Compreendemos, ao final de nossa exposição da semana anterior, que a busca da felicidade humana necessariamente passa pela observância individual de alguns princípios morais e condutas de retidão, capazes de nos auxiliar a alcançar uma vida plena e de qualidade, não apenas em nosso próprio benefício, mas também daqueles familiares, amigos e colegas com quem convivemos, num ciclo potencialmente infinito. Esta corrente virtuosa resume, de certa forma, o objetivo da Maçonaria de promover o aperfeiçoamento da Sociedade através do aperfeiçoamento do homem.
A instituição Maçonaria, porém, não tem o poder mágico de aperfeiçoar o homem pelo simples fato de ele passar a denominar-se “maçom”, assim como não é necessário ser “maçom” para galgar novos estágios morais. O que a Maçonaria proporciona a seus integrantes são as ferramentas necessárias para a adequada compreensão da realidade, e principalmente para que o iniciado busque e alcance o autoconhecimento, chave reconhecida desde a antiguidade, mas que ainda assim segue ignorada pela grande maioria.
No interior do antigo Templo de Luxor, no Egito, encontra-se a inscrição “”Homem, conhece a ti mesmo, assim conhecerá os deuses.” Este caminho para a divindade estava também no Oráculo de Delfos, em grego “gnōthi seauton”, objeto dos diálogos de Platão, posteriormente apropriado pelos romanos como “nosce te ipsum”, sempre, “conhece a ti mesmo”. Este aforismo vem sendo reconhecido por filósofos e religiosos como chave do progresso moral humano ao longo da história.
O filósofo Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) afirma que “de todos os conhecimentos humanos, o mais útil e o menos avançado parece-me ser o do homem; aliás, atrevo-me a dizer que até a inscrição do Oráculo de Delfos (conhece-te a ti mesmo) continha um preceito mais importante e mais difícil que todos os livros dos moralistas”. O poeta britânico Alexander Pope (1688-1744) bem observou que a chave é “conhece a ti mesmo, então, não presuma Deus para fazer a varredura, o estudo adequado da humanidade é o homem.”
Em “O Livro dos Espíritos”, de 1857, Allan Kardec (1804-1869) questiona “qual o meio prático mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir à atração do mal?” e obtém a resposta: “Um sábio da Antiguidade vo-lo disse: ‘Conhece-te a ti mesmo’”. Reconhecendo a sabedoria da máxima, Kardec pergunta qual o meio de conhecer-se a si mesmo, obtendo detalhada resposta com instruções práticas e considerações filosófico-morais que incluem esta orientação: “examinai o que pudestes ter obrado contra Deus, depois contra o vosso próximo e, finalmente, contra vós mesmos. As respostas vos darão, ou o descanso para a vossa consciência, ou a indicação de um mal que precise ser curado.”
Mais recentemente, ao discorrer sobre a crise da filosofia em sua Encíclica Fides et Ratio (Fé e Razão), o Papa João Paulo II cita “conhece a ti mesmo” como sendo a “regra mínima de todo o homem que deseje distinguir-se”, isto é, um convite a pensar na verdade, pois, se nós não pensarmos, outros fatalmente pensarão por nós. Cada um de nós é, portanto, individualmente responsável pelo aperfeiçoamento de toda a humanidade.
Mohandas Karamchand Gandhi (1869–1948) considerou que “se pudéssemos mudar a nós mesmos, as tendências do mundo também mudariam. À medida que um homem muda sua própria natureza, também a atitude do mundo em direção a ele muda. Este é o mistério divino supremo. É uma coisa maravilhosa e a fonte da felicidade. Não precisamos esperar para ver o que os outros fazem.”
Em outras palavras, “seja a mudança que deseja para o mundo”. Para tanto, como veremos nas próximas semanas, podemos contar com o legado do médium brasileiro Francisco Cândido Xavier (1910-2002), que nos deixou uma espécie de guia prático para o autoconhecimento, e consequente reforma íntima, com o objetivo de aperfeiçoamento moral e espiritual do homem.
Com base em verbetes de pt.wikipedia.org e em obra de A.Kardec, “O Livro dos Espíritos”.
Responsável: Loja Maçônica Perseverança – Paranaguá – PR ([email protected])