Em 1944, a imprensa causou espanto ao divulgar os bombardeios em massa realizados pela aviação alemã contra cidades na Europa. A imprensa relatava-se o uso da tática de apagar as luzes das cidades para dificultar que aviões inimigos identificassem pontos de referência no solo, complicando a orientação das bombas.
Naquele contexto, era inimaginável que cidades distantes dos campos de batalha, como Paranaguá, no Brasil, precisassem adotar medidas similares, impostas pelas autoridades nacionais. Hoje, o termo “blackout” é corriqueiro, mas ainda evoca significados como “alerta de defesa”, “perigo” e “destruição”.
Paranaguá vivenciou seu primeiro “blackout” em 6 de setembro de 1944 à noite. O evento foi anunciado e planejado anteriormente. Às 20h, sirenes e sinos soaram em alerta, conforme orientações da Prefeitura Municipal. A cidade transformou-se: ruas desertas, janelas cerradas e lojas protegidas pelas portas de aço. Apenas fiscais circulavam para garantir que tudo estava no escuro.
Em locais abertos, era comum ver alguém deitado ao longo do meio-fio, obedecendo à recomendação de ficar de bruços para minimizar os impactos de explosões. Paranaguá, com disciplina, seguiu as ordens, demonstrando espírito patriótico.
Na escuridão, o silêncio era absoluto, proporcionando momentos de reflexão sobre os horrores da guerra, imposta ao mundo pela busca insana de poder, que levaria a Alemanha à ruína.
Imagine, leitor, estar na torre da antiga igreja da Ordem naquela noite. Ao lado do sino imperial, doado em 1883 por Dona Porcina Borges e Moura, seria possível vislumbrar ecos do passado nos muros brancos e corredores. Lembranças do antigo cemitério surgiam: o túmulo do Capitão-Mor Manoel Pereira e o mausoléu da Viscondessa de Nácar, restaurado nos anos 1940, permaneciam como vestígios.
Da torre, via-se a Rua 15 de Novembro, onde o Clube Republicano, fundado em 1887, simbolizava a luta local pela República. Porém, naquela noite, tudo desaparecia na escuridão. Apenas vaga-lumes iluminavam o céu, parecendo ignorar o “blackout”. Ao longe, era difícil distinguir a Ilha da Cotinga.
A cidade, envolta em trevas, parecia um gigante adormecido.
Por fim, a sirene do Hotel Palácio anunciou o término do exercício, e os sinos soaram para informar à população que o perigo havia passado. A luz retornou, trazendo alívio. As ruas voltaram à vida, mas a experiência ficou gravada nos corações como um lembrete da gravidade da guerra, que, mesmo distante, tocava nosso território.
Esse período nos faz refletir sobre como a humanidade esteve à beira da fragmentação. Imagine viver em um tempo em que nem uma lâmpada ou um cigarro podiam ser acesos. Assim foi nossa realidade, em um passado não tão distante.
Referências:
DE ABREU, Aluísio. Black Out em Pgua. C. Nos, Pguá, v. 1, n. 1, 1944.