“Deus conhece as nossas necessidades e a elas provê, como for necessário. O homem, porém insaciável nos seus desejos, nem sempre sabe contentar-se com o que tem, o necessário não basta, reclama o supérfluo. A Providência, então, o deixa entregue a si mesmo.” (Cap. 25, 7)
Vale-se muita gente do Evangelho para usar as expressões literais do Senhor, sem qualquer consideração para com o sentido profundo que as ditou, simplesmente para exaltar conveniência e egoísmo. Exortou o Divino Mestre: “Não vos inquieteis pelo dia de amanhã”. Encontramos aqueles que se baseiam nestas palavras, destinadas a situar-nos na eficiência tranquila, para abraçarem deserção e preguiça, olvidando que o próprio Jesus nos advertiu: “Andai enquanto tendes luz”. Asseverou o Eterno Amigo: “Nem só de pão vive o homem”. Há companheiros que se estribam em semelhante conceito, dedicado a preservar-nos contra a volúpia da posse, para assumirem atitudes de relaxamento e desprezo, à frente do serviço de organização e previdência da vida material, sem se lembrarem de que Jesus multiplicou pães, no monte, socorrendo a multidão cansada e faminta. Afirmou o Excelso Benfeitor: “Realmente há Céus”. Em todos os círculos do ensinamento cristão, aparecem os que se aproveitam da afirmativa, dedicada a imunizar-nos contra as calamidades da avareza, para lançarem diatribes contra o dinheiro e sarcasmos contra os irmãos chamados a manejá-lo, na sustentação do trabalho e da beneficência, da educação e do progresso, incapazes de recordar que Jesus honrou a finança dignamente empregada, até mesmo nos dois vinténs com que a viúva pobre testemunhou a própria fé. Disse o Cristo: “Não julgueis”. Em toda parte, surpreendemos os que se prevalecem do aviso que nos acautela contra os desastres da intolerância, para acobertarem viciação e má fé sem se prevenirem de que Jesus nos recomendou igualmente: “Orai e vigiai a fim de não cairdes em tentação.” Admoestou o Mestre dos Mestres: “Ao que vos pedir a túnica, cedei também a capa.” Não poucos mobilizam o assento consagrado a impelir-nos ao culto do desprendimento e da gentileza, para estabelecerem regimes de irresponsabilidade e negligência, quando o Cristo nos preceituou a obrigação de entregar a cada um aquilo que lhe pertence, até mesmo nas questões mínimas do imposto exigido pelos poderes públicos, ao solicitar-nos: “Dai a César o que é de César”. Não podemos esquecer que as palavras do Cristo, no curso dos séculos, receberam interpretações adequadas aos interesses de grupos, circunstâncias, administrações e pessoas. A Doutrina Espírita brilha hoje, porém, diante do Evangelho, não apenas para aliviar e consolar, mas também para instruir e esclarecer
“Livro da Esperança” – Autor Espiritual: Emmanuel – Psicografia de Francisco Cândido Xavier. “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.” João cap. 8 v. 32.
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