Por: Kátia Muniz
Faço as contas e descubro que escrevo crônicas há uma década.
Fico surpresa com o tempo transcorrido e verbalizo em voz alta: “Parece que foi ontem”. Comumente, não sentimos o tempo passar, mas, quando nos damos conta, ele voou. Também me surpreendi pelo fato de desempenhar o mesmo ofício num período tão longo, pois não é da minha natureza demorar em um único lugar. Gosto do novo, de me reinventar, do medo do desconhecido, de me testar em outras áreas, de estreias, do frio na barriga que só os momentos ainda não experimentados proporcionam.
Mas tenho feito pouso nas letras e, claro, posso elencar alguns motivos.
O primeiro deles é o lado terapêutico que o processo da escrita propicia. Organizar os pensamentos, as ideias, os assuntos, saber o que penso em cada um dos temas, tudo isso provoca em mim uma ordenação interna e me ajuda, consideravelmente, no crescimento pessoal.
O segundo é, sem dúvida, a magia da criação ficcional. Demorei à beça para aprender a criar uma história que não havia experienciado. Assumir um eu que não me habita. Dar voz a uma personagem. Volta e meia, troco de pele, visto uma roupagem que não é minha, aproprio-me de histórias alheias, dou asas à imaginação. É uma experiência arrebatadora. Você, caro leitor, talvez não faça ideia do quanto.
O terceiro é porque escolhi, justamente, um gênero literário que possibilita alçar voo. A crônica é um salto sem paraquedas. Dá a sensação de vento no rosto, ar puro, janela aberta, respiro. É livre de regras e aprisionamentos. Não asfixia e nem engessa. Posso promover um bailado com as palavras. A liberdade faz morada aqui.
O quarto motivo? Sou apaixonada pelo cotidiano. Tenho um olhar aguçado, uma inquietação, enxergo detalhes, sou questionadora (muitas respostas não me servem), penso demais, transbordo. Como faço para dar conta desse caos interno? É ao escrever que minha alma serena.
Por fim, a crônica é um desafio constante. E é isso que me move. Sento em frente ao computador e, por mais que o ato diário seja o mesmo, nunca sei como o emaranhado de palavras vai terminar. A construção de um texto é singular. Os temas podem se repetir, mas a forma como são escritos não. Assim, não há rotina no processo de escrita de uma crônica e isso, por si só, torna a viagem vertiginosa.