Um nutricionista declarou numa dessas revistas da moda que as pessoas felizes não são atacadas pelo câncer. A declaração representa uma esperança, mas também um terrível impasse. Ante ao terror que só o nome da doença provoca em nós, não hesitamos em buscar a qualquer custo uma saída para o mal. Mas o recurso apresentado pelo cientista parece-nos tão remoto… Porque a humanidade, em grande parte, não tem feito outra coisa na vida senão a felicidade. A esperança é verde, a paixão é vermelha, a paz é branca, a bonança é azul, a indiferença é amarela – e a felicidade? Nem a sua cor sabemos. De que disfarces ela se utiliza a fim de sempre ludibriar o homem e nunca ser alcançada inteiramente? Será ela tão grande que o homem na sua insignificância não consegue dimensioná-la? Ou tão brilhante que deslumbra os perecíveis olhos humanos? Ou, quem sabe a felicidade seja tão simples que o orgulho humano não se digna em considerá-la? Um poeta, Vicente de Carvalho, não alcançou a felicidade, mas se justificou dizendo:
“Existe, sim, mas nós não a alcançamos porque está sempre apenas onde a pomos e nunca a pomos onde nós estamos.”
Eis bem dita a razão de não sermos felizes por inteiro. Necessário se torna que o homem aprenda a se contentar com o que possui. Qual mestre virá dar à humanidade aulas para combater a ambição, a inveja, a volubilidade, a insaciedade? Um tentou há dois mil anos e o que lhe aconteceu? Se tornasse hoje seria mais bem sucedido? Quem o garante?
A responsabilidade de artigos assinados e as opiniões neles expressas não refletem necessariamente as opiniões deste portal. A responsabilidade do autor se estende à correção ortográfica e demais regras gramaticais da língua portuguesa.