Conheci Donald Trump em junho de 1993. Eu estava em Nova York para acompanhar uma palestra do então governador Requião a investidores americanos. Recebemos convites para ver Evander Holyfield contra Alex Stewart, em Atlantic City. Antes da luta, fomos apresentados a Trump, uma lenda dos negócios, dono do maior cassino do planeta, conhecido pelas declarações esdrúxulas sobre política e economia que costumava fazer. Ele despejava insultos contra Bill Clinton e seu vice, Al Gore, que ele chamava de Al Bore.
Trump falava e ria de suas próprias piadas de péssimo gosto. Não ouvia, só ele falava, parecia muito acelerado e cheguei a pensar, “esse homem cheira”. Sempre que uma mulher passava ao nosso lado, dizia o que qualquer cafajeste diz. Irritado com o coro da geral “free Tyson”, vomitou o que pensava sobre os negros. Nunca vi tanto preconceito acumulado em uma só pessoa. Durante a luta, levantava-se para dar socos no ar e gritar com Stewart, por quem torcia. Boquirroto, não economizava palavrões.
Holyfield venceu, Trump desistiu de falar sobre a luta e voltou a atacar Clinton, que fora empossado há alguns meses. Sem modéstia, afirmou que era o único americano preparado para presidir o País. Despediu-se com apertos de mão e sumiu escoltado por uma tropa de guarda-costas, dessas que se vê em filmes de Hollywood.
Rimos muito dessa pretensão que nos pareceu absolutamente descabida, sonho de um ignorante em sua soberba de milionário esperto. Essa era a minha impressão até a madrugada de hoje, quando aconteceu. Trump venceu Hillary Clinton e é o novo presidente americano, o homem mais poderoso do planeta, que pode tomar iniciativas desastrosas para toda a humanidade.
A responsabilidade de artigos assinados e as opiniões neles expressas não refletem necessariamente as opiniões deste portal.
A responsabilidade do autor se estende à correção ortográfica e demais regras gramaticais da língua portuguesa.