Na primeira metade do século XVIII, a conversão moral e religiosa em Paranaguá teve como uma das figuras centrais a beata Joana Gomes Gusmão, chamada de “mulher santa” por sua vida de renúncia e sacrifício. Nascida em Santos no ano de 1688, era filha de Francisco Lourenço Rodrigues, cirurgião, e Maria Álvares, dona de casa.
A história de Joana Gomes Gusmão começa quando, em uma festa religiosa junto ao esposo na Vila de Iguape, aos pés do altar-mor, ela jura que, caso ficasse viúva, dedicaria toda a sua vida à prática da caridade. Por coincidência do destino, alguns anos mais tarde, no ano de 1745, ela ficou viúva e, em seguida, ingressou na Ordem Terceira de São Francisco das Chagas. Vinda a pé de Santa Catarina em 1745 para professar na Ordem Terceira de São Francisco das Chagas em Paranaguá, essa mulher envelhecida e franzina ficou vários meses na Vila de Paranaguá, pregando com a palavra e o exemplo, era comumente encontrada andando pelas ruas da vila, de sandálias, sem meias e com vestes feitas de “aniagem”, a pedir esmolas. No ano de 1745, essa admirável criatura, a “mulher santa”, recebeu o “hábito de freira” na igreja da Ordem Terceira de Paranaguá. O solene ato foi celebrado pelo Superior da Ordem Seráfica.
Seu trabalho foi tão grande e tão importante que, aos 80 anos, não mais podendo peregrinar devido às enfermidades, penitências e privações, resolveu dedicar-se a ensinar a ler e escrever às crianças pobres da redondeza. Faleceu aos 92 anos. A “mulher santa”, como era chamada, era irmã do célebre Bartolomeu de Gusmão, conhecido como o “padre voador”.
Henrique Fontes, educador e historiador, conta que após sua morte, os ossos de Joana foram exumados, recolhidos a um caixão e postos debaixo do altar do Senhor dos Passos em Florianópolis; reduzidos só ao crânio e fêmures, foram depois transferidos para uma urna, que ficou guardada na sacristia. Na mesma urna, hoje decorosamente colocada na parede esquerda da Capela e em situação bem visível, ainda se conservam as respeitáveis relíquias.
Aniagem: tecido grosseiro de juta, linho cru ou outra fibra vegetal.
Referência: JUNIOR, Vicente. História, Crônicas e Lendas: História, Crônicas e Lendas. 1. ed. Paranaguá: Prefeitura de Paranaguá, 1980. 411 p. v. 1.