Há quase 200 anos, no dia 6 de setembro de 1827, a alfândega de Paranaguá passou a funcionar no antigo Colégio dos Jesuítas, prédio construído nos anos 1700 para abrigar um dos primeiros projetos de educação no Brasil colonial.
As alfândegas desempenharam, desde sua criação, um papel crucial na economia e na administração, participando na formação do estado brasileiro ao longo das diversas épocas. Naquele momento inicial, eram necessários apenas quatro funcionários para controlar as entradas e saídas do porto: um juiz, Francisco de Paula; um tesoureiro, Manoel Francisco Correia; um escrivão, José L. Pereira; e um meirinho, Thomé da Rocha.
Dezessete anos depois, entre 14 e 21 de fevereiro de 1844, o então inspetor João Chrysostomo Pupo relatou um fato curioso, da seguinte forma:
“Um evento quase incompreensível ocorreu nesta repartição entre os dias 14 e 21 de fevereiro. Em 13 de fevereiro, véspera da partida do correio, precisei abrir o cofre da alfândega para retirar dinheiro e realizar as transações programadas pela tesouraria. Naquela ocasião, o cofre estava em ordem. No dia seguinte, 14 de fevereiro, fui acometido por uma febre intensa e, até o dia 20, não pude comparecer à repartição. Contudo, no dia 24, ao despachar um barco e receber as taxas decorrentes dessa operação, que deveriam ser depositadas no cofre, percebi que ele se encontrava aberto. Imediatamente, chamei o Juiz Municipal, que na época ocupava um prédio ao lado da alfândega. Ele veio realizar o “corpo de delito” e constatou que a fechadura do cofre havia sido forçada, mas não quebrada, o que deixou todos ainda mais perplexos. Passaram-se os dias 25 e 26 e, na manhã do dia 27, o funcionário Joaquim Rodrigues da Silva me procurou e informou que, ao abrir sua porta, encontrou na soleira um papel com letras quase ilegíveis, declarando que o dinheiro roubado estava no pátio da alfândega. Instruí que a alfândega fosse aberta com toda a formalidade. Assim foi feito e, no pátio interno, foi encontrado um embrulho que, na presença do Juiz Municipal, foi aberto. Dentro, havia 31 contos e 614 mil réis, faltando 615 mil réis. Jamais consegui descobrir como o roubo foi realizado. Todavia, algumas observações foram feitas durante a investigação: no dia 21, uma janela no andar intermediário foi encontrada aberta, sem que o porteiro, que possuía a chave do cofre, tivesse sido informado. Provavelmente, o ladrão entrou e permaneceu escondido, realizando o roubo durante a noite.”
Se o feito já era incompreensível para o inspetor do século XIX, que podemos daqui do século XXI? Já se foram os tempos em que os ladrões roubavam apenas o quanto precisavam e devolviam o excedente.
LEITE, ZENON. Cron. Aduaneira. Itiberê, Paranaguá, ano 1, p. 1-164, 18 set. 1927.