Crônicas

Amigos que ficam

É estonteante quando as almas se reconhecem

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Uma hora acontece. Você não planeja nada. A pessoa encosta do seu lado puxa um assunto qualquer e das duas uma: ou tudo flui, maravilhosamente, bem ou nada se encaixa.

Isso pode acontecer a qualquer momento da sua vida, tenha você três ou oitenta anos. Não importa. Basta que estejamos abertos às novidades e às surpresas que a vida trata de colocar à nossa frente. 

Não ser hermético conta muitos pontos. Sisudez não atrai ninguém. Falta de educação, dispensa comentários.

Estou falando sobre amizades, caro leitor.

Vocês se conheceram no jardim I e, a partir daí, selaram uma união e uma cumplicidade que são carregadas para a idade adulta. Vocês já dividiram confissões, já enxugaram reciprocamente muitas lágrimas, já vibraram com vitórias, já se decepcionaram lado a lado, já ficaram sem se falar por um tempo, já fizeram planos, já abandonaram outros tantos, e seguem por aí, acumulando histórias.

É estonteante quando as almas se reconhecem. Faz um bem enorme carregar com a gente aquela pessoa que compreende os nossos absurdos e nos dá a mão indicando que devemos seguir em frente, mas não sozinhos.

Aquela pessoa em que a gente sabe que pode pensar em voz alta, que é confiável, que está disposta a ajudar e não a fazer pré-julgamentos, que podemos escancarar o lado B, aquele que todo mundo carrega, mas que, por não fazer uma boa propaganda de nós mesmos, convém que o deixemos preso em algum canto dentro da gente. Até que tudo começa a pesar demais e dividir com alguém o nosso amargo é somente uma das formas de dar leveza à caminhada.

Temos amigos. Vários, por sinal. Amigos do trabalho, amigos para ir ao cinema, amigos com gostos gastronômicos idênticos, amigos que nos acompanham nos exercícios físicos, amigos para um happy-hour, amigos nas redes sociais. Nada impede a departamentalização.

Mas há aqueles que nos acompanham em tudo isso e muito mais. São para poucos que liberamos o acesso à nossa alma.

E são para esses, em especial, que dedico essa crônica.

Porque amigo de verdade é aquele que decide ficar, mesmo conhecendo o nosso avesso.

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Amigos que ficamAvatar de Kátia Muniz

Kátia Muniz

Kátia Muniz é formada em Letras e pós-graduada em Produção de Textos, pela Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Paranaguá (hoje, UNESPAR). Foi colaboradora do Jornal Diário do Comércio por sete anos, com uma coluna quinzenal de crônicas do cotidiano. Nos anos de 2014, 2015 e 2016 foi premiada em concursos literários realizados na cidade de Paranaguá. Em outubro de 2018, foi homenageada pelo Rotary Club de Paranaguá Rocio pela contribuição cultural na criação de crônicas.

Amigos que ficam

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