O Entrudo
O entrudo, prática carnavalesca amplamente difundida no Brasil entre os séculos XVII e XIX, é considerado o precursor do Carnaval. Introduzido pelos portugueses por volta de 1640, esse costume proporcionava um momento de irreverência pública.
Em Paranaguá, alguns foliões utilizavam máscaras para ocultar comportamentos inadequados, embora nem todos recebessem as brincadeiras de bom grado. Um caso curioso foi o de um jovem que se fantasiou de diabo, vestindo trajes vermelhos e ostentando um longo rabo.
Outra figura satirizada no Carnaval foi Fontoura, administrador da praça do Mercado (Mercado do Café). Seu jeito rígido e altivo inspirou versos que o retratavam com ironia:
“Foi imitado com graça,
Na festa do Carnaval;
Diz que esteve tal e qual,
Muito teso, meio à banda,
Como ele sempre anda.”
Entretanto, nem todos os mascarados demonstravam refinamento ou criatividade. Alguns optavam por gestos grosseiros, como o indivíduo que desfilou carregando um vaso sanitário de conteúdo duvidoso, ou outro que, de um camarote no teatro, insultou o público até ser removido pela polícia.
O Carnaval de 1862 foi tão marcante que levou à fundação da Sociedade Carnavalesca, o primeiro clube da cidade dedicado à organização dos festejos. A celebração oficial teve início em 8 de fevereiro de 1863, com um baile de máscaras realizado no Teatro Paranaguense. Para incentivar a participação popular, o principal comerciante da cidade — e único fornecedor de máscaras — publicou um anúncio intitulado “Vamos a ele!”, encorajando pessoas de todas as idades a aderirem à festa com máscaras de diferentes materiais.
Nesse anúncio, destacava-se que as famílias mais influentes do Rio de Janeiro já aderiam à tradição e que aqueles que a desaprovassem poderiam ser vistos como “inimigos do progresso”. Além disso, um novo lote de trajes carnavalescos chegou à cidade, disponibilizando opções para aluguel a preços acessíveis.
O tríduo carnavalesco, realizado entre 15 e 17 de fevereiro, foi repleto de festividades, com a realização de quinze danças por noite no teatro. Contudo, em 1864, uma epidemia de varíola atingiu a região do Emboguaçu, causando receio entre os foliões. Ainda assim, a festa não foi totalmente interrompida, e ocorreram bailes de máscaras no domingo gordo e na terça-feira. Além disso, manteve-se a tradição do peculiar “enterro do Carnaval”, um cortejo burlesco que percorreu a cidade ao entardecer. Nos dias anteriores, um grupo de mascarados a cavalo, acompanhado pela banda de música “Restauradora”, desfilou pelas ruas, mantendo viva a tradição.
Caro leitor, já imaginou um Carnaval celebrado dentro de um teatro? Pois foi exatamente assim que esta tradição teve início em Paranaguá. NASC JR, Vic. Carnaval. Coisas Nossas, Pguá, v. 5, n. 1, p. 175, 1 jan. 1971.