Cidadania

Paranaguá teve a pior pontuação geral em estudo que avalia desigualdade de gênero em 2024

Nível alarmante foi apontado em 85% das cidades analisadas em 2024

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Foto: Ilustrativa/Freepik

As mulheres são 51,5% da população brasileira. Mas promover para a maioria da população um cenário de maior dignidade, inclusão e desenvolvimento simboliza uma dificuldade em muitas cidades. Paranaguá é uma delas. A primeira edição do estudo “Piores Cidades Para Ser Mulher (2024)”, desenvolvido pela Tewá 225, revelou que Paranaguá teve a pior pontuação geral. A desigualdade de gênero atingiu nível alarmante em 85% das cidades do Brasil.

O levantamento analisou 319 municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes, a fim de fazer uma comparação entre municípios de características urbanas similares. A maioria dos municípios avaliados apresenta alta taxa de feminicídio e baixa representatividade feminina. As cidades também foram avaliadas quanto a presença de mulheres que não estudam e nem trabalham, desigualdade salarial e relação entre o perfil econômico das cidades.

O objetivo do estudo foi classificar as cidades brasileiras com base no Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 5 (Igualdade de Gênero) do Índice de Desenvolvimento Sustentável das Cidades (IDSC), visando compreender suas diferenças em igualdade de gênero. 

No Centro-Oeste, Brasília (DF) se destacou como positivo, refletindo uma situação mais favorável em comparação com outros municípios da mesma região. Sudeste e Sul são as regiões com maior variação e mais municípios que fogem à média, tanto positivamente quanto negativamente. 

“No Sudeste, Araras (SP) apresenta o índice mais elevado do País e é o grande destaque da região, seguido por São Caetano do Sul (SP) e Nova Serrana (MG). Do outro lado, Pindamonhangaba (SP), Macaé (RJ) e São Pedro da Aldeia (RJ) destoam negativamente”, informou o estudo.

Já na região Sul, Balneário Camboriú (SC) é o destaque positivo, enquanto Ponta Grossa (PR) e Paranaguá (PR) apresentam as menores pontuações, destacando-se negativamente na região e na análise global do ranking.

Embora as capitais estaduais sejam geralmente os centros mais desenvolvidos de seus Estados, isso não se traduz necessariamente em melhores condições para as mulheres, de acordo com o Índice ODS 5. A maior parte das capitais (77%) foi classificada no nível “Muito Baixo” de alcance da igualdade de gênero.

“Este dado é alarmante, pois demonstra que mesmo onde existe uma concentração significativamente maior de recursos e infraestrutura, as condições para o bem-estar das mulheres permanecem insatisfatórias”, indicou o estudo.

Secretaria Municipal da Mulher 

A secretária municipal da Mulher de Paranaguá, Daiane Ávila Christakis, afirmou que teve acesso ao levantamento realizado pela Tewá 225 e observou que se trata de uma pesquisa que analisa a violência de gênero de modo geral.

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“Enquanto secretária da Mulher, estamos trabalhando duro para propor uma nova realidade para as parnanguaras”, disse a secretária municipal da Mulher de Paranaguá, Daiane Ávila Christakis (Foto: Folha do Litoral News)

“Não apenas a violência doméstica, aponta fatores como educação, falta de espaço para mulheres no mundo de trabalho e na política. Enquanto secretária da Mulher, estamos trabalhando duro para propor uma nova realidade para as parnanguaras, isto é, estamos em busca de parcerias para ofertar formação, empregabilidade e outras alternativas para geração de renda”, declarou Daiane.

Ela defendeu, ainda, que é preciso apoiar as mulheres para terem condições de ocupar mais espaços na sociedade. “Para nós mulheres, sendo mães, profissionais e, às vezes, acumulando outras funções, não é fácil se engajar na política ou em outros espaços que exigem liderança,  mas com o fortalecimento de uma rede de apoio e atenção bem estruturada, envolvendo o governo e a comunidade, podemos avançar”, destacou a secretária.

Por que Paranaguá se destaca?

A coordenadora estadual da União Brasileira de Mulheres Seção Paraná, Matsuko Mori Barbosa, lamentou o resultado do estudo. 

“Realmente é lamentável que a Cidade-Mãe do Paraná esteja ostentando este triste e vergonhoso título de pior cidade para as mulheres, de acordo com pesquisa realizada pela TEWA 225 que analisou 319 cidades brasileiras com mais de 100 mil habitantes. Paranaguá avançou muito nos últimos anos, com a criação da Secretaria Municipal da Mulher, pois há um olhar mais atento para as demandas das mulheres”, disse Matsuko.

Para melhorar o índice, ela acredita que é preciso atuar em várias frentes. “Na área da educação, incluindo no currículo temas como igualdade de gênero, realização de oficinas para estudantes e professores sobre violência de gênero, realizar campanhas de conscientização utilizando os meios de comunicação locais e nas redes sociais, colocando mensagens contra a violência de gênero”, afirmou Matsuko.

Ela também defende a criação de mais postos de trabalho formais para as mulheres e outras demandas que podem ajudar a mudar esse cenário. 

“Gerar empregos formais para as mulheres, ampliar o número de vagas nas creches e escolas integrais, aumentar as redes de apoio às pessoas idosas, como centros de convivência. É preciso garantir moradias dignas para as mulheres chefes de família que vivem em situação de vulnerabilidade social e econômica. Fazer busca ativa das estudantes do ensino médio que abandonam o estudo para cuidar de crianças, idosas ou pessoas acamadas. Implantação de políticas públicas de enfrentamento à insegurança alimentar como cozinhas e padarias comunitárias”, avaliou Matsuko.

E essas demandas, segundo ela, devem ser uma responsabilidade de todas as Secretarias Municipais.

“Todas as Secretarias devem pensar a cidade como um espaço mais seguro e acolhedor para as mulheres, garantindo boa iluminação pública, ruas e calçadas em bom estado, transporte público que ofereça a locomoção de forma segura para as mulheres, serviços de saúde de qualidade, dentre outras políticas públicas. Lembrando também que precisamos colocar mais mulheres na Câmara Municipal para melhorar o ranking”, observou Matsuko.

O Conselho Municipal da Mulher (CMDM) de Paranaguá aprovou a abertura do Centro de Referência à Mulher Vítima de Violência (Cram), um equipamento de média complexidade que ficará sob a gestão da Secretaria Municipal da Mulher (SEMMU). 

A implantação do Centro ocorre por meio da Secretaria de Estado da Mulher, Igualdade Racial e Pessoa Idosa. O Paraná conta com 15 unidades do Centro e Paranaguá, de acordo com a prefeitura, será o primeiro município do litoral a contar com essa modalidade de serviço especializado.

ODS 5 – Igualdade de Gênero

O Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 5, proposto pela Organização das Nações Unidas (ONU) propõe acabar com todas as formas de discriminação contra todas as mulheres e meninas em todas as partes do mundo. No Brasil, o objetivo é eliminar todas as formas de discriminação de gênero, nas suas intersecções com raça, etnia, idade, deficiência, orientação sexual, identidade de gênero, territorialidade, cultura, religião e nacionalidade, em especial para as meninas e mulheres do campo, da floresta, das águas e das periferias urbanas.

Mulheres na política

Um dos indicadores utilizados no estudo “Piores Cidades Para Ser Mulher (2024)” foi também a análise da quantidade de vereadoras nas Câmaras Municipais. Tanto os municípios presentes entre os 10 melhores classificados, quanto entre os 10 piores classificados apresentam indicadores de representatividade feminina no legislativo muito abaixo do ideal paritário.

“Frequentemente inferior a 15%, o percentual de mulheres na câmara pode ser de fato um atraso para o atingimento da igualdade de gênero nos territórios, pois a ausência de representação feminina no legislativo impacta diretamente a formulação de políticas em áreas cruciais, como segurança, saúde e trabalho, perpetuando desigualdades de gênero”, avaliou o estudo.

A base de dados utilizada para o estudo foi extraída do Índice de Desenvolvimento Sustentável das Cidades (IDSC), com informações atualizadas até 2024. Os dados referentes à composição das câmaras de vereadores não consideram a nova legislatura eleita em 2024, uma vez que o estudo foi realizado antes da posse de novos parlamentares, ocorrida em 2025.

O estudo está disponível na íntegra AQUI

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Gabriela Perecin

Jornalista graduada pela Fema (Fundação Educacional do Município de Assis/SP), desde 2010. Possui especialização em Comunicação Organizacional pela PUC-PR. Atuou com Assessoria de Comunicação no terceiro setor e em jornal impresso e on-line. Interessada em desenvolver reportagens nas áreas de educação, saúde, meio ambiente, inclusão, turismo e outros. Tem como foco o jornalismo humanizado.