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História, Memória e Patrimônio

A Passagem do Século

No século XIX, o temor pelo fim do mundo também esteve presente em nossa cidade, influenciado por diversos contextos

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No século XIX, o temor pelo fim do mundo também esteve presente em nossa cidade, influenciado por diversos contextos. Naquele distante dia 31 de dezembro de 1899, Paranaguá estava tomada por grande apreensão. Circulavam rumores de que o mundo se acabaria naquela noite. Falsos profetas há muito anunciavam o apocalipse, afirmando que ele ocorreria antes da virada do século XX. Essa crença reacendia a antiga superstição do “fim do mundo”.

Quando o sol lançou seus últimos raios do dia 31, as famílias encontravam-se em polvorosa. As mães temiam pelo iminente fim do mundo, os homens discutiam nas esquinas sobre a possível extinção da existência. Alguns falavam em bolas de fogo vindas do céu, outros em uma gigantesca enchente, e outros ainda falavam em terríveis doenças.

Naquela noite, que poderia ser a última, o povo acabou vencido pelo pânico. Ninguém dormiu tranquilo na cidade. Os mais devotos parnanguaras decidiram passar seus derradeiros momentos na Matriz de Paranaguá, pois, estando em “solo sagrado”, tinham fé na intervenção da santa padroeira. A antiga igreja Matriz encheu-se de centenas de pessoas aflitas que se refugiaram no recinto, todos rezando diante do trono da Mãe de Deus enquanto aguardavam a catástrofe. À medida que o tempo passava, os rumores se intensificavam. Às 23:59, a tensão atingia o auge. Quando o sino deu as badaladas da meia-noite, saudando o novo século, para o espanto dos apreensivos, o mundo não  havia acabado. As pessoas, aliviadas, perceberam que haviam sido enganadas por profecias mal interpretadas e, alguns até atribuíram à padroeira a intervenção divina.

Nossa Senhora do Rosário sempre mereceu a devoção dos parnanguaras. No dia 1º de janeiro, continuaram as demonstrações de fé e gratidão, com diversos festejos populares promovidos pela Associação Paranaguense dos Empregados no Comércio. Este intrigante episódio de pavor coletivo foi marcado pela entrega de uma grande cruz de ferro, como uma expressão de gratidão a Deus, celebração e alívio pela entrada pacífica e alegre do século XX.

Imagem: Paranaguá, sem data

A cruz foi inicialmente erguida no pátio da Matriz e, depois, transferida para o Convento dos Jesuítas, onde adornou o arco cruzeiro das ruínas da capela. Com o tempo, a cruz foi retirada do local por ordem de alguma “douta”. Talvez a mesma cruz que marcou uma passagem de fé tenha ferido alguma crença pessoal. É uma pena que agora o paradeiro da mesma seja incerto.

Ref: VIEIRA DOS SANTOS,Mem Hist. de Paranaguá: [s. n.], 1850. 401 p.

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