“Os laços de família não sofrem destruição alguma com a reencarnação, como o pensam certas pessoas. Ao contrário, tornam-se mais fortalecidos e amparados. O princípio oposto, sim, os destrói.?” (Cap. IV, Item 18)
Atingindo o Plano Espiritual, depois da morte, sentimentos indefiníveis nos senhoreiam o coração. Nos recessos do espírito, rebentam mágoas e júbilos, poemas de ventura e gritos de aflição, cânticos de louvor pontilhados de fel e brados de esperanças que se calam, de súbito, no gelo do sofrimento. Rimos e choramos, livres e presos, triunfantes e derrotados, felizes e desditosos. Bênçãos de alegria, que nos clareiam. pequeninas vitórias alcançadas, desaparecem, de pronto, no fundo tenebroso das quedas que nos marcaram a vida. Suspiramos pela ascensão sublime, sedentos de comunhão com as entidades heróicas que nos induzem aos galardões fulgentes dos cimos, todavia, trazemos o desencanto das aves cativas e mutiladas. Ao invés de asas, carregamos grilhões, na penosa condição de almas doentes. Na concha da saudade, ouvimos as melodias que irrompem das vanguardas de luz, entretecidas na glória dos bem aventurados, no entanto, austeras admoestações nos chegam da Terra pelo sem fio da consciência. Nas faixas do mundo somos requisitados pelas obrigações não cumpridas. Erros e deserções clamam dentro de nós, pedindo reparos justos. Longe das esferas superiores que ainda não merecemos e distanciados das regiões positivamente inferiores em que nossas modestas aquisições evolutivas encontraram início, concede nos, então, a Providência Divina, o refúgio do lar, entre as sombras da Terra e as rutilâncias do Céu, por instituto de tratamento, em que se nos efetive a necessária restauração.
É assim que reencarnados em nova armadura física, reencontramos perseguidores e adversários, credores e cúmplices do pretérito, na forma de parentes e companheiros para o resgate de velhas contas. Nesse cadinho esfervilham-se de responsabilidades e inquietações, afetos renovados nos chamam ao reconforto, enquanto que aversões redivivas nos pedem esquecimentos. A vista disso, no mundo, por mais atormentado nos seja o ninho familiar abracemos nele a escola bendita do reajuste onde temporariamente exercemos o ofício da redenção. Conquanto crucificados em suplícios anônimos atados a postes de sacrifício ou semi asfixiado no pranto desconhecido das grandes humilhações, saibamos sustentar lhe a estrutura moral, entendendo e servindo, mesmo à custa de lágrimas, porque é no lar, esteja ele dependurado na crista de arranha céus, ou na choça tosca de zinco, que as leis da vida nos oferecem as ferramentas de amor e da dor para a construção e reconstrução do próprio destino entregando nos, de berço em berço, ao carinho de Deus que verte inefável pelo colo das mães.
Retirado do “Livro da Esperança” – Autor Espiritual: Emmanuel – Psicografia de Francisco Cândido Xavier.
“Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.” João cap. 8 v. 32.
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