História, Memória e Patrimônio

A Rosa dos Ventos

Nosso pensamento vagueia pelas ruas de pedras da Paranaguá do passado, dirigindo-se à ladeira da Fonte Velha, inteiramente calçada com pedras polidas pelo tempo. Eram pedras vindas da África e ...

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Nosso pensamento vagueia pelas ruas de pedras da Paranaguá do passado, dirigindo-se à ladeira da Fonte Velha, inteiramente calçada com pedras polidas pelo tempo. Eram pedras vindas da África e dos confins do mundo, utilizadas como lastro em navios.
Essas pedras permanecem ali como testemunhas coloniais, contemporâneas dos melancólicos e maciços paredões da fonte, que ostentam a inscrição de 1656. Ao contemplá-las, notamos a irregularidade de seu assentamento, mas admiramos a simetria. Sentimos a harmonia dos versos ao falar delas:

“Como não haveriam de durar e estar tão bonitas?! Negros de Nosso Senhor sofreram para carregar tanta pedra e assentá-las tão bem…” Valfrido Piloto

Incrustada na calçada da ladeira, encontra-se uma Rosa dos Ventos, que pode ser um monumento tão antigo quanto a Fonte Velha.

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Em uma época distante, os lastros dos navios eram compostos por pedras e areia, quer em seus estaleiros, quer em locais de carga, para garantir estabilidade ao enfrentarem o oceano. 

A Fonte Velha era, naquele período, a única fonte de água de boa qualidade na cidade; as demais eram salobras ou avermelhadas.

Documentos antigos já mencionavam a fonte em 1655, quando o local era conhecido como Gamboa, uma pequena enseada onde se pescavam os peixes que abasteciam os índios Carijó.

O Ouvidor Pardinho, ciente de que as pedras e a areia trazidas nos lastros eram descartadas no Rio Itiberê ou na baía, e para evitar o assoreamento, ordenou:

“Nenhuma embarcação poderá lançar seu lastro no interior da barra, exceto em terra, sob pena de multa e vinte dias de prisão para o capitão.”

A Câmara indicaria o local onde os navios deveriam despejar seu lastro, e as pedras passariam a ser aproveitadas em obras públicas.

“O lastro de pedra que os navios trouxessem deveria ser utilizado pelo conselho em obras públicas e no calçamento da vila.”

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Segundo o IPHAN:

“Mesmo dispondo o Brasil de rochas em abundância, constata-se a importação de pedras, como o lioz, vindas de Portugal nos lastros dos navios.”

Manoel Viana, em sua obra, relata:

“Em 1914, o prefeito inaugurou a rede de água. A partir daí, a ‘Fonte Velha’ foi abandonada. A ladeira dessa tradicional fonte é toda calçada com pedras trazidas da África. Elas vinham como lastro nos porões dos navios e serviram para os primeiros calçamentos da vila.”

Somente assim se percebe a importância histórica dessa calçada e da ladeira, bem como a necessidade de sua preservação.

MARCONDES, Moyses. Documentos para a História do Paraná. 1. ed. Rio de Janeiro: Anuaryo do Brasil, 1721. p.222.

A Rosa dos Ventos

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A Rosa dos Ventos

Hamilton Ferreira Sampaio Júnior

Hamilton Ferreira Sampaio Júnior é pesquisador de história e genealogia, formado em Teologia e licenciado em História. Faz parte da Associação Brasileira de Pesquisadores de História e Genealogia e do Departamento Cultural do Club Litterario de Paranaguá, sendo também sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de Paranaguá. Atua em projetos históricos de resgate de memória, livros comemorativos e biografias, além de projetos museológicos e pesquisas documentais para segunda cidadania. Seu mais recente trabalho foi o livro comemorativo dos 100 anos da Associação Comercial Agrícola e Industrial de Paranaguá.