Crônicas

Viajar

Em cena, esse novo “eu” faz a gente arriscar passos de um tango sem nunca termos dançado.

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Viajar é bom. Eu diria até mais, é ótimo!

Viajar faz a gente desprender-se um pouco de nós mesmos. Assumimos um outro eu que se esconde dentro de nós. Num lugar onde somos anônimos, a gente se permite fugir da nossa rotina cotidiana e de nossos hábitos previsíveis.

Em cena, esse novo “eu” faz a gente arriscar passos de um tango sem nunca termos dançado. Aventurar-se dentro de um bote num rio com correntezas. Mergulhar e dar uma espiada em como é a vida submarina. Escalar montanhas. Andar de buggy nas dunas. Querer tocar berimbau. Andar a cavalo ou de camelo. Viajar faz a gente não se reconhecer.

E não nos reconhecendo a gente continua experimentando. Experimentamos comidas exóticas. Exageramos em temperos desconhecidos. Aguçamos o nosso paladar e vamos descobrindo novos sabores.

 Descobrimos também que o não compromisso com o relógio pode ser altamente benéfico. E aí, tanto faz se acordamos cedo ou tarde ou se vamos para cama justamente na hora em que o sol desponta. Viajar faz a gente ficar mais flexível.

Essa flexibilidade acaba permitindo que a gente faça novas amizades, converse sobre outros assuntos, e não dê tanta importância se a pronúncia está certa ou errada. Vamos nos comunicando e aprendendo.

E a gente aprende que viajar é sinônimo de não ficar parado. Viajar é libertar-se de certas amarras. É entregar-se ao novo, ao desconhecido e o que a nós se apresenta. É soltar um grito de liberdade

Liberdade para andar sem pressa na chuva. Tomar um banho de mar noturno. Fazer longas caminhadas e seguir viagem conhecendo novos lugares, apreciando as paisagens, adaptando-se a novas culturas, a novos padrões, a outros povos e civilizações.

Viajar é carimbar um passaporte em que se permite ousar, arriscar, descobrir e se aventurar.

Mas viajar também implica um retorno. É no fechar a conta do hotel que se vê o prenúncio do ponto final. Arrastam-se as malas, cheias das lembranças compradas, que há essa altura a gente já começa a se questionar onde e como vai usar o berimbau. E como não fazemos a menor ideia, seguimos sem resposta. Mas são as bagagens interiores que trazem as preciosidades. Estas costumam vir recheadas de novidades e muitíssimas histórias para contar. Porque nenhuma viagem faz a gente voltar do mesmo jeito que se foi.

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Kátia Muniz

Kátia Muniz é formada em Letras e pós-graduada em Produção de Textos, pela Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Paranaguá (hoje, UNESPAR). Foi colaboradora do Jornal Diário do Comércio por sete anos, com uma coluna quinzenal de crônicas do cotidiano. Nos anos de 2014, 2015 e 2016 foi premiada em concursos literários realizados na cidade de Paranaguá. Em outubro de 2018, foi homenageada pelo Rotary Club de Paranaguá Rocio pela contribuição cultural na criação de crônicas.