No bairro Jardim Esperança, em Paranaguá, a vida de Vantuir João dos Santos sempre foi marcada pelo trabalho e pela simplicidade. Entregador de bebidas por muitos anos e também pintor, ele construiu sua história com esforço e dedicação. Entretanto, um acidente doméstico mudou completamente sua trajetória, tirando-lhe uma das pernas e impondo uma dura batalha para sobreviver e se reinventar.
“Faz mais de 30 anos que moro aqui. Trabalhei como entregador, depois motorista, e também como pintor. Sempre me considerei um profissional, mas a pintura ensina a gente todo dia”, conta.
Vantuir tem 48 anos e três filhos, e agora tenta recomeçar a vida produzindo e vendendo pães caseiros em sua residência na Rua dos pelicano nº 664, buscando voltar a ter autonomia com a aquisição de uma prótese ou um triciclo adaptado, que custa em torno de R$15 mil reais.
O acidente que mudou tudo
A lembrança do dia do acidente ainda é muito viva. “Estava vindo uma chuva forte, e minha casa tinha um problema no telhado. Toda vez que chovia, molhava a cozinha inteira. Subi na escada para amarrar umas telhas com arame, mas quando puxei, o arame estourou. Não deu tempo de segurar no caibro, caí direto em cima do fogão”, relembra.
“Foi um tombo seco. Uma perna ficou para fora, a outra bateu bem no fogão. Ainda bem que o vidro não estava fechado, senão podia ter sido pior. Mas na hora já vi que tinha quebrado, foi fratura exposta”, completou Vantuir.
Além da fratura, a infecção foi muito grave devido às condições da sujeira.
“O médico falou que o fogão é mais sujo que o banheiro. Imagina! Ali passa barata, rato, gordura, tudo contaminado. A bactéria pegou e não largou. Tomei antibiótico fortíssimo, mais de três vezes o normal, mas mesmo assim não adiantou. Estava arriscado até perder os rins”, recorda.
A luta pela sobrevivência
Foram quase quatro meses internado, entre Paranaguá e Campo Largo. “Tudo foi feito para salvar a perna, mas não teve jeito. Tive que amputar. Foi muito duro aceitar isso”, desabafa.
Sem poder trabalhar, Vantuir ainda enfrentou a demora da aposentadoria, o que complicou muito sua vida financeira. “Eu, amputado, mesmo assim tive que contratar advogado para conseguir o benefício. E nesse tempo fiquei sem renda nenhuma. Era uma família inteira para sustentar, cinco pessoas, gastando quase R$70,00 por dia. Foi muito difícil”, relembra.
Um novo caminho com o pão caseiro
Vantuir buscou alternativas como forma de conseguir dinheiro para poder sustentar sua família. “Sempre gostei de fazer pão. Os motoristas nos postos falavam: ‘no mercado falam que é caseiro, mas não é igual ao seu’. Aí comecei a vender. Antes fazia 12, 15 por dia, agora vendo uns 10”, conta.
O maior sonho de Vantuir é voltar a ter sua locomoção de volta com apoio de uma prótese ou um triciclo.
“Com um triciclo eu conseguiria sair de casa, visitar amigos, vender meus pães sem depender de ninguém. Não corro risco de cair, porque ele é firme, diferente de bicicleta. Também queria uma prótese, claro, para tentar voltar a andar. Mas o triciclo já mudaria minha vida”, afirma.
O golpe e a perda do sonho
A esperança quase virou realidade quando conseguiu um empréstimo. Mas acabou caindo em um golpe virtual. “Entrei num link falso. Eles tiraram selfie minha pelo celular. Limparam minha conta. Dos R$10 mil, consegui usar uma parte para pagar a dívida, mas os R$7 mil que eu ia usar para o triciclo e para comprar a cadeira de rodas da minha mãe, perdi tudo. Foi um baque enorme”, lamenta.
Um exemplo de resistência
Mesmo assim, Vantuir não perde a fé e a esperança de que conseguirá seus objetivos. “Não quero ficar parado dentro de casa. Quero trabalhar, quero andar, quero ter liberdade. A prótese ou o triciclo me dariam isso. Eu sei que posso me virar, só preciso de uma chance”, conclui, com esperança.





