Se perguntados sobre o bem mais desejado sobre a face da terra, os homens, com certeza, diriam: liberdade!… Não há quem não inveje, vez por outra, os pássaros em vôos abertos pelo espaço sem compromissos, sem impostos, sem contas a dar, desfrutando apenas do prazer de viver. Quem, quando menino, e mesmo mais velho, não sonhou com aventuras pelo mar afora… Conhecer terras estranhas, pessoas diferentes com usos e costumes outros… e mesmo no dia-a-dia da vida quantos não temos desejado bater na mesa e clamar um basta e sair sem dizer para onde. Simplesmente sair; caminhar sem relógio, sem agenda, sem celular, sem pensar na volta!… Impossível! Estamos comprometidos com um sistema de vida inventado por nós, os humanos, e do qual excluiu-se a liberdade. Não bastassem todas as imposições do viver moderno, que obrigam o homem a participações, inúmeras vezes contrárias aos seus desejos, mas imperiosas para a sobrevivência digna: estudos, trabalho, etc. ainda criou dentro de si barreiras imensas que o transformam em prisioneiro, contra cujas amarras luta, mas impotente, porque suas pontas estão ligadas ao tempo e ao momento. Chega a ser engraçado, não fosse triste, ouvir o homem falar de liberdade e prender-se a preconceitos tolos: impor condições à aproximação entre pessoas. Avaliar posição social, situação financeira, nível cultural, rotulando tudo e todos em atitude salomônica de indiscutível infalibilidade. Clamamos por liberdade de fé, mas não nos desprendemos do comodismo morno em que nos colocamos, deixando nos cobrir por ondas de descrenças. Sonhamos com liberdade de criar, e permanecemos na inércia de cópias servis de modelos superados. Não abrimos espaços para a criatividade, temerosos de inovar, receosos por críticas adversas, limitamo-nos ao plágio, sufocando a inventividade que deixamos abafada, clamando por aflorar. Gritamos por liberdade de expressão, mas não nos concedemos oportunidade de novos horizontes conquistados através da pesquisa das verdades contidas nos grandes livros, contentando-nos com a pequenez surrada e sórdida de leituras fáceis, que de tão repetidas, não propiciam alargamento do intelecto, não desenvolvem talentos. Queremos liberdade e espaço para ser, mas presos à preocupação de parecer, assumimos situações falsas que nos afastam dos verdadeiros amigos, e de nós mesmos. Aspiramos por liberdade para inventar e criamos máquinas que não governamos e inexoravelmente somos esmagados por elas. Bom seria se pudesse passar o homem a limpo, livrá-lo dos borrões, das rasuras, e apresentá-lo novinho e puro, como no dia da criação, para novas e benfazejas oportunidades.
Ivone E. Marques.