Crônicas

Quando tudo isto acabar

“Quando tudo isto acabar, seremos pessoas melhores”.

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Tenho ouvido constantemente, durante este período de quarentena, a seguinte frase: “Quando tudo isto acabar, seremos pessoas melhores”.

Será? Sou a mulher dos questionamentos. O símbolo gráfico do ponto de interrogação é a minha bengala. Talvez seja por esse motivo que a inquietude me habite e eu acabe refletindo tanto sobre tudo.

Vejo, ouço, presencio, mas tem algo em mim que não deixa entrar todo esse emaranhado de informações a que somos submetidos, diariamente, sem que eu pare, faça perguntas e uma filtragem, para só então trazer comigo aquilo que me cabe. Aprendi a eliminar os excessos.

Acredito que períodos turbulentos servem para nos trazer algum tipo de ensinamento. Agora, que vamos nos tornar seres melhores é mexer em nossa essência. É fazer mudar algo que já está enraizado. É alterar padrões de comportamentos e, assim, gerar novas ações e atitudes.

Há sempre os dois lados: é possível sim, que em algumas pessoas ocorram mudanças significativas. Quem sabe descubram o altruísmo, a empatia, a doação, a importância de entender o significado de um momento, a valorização da família, do tempo, e uma série de outras condutas que as tornarão seres renovados. Por outro lado, há pessoas que continuarão assobiando para a vida, enquanto ocupam um lugar no planeta.

Um exercício para descobrir a sordidez da essência humana é acompanhar certos comentários escritos em redes sociais.

A falsa proteção da tela de um aparelho eletrônico faz ressurgir o ódio, o radicalismo, as agressões verbais, os julgamentos, a não aceitação daquilo que difere do modo de pensar dessas pessoas que acreditam que só elas são detentoras da razão e das certezas do mundo.

É muito rápido o ato de lançar uma palavra que vá ferir, ao mesmo tempo em que não há uma preocupação com as consequências dessa atitude. Assim, fica fácil apontar o dedo para o outro e ignorar, por completo, que todos nós somos falhos.

Atualmente, todos têm uma opinião formada sobre qualquer assunto, mas não se contentam em guardar para si. Partem para a escrita ferrenha e lançam golpes de intimidação, ofensas, humilhações e destilam o que há de pior no ser humano.

É perceptível que a insensibilidade e o egocentrismo caminham para um estado crônico. Não é somente um vírus que tem a capacidade de nos adoecer. Afinal, a partir do momento que não se estabelece uma correspondência que determinadas atitudes podem machucar gravemente o nosso semelhante, é porque já nos encontramos enfermos.

Quando tudo isto acabar

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Quando tudo isto acabar

Kátia Muniz

Kátia Muniz é formada em Letras e pós-graduada em Produção de Textos, pela Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Paranaguá (hoje, UNESPAR). Foi colaboradora do Jornal Diário do Comércio por sete anos, com uma coluna quinzenal de crônicas do cotidiano. Nos anos de 2014, 2015 e 2016 foi premiada em concursos literários realizados na cidade de Paranaguá. Em outubro de 2018, foi homenageada pelo Rotary Club de Paranaguá Rocio pela contribuição cultural na criação de crônicas.