Crônicas

A mão que acenava e os emojis

Palavras conferem beleza. Excessos de emojis e imagens reencaminhadas apenas colorem o que não foi escrito

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Um tempo atrás, o aplicativo “Messenger”, do Facebook, tinha como recurso o símbolo de uma mão que, uma vez acionada, automaticamente, aparecia na tela do interlocutor indicando, com um aceno, o chamamento.

Podia até ser prático e moderno, mas, pelo jeito, não fez sucesso, pois as novas atualizações trataram de excluir a tal mãozinha. 

Ao vivo, o cenário se modifica completamente. Por exemplo: Se você está de um lado da rua e avista um conhecido do outro, o cumprimento com o aceno de mão é válido e cumpre sua função. Mas na ausência da presença física que as telas de celulares e computadores conferem, é preciso mais.

A mão que acenava na tela indicava uma certa preguiça por parte do remetente, que, provavelmente, fazia uso do recurso automático para não cansar os dedos nas teclas, não ter que escolher as palavras e, por consequência, não se preocupar com os sinais de pontuação.

O artifício, simplesmente, transferia ao interlocutor a iniciação da conversa. E se o outro acenasse também, como resposta, permaneciam nesse impasse sem travar nenhum diálogo. 

Seguem a mesma linha os excessos de emojis. A pessoa não escreve que está feliz, manda uma carinha sorrindo. Ela não lhe dá os parabéns pela passagem do seu aniversário, envia várias palminhas; e mais, se você disser que está triste, logo receberá uma carinha em lágrimas como forma de solidariedade.

Não há diálogos, somente figurinhas. Parece álbum ou caderno de adolescente decorado com adesivos e colagens.

Um “bom-dia” escrito pode valer muito mais que imagens de flores, sol, cachorrinhos, ursinhos, borboletas e joaninhas entregues, aleatoriamente, para cumprir com o mesmo propósito.

A alegria de receber uma frase completa, tal qual: “Como você está?”, pode salvar o dia. Do outro lado está alguém que demonstrou cuidado, atenção, carinho e empenho. É muito diferente de receber uma imagem que já foi exaustivamente reencaminhada.

A praticidade enterra a magia dos sentimentos escritos, das palavras encaixadas, das frases completas, dos sinais gráficos, dos pensamentos elaborados.

Ninguém pode ser autêntico tendo cinco mil amigos virtuais. É superficialidade demais para dar conta. É muito grupo de WhatsApp com excesso de participantes e trocas de mensagens com conteúdos vazios.

Palavras conferem beleza. Excessos de emojis e imagens reencaminhadas apenas colorem o que não foi escrito.

A mão que acenava e os emojis

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A mão que acenava e os emojis

Kátia Muniz

Kátia Muniz é formada em Letras e pós-graduada em Produção de Textos, pela Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Paranaguá (hoje, UNESPAR). Foi colaboradora do Jornal Diário do Comércio por sete anos, com uma coluna quinzenal de crônicas do cotidiano. Nos anos de 2014, 2015 e 2016 foi premiada em concursos literários realizados na cidade de Paranaguá. Em outubro de 2018, foi homenageada pelo Rotary Club de Paranaguá Rocio pela contribuição cultural na criação de crônicas.