Parte 1
O Carnaval de Paranaguá começou a se consolidar como uma verdadeira festa popular e artística nos primeiros anos do século XIX. Esse processo se deu após a independência do Brasil e sua transformação em um Estado constitucional sob um regime liberal, libertando-se do rígido controle do absolutismo e da forte disciplina religiosa imposta durante o período colonial. Antes disso, qualquer comportamento considerado menos alinhado com os preceitos católicos poderia resultar em acusações de impiedade e na temida presença diante do Santo Ofício, sujeitando o indivíduo aos rigores da Inquisição.
Nessa época, o Carnaval de Paranaguá seguia o modelo das festividades cariocas, o que não era surpreendente, dada a intensa relação comercial mantida com a Corte. Embora a cidade não exibisse desfiles luxuosos como os descritos por cronistas estrangeiros sobre o Rio de Janeiro em 1821, a festividade não se restringia às manifestações populares mais rústicas e desprovidas de refinamento. Pelo contrário, buscava-se imprimir um toque de sofisticação e humor crítico tanto na vestimenta quanto nas encenações satíricas dos foliões, que comentavam, de forma espirituosa, os acontecimentos e personagens da época.
A primeira documentação concreta do Carnaval parnanguara data de 1862. Naquele ano, um pequeno anúncio publicado no primeiro jornal semanal da cidade informava a chegada de um carregamento de máscaras do Rio de Janeiro, disponíveis para venda na Rua do Rosário (hoje Rua Professor Cleto), esquina com a Rua Ouvidor (atual Pêssego Júnior). Esse foi o prenúncio da folia daquele ano, que ganhou força uma semana depois com o anúncio do “grande baile mascarado”, marcado para domingo, 2 de março, no Teatro Paranaguense. Esse teatro ficava na Rua Pêssego Júnior, entre a Silva Lemos e a subida para a Capelinha.
A festa carnavalesca teve início com a ópera Fra Diavolo, seguida de uma sequência de seis quadrilhas, duas polcas, dois xotes e duas valsas. O encerramento foi marcado pelo vibrante galope infernal. Cada apresentação fazia referência a eventos ou figuras da sociedade local, e os ingressos custavam 3$000 para os camarotes e 1$000 para a entrada geral. Além disso, era possível comprar ou alugar fantasias na Rua da Ordem (atual 15 de Novembro, nº 1). O Carnaval daquele ano foi tão animado que, em meio à euforia e ao clima de confusão, ocorreu um grande roubo na noite de terça-feira gorda, na Rua Direita (atual Marechal Deodoro, nº 57).
O entusiasmo foi registrado pelo jornal local, que descreveu os festejos em versos:
“Houve pilhéria engraçada,
Houve boa patuscada.”
Na próxima semana iremos falar sobre o Entrudo, Continua……NASCIMENTO JUNIOR, Vicente. Carnaval de outrora. Coisas Nossas, Paranaguá, v. 5, n. 1, p. 175, 1 jan. 1971.