Religiosidade

A fé que move Paranaguá na história da devoção à Nossa Senhora do Rocio

Das águas da baía de Paranaguá ao coração do Paraná, a história da Padroeira que se tornou símbolo de fé, esperança e identidade de um povo

Em 1977 Nossa Senhora do Rocio foi proclamada Padroeira do Estado do Paraná (Foto: Santuário do Rocio)

Em 1977 Nossa Senhora do Rocio foi proclamada Padroeira do Estado do Paraná (Foto: Santuário do Rocio)

A história de Nossa Senhora do Rocio, padroeira de Paranaguá e do Estado do Paraná, é uma das mais belas expressões da fé popular brasileira. Mais do que um símbolo religioso, a devoção à Virgem do Rocio atravessa séculos, gerações e fronteiras, consolidando-se como um dos maiores movimentos de fé do Sul do país. Tudo começou há mais de três séculos, quando pescadores encontraram uma pequena imagem de Nossa Senhora flutuando nas águas da Baía de Paranaguá, no local conhecido como Rocio, palavra de origem espanhola que significa “orvalho”, símbolo da bênção divina.

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Segundo a tradição, o achado milagroso ocorreu por volta do século XVII, em um período de grandes dificuldades para os moradores da região. O surgimento inesperado da imagem foi interpretado como um sinal de proteção celestial. Os devotos construíram uma pequena ermida no local, onde passaram a se reunir para rezar e agradecer as graças alcançadas. Aos poucos, a fama de Nossa Senhora do Rocio se espalhou pelo litoral e pelo interior, atraindo romeiros e peregrinos de todas as partes.

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“Famílias inteiras retornam à cidade durante a festa, ano após ano, para participar da procissão e das novenas, são encontros e reencontros”, disse o historiador e colunista da Folha do Litoral News, Hamilton Ferreira Sampaio Junior (Foto: Arquivo pessoal)

“A devoção a Nossa Senhora do Rocio tem sido um dos símbolos de identidade mais vibrantes e queridos do povo de Paranaguá desde criação da Vila de Paranaguá, lá no século XVII. O passado e o presente se misturam, de certa forma, em quase todos os lugares por onde se anda nas ruas de Paranaguá durante a festa. Cada procissão é um rio de cor, de velas acesas e rostos iluminados que nos lembram que todos fazemos parte de algo maior. Novenas, hinos e orações são rituais recorrentes — atos de compaixão, esperança e pertencimento. São vozes que se entrelaçam, que tecem — histórias contadas das famílias que se foram, famílias que trazem crianças à mesa com elas para compartilhar a mensagem — em seus corações”, destacou o colunista da Folha do Litoral News e historiador, Hamilton Ferreira Sampaio Junior.

Com o tempo, os relatos de milagres atribuídos à intercessão da Santa se multiplicaram. Doenças curadas, tempestades que cessavam, pescadores salvos do mar revolto com histórias de fé que se tornaram parte viva da cultura parnanguara. O nome de Nossa Senhora do Rocio foi sendo passado de geração em geração, consolidando-se como uma devoção que une fé e identidade local.

“Famílias inteiras retornam à cidade durante a festa, ano após ano, para participar da procissão e das novenas, são encontros e reencontros. Esta festa também é sobre risos, mãos dadas, abraços espontâneos, abraços não planejados e olhares que se encontram com um reconhecimento mudo: “Estamos compartilhando isso também, esta história.” Cada passo ao redor da procissão é uma experiência física de sentir o pulsar da cidade. Os mais velhos celebram eventos de anos anteriores com emoção, os jovens veem a tradição como um poder, e assim as pessoas nesses eventos sustentam valores e crenças comuns, passando da mesma forma para as gerações futuras”, completou Hamilton Ferreira Sampaio Junior.

Em 1813, foi construída uma capela de alvenaria no mesmo local da antiga ermida. E no século XX, com o aumento do número de fiéis, iniciou-se a construção do Santuário Estadual de Nossa Senhora do Rocio, inaugurado em 1920. Hoje, o templo é um dos principais destinos do turismo religioso do Paraná, recebendo milhares de visitantes ao longo do ano, especialmente durante a Festa Estadual de Nossa Senhora do Rocio, celebrada em 15 de novembro.

O reconhecimento oficial veio em 1977, quando Nossa Senhora do Rocio foi proclamada Padroeira do Estado do Paraná pelo Papa Paulo VI, a pedido do então arcebispo de Curitiba, Dom Pedro Fedalto. Desde então, a Festa do Rocio passou a integrar o calendário religioso e cultural paranaense, tornando-se um marco de fé e tradição que movimenta toda a cidade de Paranaguá.

IHGP

“A Festa do Rocio, que neste ano alcança sua 212ª edição, traz a Paranaguá visitantes de todo o país e do mundo. Há integração com a devoção a Nossa Senhora de Caacupé, do Paraguai, e a procissão anual reúne centenas de milhares de pessoas em novembro. A devoção move o turismo religioso e fortalece a identidade do Paraná. Nossa Senhora do Rocio se torna, assim, um ícone de fé, devoção e, principalmente, de identidade cultural e social do povo paranaense”, contou o historiador e orador do Instituto Histórico e Geográfico de Paranaguá, Alessandro Pires Staniscia.

Durante os dias de festa, a cidade se transforma. Milhares de devotos percorrem o caminho até o Santuário, a pé, de bicicleta, a cavalo e de barco, em romarias que atravessam o Estado. O espetáculo de fé culmina com a Procissão Marítima, um dos momentos mais emocionantes da celebração, quando a imagem da Padroeira é conduzida pelas águas da Baía, acompanhada por embarcações decoradas e orações fervorosas.

Para o povo de Paranaguá, o Rocio não é apenas uma festa, mas uma parte essencial da identidade local. “A fé em Nossa Senhora do Rocio é o que une as famílias, as gerações e toda a cidade. É um sentimento que está no coração do parnanguara”, resume um dos devotos mais antigos, que participa das romarias desde a juventude.

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“A devoção move o turismo religioso e fortalece a identidade do Paraná. Nossa Senhora do Rocio se torna, assim, um ícone de fé, devoção e, principalmente, de identidade cultural e social do povo paranaense”, contou o historiador e orador do IHGP, Alessandro Pires Staniscia (Foto: Folha do Litoral News)

“O momento maior da celebração do Rocio é o das novenas e do dia 15 de novembro. Para o Brasil, é um feriado cívico, mas para Paranaguá e para o Paraná, é o dia da Padroeira do Estado. Nesse dia, brancos e negros, pobres e ricos, letrados e simples, ficam todos diante da Virgem do Rocio, e se sentem iguais perante sua grandeza. O resgate e a divulgação dessa festa são fundamentais para a formação da identidade cultural e espiritual do Paraná e do Brasil”, disse Staniscia.

A imagem encontrada há séculos, simples e pequena, permanece como símbolo de amor e proteção. Cada vela acesa, cada promessa paga, cada oração dita diante do altar carrega um pedaço da história de um povo que aprendeu a confiar na sua Padroeira.

Hoje, quando o Paraná celebra sua Mãe e Protetora, a mensagem que ecoa é a mesma que guiou os primeiros devotos com a fé é o orvalho que renova, fortalece e mantém viva a esperança. Nossa Senhora do Rocio continua a abençoar o Estado e o seu povo, mantendo acesa a chama da devoção que nasceu nas águas e permanece firme no coração de todos os paranaenses.


A fé que move Paranaguá na história da devoção à Nossa Senhora do RocioAvatar de Alex Vizine

Alex Vizine

Formado em Letras e respectivas Literaturas pela Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Paranaguá (FAFIPAR) em 2014 e em Pedagogia pela Universidade Estadual do Paraná (Unespar) em 2018. Desempenha suas funções na Folha do Litoral News desde 2020 como coprodutor (MEI), além de atuar com produções audiovisuais e em radiodifusão no litoral do Paraná. Associado ao Rotary Club de Paranaguá Rocio, ministro da Eucaristia e da equipe de liturgia no Santuário Estadual de Nossa Senhora do Rocio.

A fé que move Paranaguá na história da devoção à Nossa Senhora do Rocio

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