História, Memória e Patrimônio

A Gripe Espanhola em Paranaguá

O trânsito de pessoas entre os estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná, em 1918, era intenso, e a chegada da gripe em Paranaguá ocorreu em virtude de pessoas que vinham de áreas contaminadas

ksovpy

O trânsito de pessoas entre os estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná, em 1918, era intenso, e a chegada da gripe em Paranaguá ocorreu em virtude de pessoas que vinham de áreas contaminadas. Em 10 de outubro de 1917, o prefeito, José Gonçalves Lobo, solicitou auxílio ao Serviço Sanitário, uma vez que um homem oriundo do Rio de Janeiro, portador de gripe, havia falecido no Hotel Silvério. Ele teria viajado à cidade para o casamento da filha de um sírio. Outros sírios também vieram do Rio de Janeiro com a doença e, ao irem para Morretes e Antonina, os parentes levaram o vírus, acelerando a sua propagação.

Imagem Artguru

Jamais Paranaguá apresentara, durante o dia, um aspecto tão desolador, com suas ruas desertas, escolas e cinemas fechados, bares e cafés vazios. Diariamente, estabelecimentos comerciais encerravam suas atividades em razão de patrões e empregados estarem acometidos pela epidemia; chegou a faltar alimentos, pois até o mercado local carecia dos vendedores habituais. Não havia uma única residência na cidade que não abrigasse algum enfermo. À noite, o cenário era lúgubre, pois, além de a iluminação pública ser deficiente, foram dispostos, em todas as esquinas das ruas centrais, tambores com piche que ardiam em labaredas oscilantes, exalando espessa fumaça negra, cuja finalidade era afastar os insetos, uma vez que a malária era endêmica naquela época, o que poderia agravar a situação.

Medidas foram adotadas pelo governo: passageiros procedentes de áreas suspeitas, por via marítima, eram encaminhados à Ilha das Cobras para desinfecção e quarentena. Aqueles que chegavam por via terrestre também passavam por processos de controle sanitário. Equipes médicas foram enviadas às cidades vizinhas, e uma fiscalização rigorosa foi implementada na ferrovia Paranaguá-Curitiba, com o intuito de conter a epidemia. Apesar dos esforços, a gripe disseminou-se pelo país, devastando a população. Mesmo com o crescente número de casos, o Serviço Sanitário, em um primeiro momento, negou oficialmente a existência de surtos em algumas localidades, o que retardou a adoção de medidas mais drásticas.

Alguns devotos aflitos recorreram à sua padroeira, e no Livro do Tombo da Igreja Matriz encontra-se a seguinte referência: “Atingidos pelo flagelo da ‘gripe’, os católicos desta cidade, unidos todos num mesmo sentimento de devoção a Nossa Senhora e de firme confiança na sua poderosa proteção, desejaram tributar a Nossa Senhora do Rocio, mais uma vez, as homenagens de seu amor filial.”

“A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa.”

“E você, leitor, tomaria as precauções necessárias? Eu já me vacinei este ano; vai que a gripe espanhola resolve nos visitar.”

RONCAGLIO, Cynthia. Ap para uma história da saúde., 2001.

A Gripe Espanhola em Paranaguá

Fique bem informado!
Siga a Folha do Litoral News no Google Notícias.


A Gripe Espanhola em Paranaguá

Hamilton Ferreira Sampaio Júnior

Hamilton Ferreira Sampaio Júnior é pesquisador de história e genealogia, formado em Teologia e licenciado em História. Faz parte da Associação Brasileira de Pesquisadores de História e Genealogia e do Departamento Cultural do Club Litterario de Paranaguá, sendo também sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de Paranaguá. Atua em projetos históricos de resgate de memória, livros comemorativos e biografias, além de projetos museológicos e pesquisas documentais para segunda cidadania. Seu mais recente trabalho foi o livro comemorativo dos 100 anos da Associação Comercial Agrícola e Industrial de Paranaguá.