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Tenho preguiça só de pensar em títulos longos, estejam eles em livros, filmes ou peças de teatro

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Tenho preguiça só de pensar em títulos longos, estejam eles em livros, filmes ou peças de teatro.

Por exemplo: não consigo ficar confortável em mencionar para a atendente da livraria um título contendo sete, oito ou dez palavras. Soa cansativo, geralmente, por isso preciso levar por escrito para não correr o risco de começar a falar e esquecer o restante.  

Sou tão adepta do encurtamento das frases, que me custa entender o porquê do exagero no uso de tantas palavras para nomear uma obra. 

Estou nesse preâmbulo todo para dizer que, dias atrás, procurei um filme para assistir e me deparei com “Antes que o diabo saiba que você está morto”, de 2007.

Digitar o nome do filme na barra de procura foi algo que me deixou irritada, mas mantive o propósito por causa do meu queridinho: Ethan Hawke.

Para vê-lo atuando, gasto as digitais nas teclas miúdas do controle remoto. E logo ele surge com aquele ar de menino maroto, esbanjando talento.

O filme não é leve, mas as cenas entrecortadas e bem dirigidas por Sidney Lumet fazem você grudar os olhos na tela.

“Dar um Google” resolve sua curiosidade pela sinopse. De spoiler apenas entrego que a primeira cena é de sexo, portanto, tirem as crianças da sala. No mais, é entretenimento para adultos e uma baita imersão na complexidade da alma humana.

Até onde somos capazes de ir quando nos falta a régua que mede a adequação para convivermos, pacificamente, dentro de uma sociedade?

Há podridão disfarçada em belos sorrisos. Há planos sórdidos sendo elaborados enquanto tragam cigarros e bebem uma dose de whisky. Há sujeira descendo pelo ralo em dias ensolarados.

Conforme o filme se desenrola, vai despindo o comportamento humano perverso, a frieza de uma mente egoísta, sempre usando como recurso o avançar e o retroceder no tempo, para assim melhor contar a história.

“Antes que o diabo saiba que você está morto” é um filme inteligente (característica que ando sentindo falta nas produções atuais, talvez por isso recorra aos filmes antigos) e vem com aquele cardápio doentio da alma humana, sem filtro e sem recortes. 

Misture tudo isso com excelentes atuações, roteiro ótimo e direção impecável e está entregue um combo completo. Tão bom que terminei o filme revendo o conceito do título gigante. Faz jus à obra. 

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Kátia Muniz

Kátia Muniz é formada em Letras e pós-graduada em Produção de Textos, pela Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Paranaguá (hoje, UNESPAR). Foi colaboradora do Jornal Diário do Comércio por sete anos, com uma coluna quinzenal de crônicas do cotidiano. Nos anos de 2014, 2015 e 2016 foi premiada em concursos literários realizados na cidade de Paranaguá. Em outubro de 2018, foi homenageada pelo Rotary Club de Paranaguá Rocio pela contribuição cultural na criação de crônicas.