Quem caminha por essas ruas antigas sente que o chão guarda segredos. Mas nem todos esses segredos têm nobreza, alguns fedem a mofo político. Sim, leitor, estamos na cidade onde Dom Pedro II foi recebido com salvas de tiros e banquetes. Mas hoje, trocamos os tiros de canhão por disparos de fake news, isto é, notícias falsas, e os banquetes por posts emocionados com trilha sonora de fundo e filtro vintage.
Em 1880, o imperador chegou sob aplausos verdadeiros. Em 2025, as famílias que se perpetuam no poder chegam sob curtidas compradas e comentários de perfis que têm mais números que alma. A cidade, que já dançou valsa com a realeza, hoje dança conforme o ritmo da velha política, aquela mesma, com sobrenomes conhecidos, padrinhos e bastidores mais movimentados que a Feira da Lua na Praça dos Leões.
Se antes tínhamos o Dr. Leocádio José Correia discursando com eloquência, hoje temos stories com bordas coloridas, narrativas prontas e frases de efeito: “Deus no comando”, “Compromisso com o povo”, “Paranaguá do futuro”. Tudo com muita pose, mas pouco propósito.
E nos bastidores? Ahhh, minha velha Paranaguá, ali se cozinha de tudo, denúncias sem pé nem cabeça, editadas em PDF de procedência duvidosa, prontas para circular nos grupos de WhatsApp às 6h da manhã. É a política das sombras, dos dossiês apócrifos e das manchetes mirabolantes. Tudo para confundir, desgastar e, claro, tentar eliminar o concorrente como quem joga sal na calçada do vizinho.
Se Dom Pedro II visse isso, talvez tivesse preferido passar direto para Ilha das Cobras. Mas nós seguimos aqui, olhando para essas pedras que viram tanta coisa como imperadores, padres, estudantes, artistas, e agora, influenciadores de palanque.
A cidade que um dia recebeu a comitiva imperial, hoje recebe uma nova corte, a dos marqueteiros, dos cabos eleitorais de Instagram, de Facebook, de WhatsApp e dos coronéis digitais. Os discursos mudaram, os métodos se modernizaram, mas o enredo ah, o enredo é o mesmo. Velho. Ensaiado. Hereditário.
Paranaguá continua linda. Mas cuidado, leitor. Nem toda história contada com brilho nos olhos é verdade. E nem toda família que sorri nas fotos quer o bem da cidade. Às vezes, só querem manter o sobrenome no comando mesmo que para isso tenham que jogar a verdade no mar e remar com fake news até a próxima eleição se segurando em cargo público.
Bem-vindo à terra onde o imperador passou e onde a velha política nunca foi embora.