Crônicas

Balas Soft

As balas soft não podiam faltar. Grandes, coloridas, redondas e duras. Duras o suficiente para nenhum dente ser capaz de quebrá-la.

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Se você não viveu os áureos tempos da década de 80, é possível que nunca tenha visto uma bala soft na vida. Mas, por curiosidade, pergunte ao seu pai ou à sua mãe e eles terão não uma, mas várias histórias para contar sobre ela.

Faço parte da geração “bala soft”, em que uma das alegrias da vida era parar diante de um baleiro de vidro, cheio de compartimentos, recheado por balas coloridas e diversas outras guloseimas, girá-lo no sentido horário e anti-horário, enquanto os olhos se alegravam e a boca salivava.

Sacávamos umas moedinhas do bolso e comprávamos quantas balas o dinheiro fosse capaz de pagar.

As balas soft não podiam faltar. Grandes, coloridas, redondas e duras. Duras o suficiente para nenhum dente ser capaz de quebrá-la. Mais fácil a bala tirar uma lasquinha do dente, ao tentar mordê-la, do que o dente quebrar a bala.

A expressão “chupar bala” cabia perfeitamente para a bala soft. Era colocar uma na boca e esquecer das horas. A vantagem era que ela demorava a se decompor.

As crianças daquela época não paravam quietas. Enquanto a “soft” permanecia na boca, a garotada estava correndo, brincando, pulando, falando e gastando os gerúndios necessários até que…Glupt! Na agitação toda, volta e meia a bala escorregava para a garganta e permanecia presa ali. Quem passou pela experiência sabe o real sentido da palavra desespero.

Enquanto estávamos de olhos arregalados e com falta de ar, havia um adulto, sem dó nem piedade, a esmurrar nossas pequenas costas no intuito de que a bala desafogasse a passagem e nos devolvesse o ar.

Não era uma questão que se resolvia em segundos. Destravar uma bala soft, devidamente presa na garganta, era um trabalho hercúleo.

Naqueles segundos, que representavam décadas, aparecia uma tia com um copo de água, uma avó desesperada que andava de um lado para outro deixando a cena ainda mais sinistra, enquanto pai e mãe ou só um deles colocava a mão na massa e, na execução da tarefa, não mediam esforços para nos salvar. Entenda por essa expressão: colocar a criatura de ponta-cabeça, bater no peito de quem estava com a “soft” presa na garganta, chacoalhar a cabeça enquanto a criança, já roxa, jurava nunca mais colocar uma bala daquelas na boca.

Não sei até hoje qual era a providência que continha a sua eficácia, mas chegava um momento em que a bala descia de uma vez, provocando a sensação de ir rasgando tudo por dentro ou era catapultada pela boca a quilômetros de distância nos devolvendo, assim, a capacidade de respirar livremente.

Susto passado, a pirralhada estava de volta às brincadeiras até que um coleguinha dizia que ia ao mercadinho comprar balas. Retornava, adivinhe, com um pacotinho cheio de balas soft. Glupt!

Balas Soft

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Balas Soft

Kátia Muniz

Kátia Muniz é formada em Letras e pós-graduada em Produção de Textos, pela Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Paranaguá (hoje, UNESPAR). Foi colaboradora do Jornal Diário do Comércio por sete anos, com uma coluna quinzenal de crônicas do cotidiano. Nos anos de 2014, 2015 e 2016 foi premiada em concursos literários realizados na cidade de Paranaguá. Em outubro de 2018, foi homenageada pelo Rotary Club de Paranaguá Rocio pela contribuição cultural na criação de crônicas.