História, Memória e Patrimônio

A Rainha da Moda

Paranaguá sempre teve personagens peculiares que marcaram época e permaneceram na memória da cidade. Nos anos 1950-1960, uma dessas figuras era Joaquina, uma senhora negra conhecida como a “Rainha da Moda”

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Paranaguá sempre teve personagens peculiares que marcaram época e permaneceram na memória da cidade. Nos anos 1950-1960, uma dessas figuras era Joaquina, uma senhora negra conhecida como a “Rainha da Moda”. Seu modo excêntrico de se vestir chamava a atenção por onde passava.

Joaquina era alta, forte e possuía traços marcantes. Seu estilo era singular: na cabeça, usava uma peruca improvisada de pano e, no corpo, vestia diversas saias sobrepostas, que aumentavam o volume de seus quadris, mas deixavam à mostra suas pernas finas e musculosas. Por esse motivo, também era chamada de “Maria Sete Saias”.

As crianças da cidade a respeitavam, mas muitas também sentiam medo – talvez pelo mistério que a cercava. Circulavam boatos de que Joaquina, na realidade, era um homem vestido de mulher, o que apenas alimentava as especulações sobre sua identidade. Entretanto, independentemente desses rumores, era uma figura presente no cotidiano da cidade e já conhecida por muitos moradores.

Joaquina seguia uma rotina bem definida: saía cedo, carregando um enorme saco de pano, e percorria diversas casas em busca de doações. Recebia dinheiro, roupas e alimentos de moradores que a ajudavam sem hesitação. Para muitos, sua presença já fazia parte do dia a dia de Paranaguá.

Residia em um casebre de madeira, com chão de terra batida, localizado na Estrada do Correia Velho – um local afastado e de difícil acesso na época. Mesmo diante das dificuldades, mantinha sua rotina. Após receber as doações, comprava o essencial para a semana, organizava tudo no saco e retornava para casa. Ao deixar as residências onde era acolhida, sempre se despedia com um aceno discreto, como se soubesse que no dia seguinte retornaria pelo mesmo caminho.

E assim foi por muitos anos, até que, em uma quarta-feira, Joaquina não apareceu. O que teria acontecido? Estaria doente? Sua ausência logo gerou preocupação entre aqueles que estavam acostumados a vê-la na cidade. Algumas pessoas decidiram procurá-la e, ao chegarem à sua residência, encontraram-na sem vida. A causa de sua morte nunca foi esclarecida, mas acreditava-se que tivesse ocorrido por motivos naturais.

O que mais surpreendeu, no entanto, foi um boato que rapidamente se espalhou: dizia-se que Joaquina guardava uma grande quantia em dinheiro, acumulada ao longo dos anos com as doações que recebia. Verdade ou não, esse detalhe apenas reforçou o mistério que sempre envolveu sua história.

Mas a grande questão que permaneceu foi: Joaquina era realmente uma mulher ou, como muitos diziam, um homem disfarçado? Esse segredo a acompanhou durante toda a vida e permaneceu mesmo após sua morte. O agente funerário, que teve acesso ao corpo, jamais revelou a verdade. Assim, a “Rainha da Moda” tornou-se uma lenda em Paranaguá, deixando sua história envolta em mistério e curiosidade.

E você, leitor, já conheceu alguma “Joaquina” ou a própria? 

Paranaguá é uma cidade sempre repleta de surpresas.

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A Rainha da ModaAvatar de Hamilton Ferreira Sampaio Júnior

Hamilton Ferreira Sampaio Júnior

Hamilton Ferreira Sampaio Júnior é pesquisador de história e genealogia, formado em Teologia e licenciado em História. Faz parte da Associação Brasileira de Pesquisadores de História e Genealogia e do Departamento Cultural do Club Litterario de Paranaguá, sendo também sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de Paranaguá. Atua em projetos históricos de resgate de memória, livros comemorativos e biografias, além de projetos museológicos e pesquisas documentais para segunda cidadania. Seu mais recente trabalho foi o livro comemorativo dos 100 anos da Associação Comercial Agrícola e Industrial de Paranaguá.