Paranaguá é uma cidade cheia de histórias curiosas, muitas contadas com humor, o que as torna inesquecíveis para seus habitantes. Entre essas histórias, a do Club Litterario é uma das mais memoráveis, girando em torno de um personagem intrigante: Filó.
Esse senhor, cuja origem era incerta, chegou à cidade com uma aparência simpática e um jeito esperto, embora sem muita instrução formal. Carismático e com talento natural para a persuasão, Filó logo cativou a população. O jogo do bicho, inventado no Rio de Janeiro, já era popular no Brasil e, em Paranaguá, ele adaptou-se como “Jogo das Flores”.
Filó, inspirado pela ideia e pela aceitação da comunidade, criou o “Jogo das Flores”. Em vez de seguir sorteios da Loteria Federal, ele mesmo controlava o jogo, algo exclusivo da cidade. Curiosamente, o processo envolvia uma lousa com o nome da flor e um número correspondente, colocada em uma caixa de madeira e exibida na sacada de um prédio até o fim do dia. Às seis horas, a caixa era aberta, revelando a flor vencedora.
O jogo acontecia no Club Litterario, com a permissão do presidente, que cedia o espaço em troca de apoio financeiro para o clube. Filó também alugou uma sala no térreo, onde organizava o jogo e lançava “palpites” disfarçados em charadas, atraindo curiosos que passavam horas tentando desvendar os enigmas.
Apesar de a maioria perder, as raras vitórias logo se espalhavam. Os vencedores, recebidos com entusiasmo, eram interrogados sobre como haviam decifrado as charadas. Cada bilhete custava R$ 1$000 e o prêmio era R$ 20$000, entretendo tanto as classes populares quanto as mais altas, que se divertiam com o mistério do jogo. Filó, astuto, dava dicas que, apesar de parecerem claras, eram enigmáticas o suficiente para confundir os apostadores.
Outro caso curioso envolveu uma mulher que, ao interpretar uma charada que mencionava “Roma” e “calçar chinelas invertidas”, inverteu a palavra para “Amor” e apostou no “amor-perfeito”, ganhando R$ 40$. O fascínio pelo Jogo das Flores fazia parte da rotina de Paranaguá. Mas, como tudo o que é bom acaba, o jogo teve um fim inusitado. Antônio, um jovem de uma mercearia próxima à banca de Filó, tentou prever o resultado espiando a caixa por um furo na parede. Após apostar tudo o que tinha e incentivar outros a fazerem o mesmo, o resultado não correspondeu ao que ele havia visto, levantando suspeitas de trapaça.
Apesar da desconfiança, nada foi provado contra Filó, que naquela mesma noite desapareceu da cidade, deixando a lenda do “Jogo das Flores” e um misto de admiração e dúvida entre os habitantes. Assim, em 1897, Paranaguá foi marcada pela engenhosidade de Filó e pelos momentos de entretenimento que ele proporcionou, lembrados com um sorriso pelos moradores antigos.
VIANA, Manoel. Pguá na Hist e Trad. Pguá: [s. n.], 1971. 350 p. v. 1.