História, Memória e Patrimônio

Capela do Senhor Bom Jesus dos Perdões: memória religiosa e histórica de Paranaguá

Convido-o a acompanhar-me em mais esta narrativa sobre a história da nossa cidade

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Prezado leitor,

Ao percorrer as ruas de Paranaguá, nas proximidades da atual agência do Banco do Brasil, existiu, outrora, uma importante capela. Convido-o a acompanhar-me em mais esta narrativa sobre a história da nossa cidade.

No início do século XVIII, a devoção popular foi responsável pelo surgimento de um dos mais significativos marcos religiosos de Paranaguá: a Capela do Senhor Bom Jesus dos Perdões.

A iniciativa partiu do cidadão José da Silva Barros, que, em 1710, solicitou à Câmara Municipal a concessão de um terreno para a edificação do templo.

A autorização foi concedida em dezembro daquele mesmo ano, e a construção da capela estendeu-se até 1772, com a devida anuência eclesiástica do bispo Dom Francisco de São Jerônimo, então responsável pela jurisdição espiritual da região.

José da Silva Barros exerceu a função de primeiro protetor da capela até seu falecimento, ocorrido em 1730.

A partir de então, sua esposa assumiu a administração, permitindo que a condução das atividades religiosas fosse confiada a provedores eleitos.

Nas décadas subsequentes, o templo tornou-se sede de distintas irmandades. Entre 1732 e 1782, foi ocupado pela Ordem Terceira de São Francisco; posteriormente, entre 1782 e 1796, abrigou a Irmandade de São Benedito.

Ao longo de sua existência, a capela contou com a atuação de diversos protetores de destaque, como o tabelião Gaspar Gonçalves de Morais e o comendador Manoel Francisco Correia. No século XIX, o templo assumiu papel relevante no contexto político e social da cidade.

Em 1831, sediou a fundação da Sociedade Patriótica dos Defensores da Independência e da Liberdade Constitucional, composta por moderados que atuavam em defesa da ordem e da liberdade no Brasil regencial.

Essa mesma sociedade foi transformada, em 1835, na Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Paranaguá, cuja instalação formal deu-se em 8 de dezembro daquele ano, em assembleia realizada na própria capela.

A partir de então, o templo passou a ser, simultaneamente, espaço de devoção e de assistência social, com a construção de um hospital anexo, que funcionou até o ano de 1900, quando a instituição foi transferida para um novo edifício.

Posteriormente, entre os anos de 1903 e 1936, o imóvel foi ocupado pelo Educandário São José.

Em decorrência de dificuldades financeiras, a Santa Casa vendeu a propriedade, em 1937, ao comerciante Carlos Lamberg. Pouco tempo depois, a antiga capela foi demolida, encerrando-se, assim, um relevante capítulo da história religiosa e comunitária de Paranaguá.

Atualmente, o local abriga estabelecimentos comerciais.

A Capela do Senhor Bom Jesus dos Perdões, embora fisicamente ausente, permanece como referência simbólica de fé, solidariedade e identidade cultural para o povo parnanguara.

Por essa razão, convido-o, prezado leitor, a, ao passar por aquele local, deter-se por um momento e imaginar como era essa importante construção da história de Paranaguá. E, como costumo afirmar, é imprescindível que busquemos conciliar a modernidade com a preservação da memória edificada, pois ambas constituem a essência da identidade de uma cidade.

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Hamilton Ferreira Sampaio Júnior

Hamilton Ferreira Sampaio Júnior é pesquisador de história e genealogia, formado em Teologia e licenciado em História. Faz parte da Associação Brasileira de Pesquisadores de História e Genealogia e do Departamento Cultural do Club Litterario de Paranaguá, sendo também sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de Paranaguá. Atua em projetos históricos de resgate de memória, livros comemorativos e biografias, além de projetos museológicos e pesquisas documentais para segunda cidadania. Seu mais recente trabalho foi o livro comemorativo dos 100 anos da Associação Comercial Agrícola e Industrial de Paranaguá.