O bispo da Diocese de Paranaguá, dom Edmar Peron, explica as orientações que foram adotadas pela Diocese de Paranaguá sobre as celebrações da Semana Santa e da Páscoa, neste momento em que o mundo enfrenta uma pandemia e a recomendação é o isolamento social.
Dom Edmar destaca que as orientações seguiram os recentes decretos da Santa Sé – Congregação para o Culto Divino e a Disciplina: Em tempo de Covid-19 bem como disposições da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), na qual dom Edmar é presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia.
Além disso, o bispo fala sobre como os católicos se prepararam para a ressurreição de Cristo, momento mais importante para a Igreja Católica. Confira:
Folha do Litoral News: Estamos vivendo um momento diferenciado devido à pandemia da Covid-19. O senhor expediu um comunicado com orientações sobre as celebrações da Semana Santa e da Páscoa. Poderia nos falar sobre as recomendações?
Dom Edmar: As recomendações não foram simplesmente inventadas por mim. Eu tomei os textos dos documentos que vieram de Roma, enviados sobre a autoridade do Papa Francisco para que as celebrações pudessem ser adaptadas, mais simplificadas, nessa situação da pandemia. Depois, recordava os padres que uma vez que as celebrações são transmitidas é muito importante a pregação deles, e que se esforcem ainda mais do que têm se esforçado para prepararem as pregações. Porque com a palavra de Deus, elas, as pregações, alimentarão o povo neste momento em que celebramos a Páscoa desse jeito, não reunidos em comunidade, mas nas casas. Para as pessoas eu recordava que ao mesmo tempo que nós assistimos as transmissões, é preciso que as pessoas possam celebrar em família, se encontrarem, rezarem juntas, resgatarem isso que para muita gente tinha se perdido, que é a oração em família. Por enquanto nós manteremos as celebrações desse modo sem a participação normal dos fiéis, porque as autoridades sanitárias ainda nos pedem o distanciamento social. Cada um tem que cuidar do outro, cuidando de si para não ser contaminado e nem contaminar outra pessoa.
Folha do Litoral News: – Como as pessoas podem vivenciar espiritualmente a Páscoa em meio ao isolamento social?
Dom Edmar: As pessoas podem celebrar sempre em casa. Elas podem ver as transmissões e deixar que a palavra de Deus anunciada em cada celebração caia em seus corações, especialmente com o auxílio das homilias, mas é muito importante que as próprias famílias ou as pessoas singularmente, aproveitem esta ocasião para rezar. Que as pessoas retomem este costume, que para muitas pessoas, aliás se perdeu: a oração em família, a oração à mesa, o celebrar juntos.
Há ótimos roteiros para que aconteça uma celebração na casa, uma liturgia doméstica. A página da CNBB oferece subsídio celebrando a palavra no Dia do Senhor – celebrando em família, a página das pias discípulas do divino mestre ou apostolado litúrgico prepararam roteiros muito simples que ajudam as pessoas a celebrarem. No texto de domingo passado, eu escrevi dando algumas orientações como a pessoa poderia ir cada dia organizando um pequeno altar para sua oração, colocando ali algum elemento daquele dia do Tríduo da Páscoa. Assim, a própria família poderá celebrar na sua casa a Páscoa e a comunhão, e a unidade da nossa Igreja também se daria para acompanhar as celebrações. Mas, insisto que mais importante do que acompanhar as celebrações é rezar juntos. A pessoa que não tem como baixar os terços e rezar, então também poderá somente assistir as transmissões.
Folha do Litoral News: Qual será a programação da Diocese neste Domingo de Páscoa?
Dom Edmar: Como orientação para as famílias é que se reúnam, tomem daquela água que colocaram no pequeno altar na noite da Quinta-feira Santa, rezem o Creio, abençoem a casa e depois terminem com o Pai Nosso. As famílias podem celebrar a bênção da casa no Domingo de Páscoa no horário que for melhor para elas. As missas nós teremos aqui na cidade, e cada paróquia está organizando sua transmissão. Na Catedral eu celebrarei às 9 horas da manhã, sendo a celebração transmitida pela Rádio 104 FM e web rádio Nova Arca e o vídeo é transmitido pela página da Diocese de Paranaguá no Facebook.
Folha do Litoral News: O Senhor poderia nos fazer uma reflexão deste momento em que as pessoas não poderão celebrar a tradição católica de procissões, missas e celebrações pascais?
Dom Edmar: Primeiro, é preciso tomar consciência que em muitos lugares da nossa diocese, do Brasil, as pessoas também não têm condições de celebrar a Páscoa. Não só por causa do novo Coronavírus, a Covid-19. Elas estão muito distantes, a presença do padre é rara, tem comunidade que recebe o padre, celebra a Eucaristia uma vez a cada semestre. Então é a hora de nós fazermos a comunhão espiritual com essas comunidades, com essas famílias que não têm quase nunca a possibilidade de celebrarem juntas a Páscoa do Senhor. Esta nossa comunhão espiritual tem que marcar na dor, no sofrimento de não ter como é viver sempre assim. E isso acontece muito no Brasil para não falarmos de outros lugares. A segunda palavra que eu diria é que nós necessitamos parar. É preciso ter tempo de parada. Desligar-se das coisas e desligar todas as coisas. Nesse tempo de parada tomar a palavra de Deus e de preferência o evangelho anunciado a cada dia, na quinta-feira à noite, na sexta-feira, no sábado e no domingo de Páscoa, cada dia. Parar e rezar ao Espírito Santo para que ajude você, se estiver sozinho, ajude a família a ser alimentada pela palavra de Deus de cada dia. Terceira atitude espiritual é saber dar graças a Deus pelas tantas oportunidades que nós temos que temos tido de celebrar a Páscoa, de celebrar a Eucaristia e ao mesmo tempo batendo no peito e pedir perdão a Deus. Dar graças a Deus pelas oportunidades. Penso que seriam algumas reflexões que precisamos fazer, algumas atitudes a tomar para bem vivermos esse tempo sem as tradicionais celebrações católicas.
Folha do Litoral News: Qual mensagem o senhor deixa aos fiéis para vivenciar a Páscoa?
Dom Edmar: Eu creio que esta crise provocada pela pandemia da Covid-19 se mostra dura. Ela traz consigo insegurança, medo, doença, morte e empobrecimento. São sinais que nos fazem sofrer para pensar espiritualmente, são sinais de morte. Mas é verdade que a cada dia nós vemos um exemplo de muitas pessoas dedicadas no serviço aos outros. Quando ouço passando o caminhão que recolhe o lixo da rua, gente se dedicando, quando vejo que médicos e enfermeiras estão nos hospitais quase sem tempo de irem para suas casas. Quando vejo o esforço do prefeito, do governador, enfim das autoridades em buscar caminhos para conter o avanço da epidemia. Quando vejo os esforços dos cientistas se dedicando em descobrir a cura para essa doença. Vejo que são sinais de ressurreição. A Páscoa de Jesus Cristo ela é Cruz, Sepultura e Ressurreição. Vemos o sofrimento, a dor e a morte, sinais de que a cruz de Jesus está muito próxima de todos nós. Nos choca, nos envolve, mas também percebemos que a ressurreição, a vida nova também está muito perto de nós. Tenho certeza que nós poderemos ser uma humanidade melhor, poderemos ser gente que pensa mais nos outros, que respeita mais, que será capaz de amar mais os empobrecidos. Creio que nós seremos mais cuidadosos com o planeta, cuidadosos com a natureza, com as nossas ruas, com as árvores, com o combate à dengue, que está sempre nos perseguindo. Eu creio que algo novo poderá surgir dentro de nós, porque Cristo ressuscitou. Assim é que eu desejo toda graça de um passo novo na sua vida, de alegria de santidade, de vida nova. Feliz Páscoa a cada um e a cada uma de vocês.