Por: Kátia Muniz
Geralmente, as pessoas costumam ter uma enorme dificuldade para entender as nossas reclusões. Se não há doentes, não houve morte e a tríade (saúde, família e emprego) está em harmonia, por que então fulano anda com aquela cara?
Para elas, nosso silêncio só cabe em dores grandiosas ou em perdas irrecuperáveis. Não nos dão o direito de termos uma dor em menor grau.
Precisamos estar sempre serelepes, distribuindo sorrisos e alegrando ambientes. Não compreendem que a nossa porção “animador de auditório” também necessita de um tempo.
“O que você tem?”.
É preciso ter algo visível, palpável, como um braço quebrado, um machucado, um curativo à mostra. Dores internas não merecem descanso, são bombardeadas por questionamentos insistentes.
“Aconteceu alguma coisa?”.
O celular acusa mensagens. O telefone toca. Querem saber como você está ao mesmo tempo em que repetem frases desgastadas: “Vai passar”; “Anime-se, porque até o sol está brilhando lá fora”; “Veja, tem gente passando por situações muito piores”.
Por um lado, é bom percebermos que existem pessoas que se preocupam conosco, mas seria mais tranquilizador se, uma vez identificada a necessidade de se permanecer só, fôssemos respeitados.
Poucos entendem que não se trata de tristeza. É só um recolhimento que, em alguns momentos, é bem-vindo e se faz necessário. A faxina interna costuma ser mais trabalhosa, afinal organizar os cômodos de dentro requer empenho e silêncio. Livres de algumas das nossas inúmeras tralhas, aquelas que acumulamos interiormente, só assim somos capazes de ganhar leveza. São nossos excessos que, muitas vezes, impedem e dificultam a nossa caminhada.
Com a casa em ordem, os sorrisos verdadeiros desabrocham, fitamos os olhos do próximo e iniciamos uma boa conversa.
Mas, antes que isso aconteça, uma reflexão com nossos botões é o que nos basta.