Vimos na semana anterior a total incompatibilidade dos princípios e valores destinados ao aperfeiçoamento moral do homem em tributo ao Criador, vivenciados na Maçonaria e pela Maçonaria, com o assim chamado “satanismo”, seja como culto pagão a uma pseudodivindade criada, e não-criadora, seja como prática de atos de maldade não condizentes com a bondade, a generosidade, a tolerância e tantos outros atributos maçônicos decorrentes do amor fraterno.
Se é na ignorância que mais repercute tal maledicência das sombras (estas sim – ignorância e maldade humana — passíveis de serem atribuídas ao dito tinhoso), nada menos satânico do que trazer ao caso alguns esclarecimentos.
De início, é de se saber que o termo hebraico “satan” significa “adversário”, assim como o árabe “shaitan”, ambos derivados da mesma raiz semítica que significa “hostil”. No Tanakh, que é a coleção canônica dos textos israelitas, e fonte do cânone do Antigo Testamento cristão, essa palavra é utilizada para se referir a adversários ou opositores tanto no sentido geral quanto espiritual.
“No Antigo Testamento, a palavra satã (hebraico satan; o verbo satan, incomodar) significa adversário em geral, e mais em particular aquele que diante do tribunal desempenha o papel de acusador (ministério público), e pode ser aplicada a qualquer um que em determinada ocasião se opõe a outrém; até o anjo de Javé que impediu a passagem a Balaão e sua jumenta é chamado assim. Mas satã por excelência é um ser sobre-humano ao qual compete acusar e contrariar, impiedosamente, os homens diante do tribunal de Deus.”
Também há registros de que a palavra “satanás” se origina diretamente do grego “sátyros” – sátiro, personagem com representação física de chifres e pernas caprinas mas tronco humano. É naturalmente associado na cultura latina ao mal devido à rivalidade entre Roma e a Grécia em necessidade de alcance e amplidão religiosa, com algumas dessas invencionices da “propaganda romana” se perpetuando até a modernidade no pensamento vulgar, a exemplo do que ocorre com outra denominação comum, Lúcifer.
Ora, “lucifer” em latim significa “portador da luz”, o que pode ser tão neutro espiritualmente quanto o fósforo, do grego “phosphoros”, também, literalmente, “portador da luz”. Lúcifer “é uma das várias figuras do folclore associadas ao planeta Vênus. O nome da entidade foi posteriormente absorvido pelo cristianismo como um nome para o diabo. A erudição moderna geralmente traduz o termo na passagem bíblica relevante onde o nome da figura grega antiga foi historicamente usado (Isaías 14:12) como “estrela da manhã” ou “uma brilhante” em vez de um nome próprio, ‘Lúcifer’.”
A luta de Vênus, a estrela da manhã, “lucifer”, para ascender diariamente nos céus apenas para inevitavelmente “cair” ante o brilho imenso do Sol – a divindade maior para muitos antigos, logo comparável a Deus, é uma origem plausível para o mito do “anjo caído”, Lúcifer.
“Em fins do século passado (XIX), na belle époque da antimaçonaria, viu-se na Maçonaria uma contrarreligião, no seu Símbolo o Grande Arquiteto do Universo uma evocação a Lúcifer e nos seus Templos uma sinagoga de Satã”, inclusive título de um livro publicado por um bispo francês em 1893 – “La Franc-Maçonnerie, synagogue de Satan”.
Foi contudo o escritor e jornalista francês Marie Joseph Gabriel Antoine Jogand Pagès (1854 – 1907), sozinho ou com colaboradores, o responsável por uma farsa que casou talvez o maior dano à imagem da Maçonaria, uma história que não deixa de ser interessante e é bastante esclarecedora, e que narraremos na próxima semana. Embora quase ninguém fora do meio maçônico já tenha ouvido falar ou ainda se lembre do autor, suas falsas acusações se arraigaram de tal forma na imaginação popular que ainda embasam, em pleno século XXI, certas fantasias que vez ou outra reaparecem – por ignorância ou por má-fé — associando Maçonaria e satanismo.
Com informações de obra de N. Aslan; wikipedia.com.
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