Envolvimento com drogas é principal ato infracional cometido por menores em Paranaguá

Órgãos se deparam com cenário preocupante e desafiador no município

Entre os atos infracionais ocorridos no Brasil, a maioria, 43%, estão relacionados a roubos. Em Paranaguá, o envolvimento com drogas é maior, seguido dos roubos, contrariando a realidade nacional. Segundo o último levantamento do Creas, no município, alguns bairros se destacam neste índice. A Ilha dos Valadares é a região com maior número de adolescentes infratores, aparecendo nas estatísticas com 11%. Também entram no ranking, Jardim Iguaçu (7%), Vila Guarani (6%), Jardim Esperança (5%), Porto dos Padres (4%), Vila Divineia (4%) e Vila Garcia (4%).

Esse dado só mostra o que a população tem visto diariamente nas notícias policiais, com cada vez mais menores no mundo do crime. Mais recentemente, em um sequestro envolvendo uma professora no município, quatro dos cinco assaltantes eram menores. Frente a este cenário preocupante e desafiador para o poder público, órgãos de proteção e amparo a criança e ao adolescente, como o Creas (Centro de Referência Especializado em Assistência Social) e o Conselho Tutelar de Paranaguá, comentaram sobre a atual situação e quais as possíveis saídas para mudar essa realidade ou, ao menos, começar a melhorá-la.

Segundo o psicólogo do Creas, Felipe José Silva de Carvalho, a maioria dos atos infratores na cidade são cometidos por meninos. Entre os atendidos pelo Centro, a maioria tem 17 anos (29%) e 18 anos (29%), seguido dos de 15 anos (24%), 14 anos (12%) e 16 anos (6%). “Vários fatores podem levar um jovem à criminalidade. Pensando no perfil desse jovem, ele é de uma realidade socioeconômica muito baixa, que possibilidades ele vai ter para seguir uma profissão? O que o poder público tem para ofertar para esta população? O que o tráfico tem que o poder público não tem de possibilidades a oferecer? O que vemos diariamente são jovens que foram negligenciados a vida toda, que não tiveram os seus direitos básicos garantidos. São invisíveis para a sociedade”, indagou.

Em segundo lugar aparecem os roubos, nos quais são realizados pela busca incessante de se inserirem de alguma forma na sociedade. “Um adolescente que a gente atendia chegou a falecer porque foi linchado pela população. Ele me falava que na rua a gente é o que a gente tem. Eles roubam para ter uma roupa de marca ou um boné bacana, um celular, é uma maneira deles existirem. Esses objetos garantem, de alguma forma, uma inscrição social”, relatou Felipe.

CONSELHO TUTELAR

Já foi cogitada a criação de um Conselho Tutelar na Ilha dos Valadares, mas, de acordo com Getúlio Rauen, conselheiro tutelar, isso não acontecerá e também não seria o suficiente para melhorar a realidade dos jovens na região. “A Ilha precisaria de um Conselho, mas não só, pois somos um órgão fiscalizador, encaminhador e que zela pelas crianças e adolescentes. Mas, entendemos que a Ilha também precisa de um Creas, de um Caps, de toda uma estrutura de políticas públicas para esses adolescentes”, abordou Getúlio.

Outro problema encontrado é a impossibilidade de atendimento nas ilhas e comunidades marítimas. “Recebemos muitas denúncias com relação ao tráfico de drogas, à prostituição, e o que vai ser dos nossos jovens daqui a 15 ou 20 anos?”, refletiu Getúlio.

Se o problema é com relação ao envolvimento com drogas, uma das dificuldades encontradas é o de dar o encaminhamento correto a esses jovens. “Nossa maior demanda aqui no Conselho são adolescentes que fazem uso de entorpecentes. Só a consulta no psicólogo demora 40 dias, para chegar ao psiquiatra, mais 60 dias, para conseguir um internamento, de seis meses a um ano. Na condição que temos hoje, o adolescente não tem condições de esperar, ele morre, rouba, mata, tem seus direitos violados”, expôs Getúlio.

De acordo com ele, o primeiro passo para melhorar esse cenário é o incentivo a políticas públicas. “O governo não proporciona uma estrutura para que a gente possa trabalhar com esses adolescentes. Temos um Creas e 160 mil habitantes, o índice de adolescentes em conflito com a lei é enorme, as equipes são muito pequenas para o número de habitantes”, afirmou Getúlio.

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