Era um silêncio barulhento, com capacidade para despertar a atenção dos amigos mais íntimos. A reclusão dela não passou despercebida. Eles queriam, a qualquer custo, que ela voltasse à baila, com o sorriso marcando o rosto.
Quase ninguém entende que estar triste também faz parte da vida. Que nem todos os dias é possível estar em potência máxima, exalando alegria por todos os poros.
Os amigos a queriam de volta, na ativa, guerreando com os dias que convocam para a luta. Enquanto ela, só queria um tempo. Ficar em silêncio. Quando não, balbuciar algumas palavras. Nada de excessos. Logo ela, tão verborrágica!
“O que você tem?” “O que aconteceu?” Questionavam.
Ela entende que a preocupação deles é genuína. Que a importância dada ao seu sumiço providencial é uma forma de dizer que a amam, que a querem por perto. São da mesma tribo. Percebem a sua mudança repentina. É lindo vê-los, no esforço, para arrancá-la da letargia, das inúmeras palavras de incentivo e das mensagens motivacionais pelo WhatsApp.
Mas sair de cena faz parte do processo. É só um jeito de alinhar os pensamentos, de tentar colocar as ideias em ordem, de ajustar o foco para o que é relevante.
Ela não é mulher de se entregar ao mundo com um sorriso que não é verdadeiro, não é de fingir que está tudo às mil maravilhas, que todas as peças estão encaixadas e funcionando harmonicamente. Por ora, deixem-na mergulhada nela mesma. Organizando os medos e as inseguranças. Suturando as dores emocionais. Derrubando lágrimas no banho. Porque a quietude também é sinal de paz, tranquilidade e sabedoria.
É preciso entender que uma pessoa não é forte o tempo todo, que querer abraçar o mundo provoca efeitos colaterais e que a vida nem sempre entrega os tão almejados sonhos. O que incomoda por dentro deve, sim, ser visto com olhar atento, e que negligenciar as dores não nos torna estáveis.
Enquanto o sorriso não vem, recolhe-se. Pois toda alegria tem a sua hora certa de chegar.
Por Kátia Muniz