As escarradeiras estão entre as peças/louças que sempre chamam a atenção dos estudantes que vêm visitar o museu do Instituto Histórico e Geográfico de Paranaguá. As escarradeiras feitas em porcelana, pintadas e decoradas, são peças do acervo do IHGP que chama atenção pela sua delicadeza, mas também pelo seu uso no passado.
As escarradeiras são recipientes que eram utilizados para expelir secreções e mucos, os “escarros” ou catarros. Era também utilizada por aqueles que tinham o hábito de usar o tabaco de mascar. E se hoje em dia, escarrar em público é uma atitude passível de vergonha e repúdio, no passado, escarrar era um costume que poderia ser feito nas salas de jantar e visita. Segundo Fernanda Soares, durante o século XIX, nas casas das famílias mais abastadas era comum encontrar nas salas de visita e de jantar algumas louças decorativas tais como vasos chineses e pratos ingleses, além é claro, de uma escarradeira de porcelana, indispensável numa sala de visita que se preze. O uso das escarradeiras estava relacionado ao costume de expelir secreções em público. Normalmente, as escarradeiras eram colocadas aos pares, nas salas, ladeando os sofás, ficavam no chão, à disposição dos familiares e dos visitantes.
No século XIX, Norbert Elias analisa que o costume de escarrar já era considerado algo repugnante. Apesar disso, nas residências da Europa, a escarradeira tornou-se um utensílio para controlar esse costume. Aos poucos, a escarradeira ou cuspideira tornou-se um utensílio de prestígio que apenas as famílias mais ricas possuíam. Logo, as escarradeiras caíram no gosto das elites brasileiras que começaram a importar esses utensílios. Aos poucos, sobretudo ao longo do século XX, o costume de utilizar as escarradeiras foi caindo em desuso. O hábito de escarrar foi tornando-se algo feito num ambiente mais reservado e privado.
Para todos aqueles que ficaram com curiosidade de ver uma escarradeira de perto, deixo aqui o convite para visitarem o Instituto Histórico e Geográfico de Paranaguá. Na semana que vem, iremos continuar trazendo curiosidades das peças do acervo do Instituto.
Priscila Onório Figueira
Historiadora. Tesoureira do IHGP- Biênio 2023-2024.
Referências bibliográficas
ELIAS, Norbert. O processo civilizador, volume I. Uma história dos costumes. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994.
SOARES, Fernanda, Codevilla. Vida material no Desterro no século XIX: As loucas do palácio do governo de Santa Catarina. 443 f. 2011. Tese apresentada para obtenção do grau de Doutor em Quaternário, Materiais e Cultura, UTAD. UNIVERSIDADE DE TRAS-OS-MONTES E ALTO DOURO VILA REAL, 2011.