Por: Kátia Muniz
Sabe aquele filme cujo título nem mesmo chama a sua atenção? Você acaba deslizando o dedo pela tela digital do totem, aparelho disponibilizado para a compra de ingressos no cinema, porque seu interesse, no momento, está voltado para os títulos em alta, principalmente nesta época que antecede a premiação do Oscar e a tão aguardada estatueta.
O trabalho de marketing realizado para a divulgação dos filmes, somado ao burburinho provocado pela mídia, aguça a curiosidade do público e, consequentemente, arrasta multidões às salas de projeção.
No entanto, o ato de rever conceitos pode, sim, nos entregar algumas surpresas. Como a que ocorreu quando me deparei com o cartaz de “Meu Bolo Favorito”. Bastou uma leitura rápida da sinopse, e a decisão estava tomada. Logo depois, eu já ocupava a poltrona 6 da fileira G, em um cinema de rua extremamente charmoso, situado na capital paranaense.
Apesar de encontrar alguma semelhança no roteiro com o também fabuloso “Nossas Noites”, protagonizado pelos atores Jane Fonda e Robert Redford, o longa-metragem abordado nesta crônica vai além.
Trata-se de um filme iraniano que traz para a tela temas espinhosos, por vezes difíceis de abordar. Contudo, o uso de simbologias e metáforas se faz presente e, por sinal, cai muito bem.
Em pauta: crítica política, invisibilidade do idoso, envelhecimento, solidão, vida, morte, amor, liberdade, mas sem deixar faltar a coragem, que acaba se tornando a mola propulsora capaz de criar um movimento em busca da felicidade.
Tudo isso dentro de uma narrativa simples, que em nenhum momento pesa a mão. Dessa forma, entrega ao espectador uma história que emociona pela delicadeza.
A quem assiste cabe a entrega sem amarras, apenas se deixando levar pelo envolvente drama, com diálogos tão certeiros que, de alguma maneira, soam de modo familiar. Bem como deliciar-se com os protagonistas ─ os dois já na velhice ─ buscando a tal felicidade, sem imaginar que ela ainda fosse capaz de revisitá-los.
Porém, não só revisita como os contagia em várias passagens inesquecíveis. Em uma delas, o ator principal menciona a seguinte frase: “Um brinde à melhor noite da minha vida.”
Uma noite convidativa para mostrar que a vida dos intensos nunca se dá na superfície, mas também serve para testar quanta felicidade ainda é possível aguentar.