Celebra-se no Brasil, em 21 de abril, o Dia de Tiradentes. Batizado Joaquim José da Silva Xavier, é considerado um dos heróis nacionais do Brasil. Embora possa parecer que atualmente o civismo e o patriotismo sejam práticas e sentimentos colocados em segundo plano, valendo mais como pretexto para “feriadões” do que como ideais, o mito de Tiradentes permanece como símbolo da luta pela igualdade de direitos e pela justiça social.
O significado de “mito” aqui utilizado é a narrativa acerca de tempos heróicos, com um fundo de verdade. A verdade em torno de Tiradentes é cada vez mais contestada. Há hoje quase um consenso de que o que tem sido ensinado nas escolas para gerações de brasileiros, sobre os acontecimentos da Inconfidência Mineira, é uma história com fundo de verdade, mas em muito inventada no advento da República, ante a necessidade de criar para o povo um herói que, por ter dado a vida pela liberdade, suplantasse os heróis da Monarquia (como Pedro I, Pedro II e Isabel Redentora).
A Inconfidência Mineira foi um movimento que, no final do século XVIII, reuniu diversos grupos da elite colonial de Minas Gerais, de diferentes origens e ideologias políticas, contando com intelectuais, empresários e líderes locais, insatisfeitos com a exploração econômica e política do Brasil pelo governo português. Acreditavam que o Brasil (embora para eles se resumisse a Minas Gerais e Rio de Janeiro) deveria se tornar independente de Portugal, com o poder político e econômico local passando a ser exercido pelos próprios brasileiros, ou seja, por eles mesmos.
O movimento começou a ganhar força em meados de 1780, quando a economia da região estava em crise e a população estava insatisfeita com os altos impostos e o monopólio comercial exercido pela metrópole portuguesa, o que levou os “inconfidentes” (“traidores”) a planejar uma revolta armada para derrubar o governo português e estabelecer uma república independente no Brasil, quiçá inspirada pelo que ocorria concomitantemente na França.
Assim como os demais, Tiradentes supostamente era um homem de ideais liberais, que ou bem liderou ou pelo menos participou ativamente da Inconfidência Mineira. Militar de patente subalterna, juntou-se a homens influentes e cultos que compartilhavam ideais iluministas e republicanos, com valores como a igualdade, a liberdade, a fraternidade e a justiça social. Posteriormente, possivelmente da mesma forma que se criou uma história verossímil sobre Tiradentes, este ideário também veio a ser associado aos princípios fundamentais da Maçonaria.
Muito naturalmente, especula-se que Tiradentes, e muitos outros Inconfidentes, tenham sido Maçons. Esta afirmativa ainda é objeto de polêmica, mesmo nos meios maçônicos. Fato é que Tiradentes foi executado em 1792, e as primeiras Lojas Maçônicas do Brasil foram fundadas somente anos depois, em 1796 e 1797, em Pernambuco e na Bahia, e somente em 1801 no Rio de Janeiro.
Fato é, também, que data de 1777 o início da história documentada da Grande Loja Unida da Inglaterra, a mais antiga organização maçônica do mundo, sendo portanto bem possível que comerciantes, viajantes e membros das elites brasileiras possam ter sido iniciados como Maçons no exterior, tendo acesso a informações e recursos para ajudar a disseminar a organização no Brasil. Não há porém evidência de que o Alferes Joaquim José estivesse entre esses iniciados.
É verdade que, 30 anos depois da morte de Tiradentes, a Maçonaria teve um papel importante na disseminação de ideias revolucionárias. Muitos de seus membros, inclusive o próprio D. Pedro I, participaram ativamente da luta pela independência do Brasil.
Em resumo, não obstante as versões da história que predominem, o que realmente importa em termos de civismo e patriotismo é que os ideais da Maçonaria eram, e são, muito semelhantes aos ideais dos Inconfidentes, como Tiradentes, que acreditavam na razão, na ciência e na liberdade individual como as melhores ferramentas para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
Com base em wikipedia.org e obras de C. Ginzburg, J. M. Carvalho, J.A.G. Lima e C.G.Mota, R.J. Ribeiro
Responsável: Loja Maçônica Perseverança – Paranaguá – PR ([email protected])