desenvolvimento. Até então eu não sabia nada sobre autismo, foi então que eu comecei a pesquisar sobre o tema e buscar ajuda profissional. Após passar por uma avaliação com uma equipe multidisciplinar foi diagnosticado com autismo de alto funcionamento”.

Larissa teve a confirmação para o autismo há três anos, após o filho receber o diagnóstico

Na época, isso não foi surpresa para ela, que já vinha pesquisando sobre o tema, mas ainda assim sabia que tinha um desafio pela frente. “O novo assusta, pois eu teria que, além das demandas que uma criança típica apresenta, eu teria que dar conta das demandas das outras necessidades presentes no transtorno. Na entrega do laudo do Nathan, o neuropediatra falou que era provável que eu também estivesse dentro do espectro”, disse.

A partir daí, Larissa conta que viveu dias difíceis até aprender a lidar com as crises do filho. “Busquei por vários profissionais como psiquiatra, psicólogos e neurologistas e tive vários diagnósticos como depressão, ansiedade e até falta de fé. Talvez pelo preconceito e falta de conhecimento, nenhum desses profissionais cogitaram ser autismo, mesmo eu colocando a fala do neuropediatra em pauta”, relatou.

Ela conviveu com esses diagnósticos e tratamentos por alguns anos até que decidiu entrar para o mercado de trabalho. “As minhas diferenças ficaram mais acentuadas, me trazendo inúmeros prejuízos. Comecei a me ver em uma situação complicada, pois ao mesmo tempo que eu sou contratada para assumir uma função que eu tenho certeza que eu tenho capacidade e habilidade para desempenhar no sentido intelectual, mas ao mesmo tempo eu via que havia outros detalhes e outras complexidades sociais naquele contexto que frequentemente me atrapalhavam e me impediam de desempenhar aquela função”, explicou.

Foi aí que Larissa decidiu buscar pelo seu laudo. “Ao longo dessa caminhada eu encontrei um profissional super capacitado que finalmente conseguiu me compreender e concluiu que todas as características que eu apresentava era em razão do Transtorno do Espectro Autista”.

Desta forma, Larissa considera que o momento de receber o diagnóstico foi de tirar um peso das costas. “Passei a reinterpretar vários aspectos da minha vida, da minha infância e da minha adolescência. Começo a entender porque eu me comportava daquela forma. Posso dizer que receber o diagnóstico foi extremamente relevante, foi então que consegui intervir nas questões que me prejudicavam e, dessa forma, amenizar os prejuízos criando estratégias adaptativas e desenvolver meus déficits, trazendo como consequência uma melhor qualidade de vida”, finalizou Larissa.

Para finalizar, Larissa deixou um recado para quem já se identificou com alguma característica do autismo. “Se desconfiarem de algo, busquem o diagnóstico, porque com certeza sua vida vai mudar. Explica muita coisa, você se perdoa, começa a entender muitas questões, oportunidades perdidas lá da adolescência que talvez você se culpe hoje. O diagnóstico conforta, melhora a qualidade de vida, a melhor coisa que existe é a gente poder se reconhecer. Independente do autismo”, destaca.

Superação

3pou019
Larissa e a secretária municipal de Inclusão, Camila Leite, falaram sobre o transtorno e a importância do diagnóstico de TEA e o apoio da família

A secretária municipal de Inclusão de Paranaguá, Camila Leite, que trabalha com Larissa, disse que ela é um exemplo de superação, que se deve também ao apoio recebido pela família. “A Larissa teve muita sorte por conta da família, o esposo dá a ela um suporte muito grande. O apoio da família é muito grande”, declarou Camila.

Hoje, com o trabalho desenvolvido no município, é possível acolher e instruir as famílias que recebem o diagnóstico. “Conseguimos dar apoio às famílias que tanto precisam. Muitas vezes, eles vivem o luto quando recebem o diagnóstico. Atendemos várias mães que têm dúvidas se o filho vai casar, ter filhos, quem vai cuidar. Se a família estiver bem estruturada, aquela família será bem assistida. Trabalhamos muito com a terapia, família e escola, se tudo caminhar junto, a criança terá sucesso e vai ter um grande desenvolvimento”, enfatizou Camila.

A secretária também ressaltou o orgulho em ter uma autista integrando a equipe. “A gente diz que a Larissa é vitoriosa, que a gente tem orgulho dela por ela não ter tido esse apoio, não por falta de querer, mas por falta de conhecimento ou de oportunidade. O que ela sofreu lá atrás, foi chamada de egoísta, rebelde e ainda conseguiu se superar, mas quantas Larissas estão por aí? Não podemos normalizar esse sofrimento”, conclui Camila.

Você também poderá gostar

Assessora administrativa conta como foi receber o diagnóstico tardio para o autismo

Fique bem informado!
Siga a Folha do Litoral News no Google Notícias.


Assessora administrativa conta como foi receber o diagnóstico tardio para o autismoAvatar de Gabriela Perecin

Gabriela Perecin

Jornalista graduada pela Fema (Fundação Educacional do Município de Assis/SP), desde 2010. Possui especialização em Comunicação Organizacional pela PUC-PR. Atuou com Assessoria de Comunicação no terceiro setor e em jornal impresso e on-line. Interessada em desenvolver reportagens nas áreas de educação, saúde, meio ambiente, inclusão, turismo e outros. Tem como foco o jornalismo humanizado.