Ciência e Saúde

Prefeito denuncia irregularidades em contratos com a AGP Saúde e confirma suspensão desde o início da gestão

“Nosso objetivo é esclarecer para a população e para a imprensa que a Prefeitura de Paranaguá não tem nenhum envolvimento com a empresa AGP Saúde”, destacou o prefeito Adriano Ramos

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Os valores já confirmados somam mais de R$ 9 milhões em contratos com a empresa na gestão anterior, afirma Adriano Ramos

O prefeito de Paranaguá, Adriano Ramos, realizou na manhã desta terça-feira, 21, uma coletiva de imprensa no gabinete do Palácio São José, sede administrativa da Prefeitura de Paranaguá, para prestar esclarecimentos sobre os contratos firmados com a empresa AGP Saúde LTDA, que atuou no município entre os anos de 2022 e 2024, na gestão anterior.

Durante o encontro, realizado no gabinete do prefeito Adriano Ramos, o chefe do Executivo foi enfático ao afirmar que desde 1.º de janeiro de 2025 a atual gestão não realizou qualquer pagamento à empresa e que o contrato foi suspenso logo no início do mandato, após a Vigilância Sanitária municipal detectar indícios de irregularidades graves.

“Nosso objetivo é esclarecer para a população e para a imprensa que a Prefeitura de Paranaguá não tem nenhum envolvimento com a empresa AGP Saúde. Assim que assumimos, identificamos falhas e determinamos a suspensão imediata do contrato. Nenhum centavo foi pago pela nossa gestão”, declarou o prefeito Adriano Ramos.

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Coletiva foi realizada na manhã desta terça-feira, 21, no gabinete do prefeito Adriano Ramos.

Fiscalização apontou graves inconsistências

Segundo o prefeito, a situação veio à tona após a Vigilância Sanitária identificar inconsistências nos relatórios de testagens realizadas pela empresa. A então secretária municipal de Saúde, Patrícia Scacalossi , levou as informações ao prefeito logo no início do ano.

“A Vigilância encontrou irregularidades, comunicou a secretária Patrícia, que fez um levantamento técnico minucioso e apresentou dados que levantaram suspeitas. Tomamos a decisão de suspender o contrato de imediato”, explicou Adriano.

Entre as irregularidades encontradas, está a testagem de pessoas já falecidas, nomes que constavam em planilhas de atendimentos supostamente realizados pela AGP Saúde em 2023 e 2024.

Além disso, a prefeitura constatou que os testes oferecidos pela empresa são gratuitos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o que reforça a falta de justificativa para os altos valores pagos pelo município.

Números chamam atenção

De acordo com os documentos apresentados, 91.400 testagens teriam sido realizadas em Paranaguá nos anos de 2023 e 2024, número que corresponde a mais de 80% da população adulta da cidade.

Somente em 2024, 78.200 testes teriam sido aplicados, com pagamentos superiores a R$ 7,3 milhões. Nos últimos cinco meses da gestão anterior, a empresa recebeu R$ 5,3 milhões, sendo que R$ 1,5 milhão foi pago no dia 20 de dezembro de 2024, último dia útil de funcionamento da Prefeitura antes da troca de governo.

“Pagaram R$ 1,5 milhão praticamente no apagar das luzes. Foram apenas três dias de tramitação para liberar esse recurso. Isso mostra o nível de pressa e a falta de transparência com o dinheiro público”, destacou o prefeito.

Atualmente, a equipe técnica da Prefeitura ainda busca localizar processos e empenhos não identificados. Segundo Adriano Ramos, os valores já confirmados somam R$ 9 milhões, mas o total pode ser ainda maior.

“Encontramos um rombo de R$ 141 milhões nas contas municipais quando assumimos. Faltava dinheiro para merenda, vale-alimentação e salários. É revoltante ver que mais de R$ 9 milhões foram pagos a uma empresa que sequer tinha sede ou funcionários registrados”, lamentou.

Contratos tiveram aumentos de até 1.677%

O procurador do município, Dr. Tiago Leal, apresentou detalhes técnicos sobre os contratos, que passaram por cinco renovações entre 2022 e 2024.

“A legislação permite acréscimo de até 25% no quantitativo de um contrato. No caso da AGP Saúde, houve aumento de 189% em uma das renovações e 1.677% de crescimento acumulado em relação ao contrato original. É completamente ilegal”, afirmou.

Ele ainda destacou que o contrato começou em 2022, durante o período pós-pandemia, quando foram feitos apenas 4.400 testes.

“Em 2024, quando não havia mais justificativa sanitária, esse número saltou para 78.200 testes. Um crescimento sem sentido e sem respaldo técnico”, completou.

Empresa sem sede e sem funcionários

A secretária municipal de Fiscalização de Concessões e Contratos, Isabele Figueira, revelou que a AGP Saúde não possuía sede física, funcionários registrados nem autorização da Vigilância Sanitária para operar em Paranaguá.

“As supostas testagens eram feitas em locais como bares e supermercados, sem controle técnico e sem qualquer autorização sanitária. A empresa não apresentou documentação que comprovasse a existência de profissionais habilitados”, disse Isabele.

Segundo ela, após a notificação da Prefeitura em fevereiro, a empresa respondeu apenas com um e-mail concordando com a suspensão das atividades, e não houve mais contato desde então.

Denúncias já haviam sido feitas pela Vigilância Sanitária na gestão anterior

Durante a coletiva, a advogada Maria Clara confirmou que a Vigilância Sanitária já havia notificado a gestão passada, em novembro de 2024, sobre a presença de pessoas falecidas nas listas de testagens, mas, mesmo assim, houve pagamento de R$ 1,5 milhão à empresa em dezembro.

“Havia ciência das irregularidades. Mesmo após a notificação, o pagamento foi feito no último dia útil do ano”, afirmou.

Recursos poderiam ter transformado o atendimento de saúde

O secretário municipal de Saúde, Daniel Fangueiro, apresentou um comparativo de como os valores pagos à AGP Saúde poderiam ter sido utilizados em ações efetivas para a população.

“Com os R$ 9,1 milhões pagos, poderíamos ter feito 6.120 plantões médicos de 12 horas, o que significa 16 médicos a mais por dia na UPA. Ou, se aplicássemos em consultas de especialidades, seriam R$ 55 mil consultas pediátricas, R$ 43 mil de saúde mental ou R$ 59 mil de ginecologia e saúde da mulher. Esses recursos poderiam ter mudado a realidade da saúde pública de Paranaguá”, explicou.

Fangueiro também destacou que não há registros oficiais dos resultados dos testes realizados pela empresa, o que impede avaliar o impacto real do serviço.

“Não temos nenhum documento que mostre os resultados das testagens. Isso torna impossível comprovar se os serviços foram de fato executados”, completou.

Investigações em andamento

O prefeito Adriano Ramos confirmou que todos os documentos e relatórios foram entregues ao Tribunal de Contas do Estado (TCE-PR), ao Ministério Público Estadual (MP-PR) e ao Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO), após solicitação formal recebida no início de outubro.

“Na quarta-feira passada, fomos notificados pelo Tribunal de Contas para colaborar com as investigações que envolvem várias prefeituras do Paraná. Na sexta-feira, nossa equipe jurídica entregou tudo pessoalmente. Estamos colaborando com total transparência”, disse o prefeito.


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Maickon Chemure

Formado em Matemática pela Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Paranaguá (FAFIPAR) em 2018. Desempenha suas funções na Folha do Litoral News desde 2024 como Repórter Policial, além de produções audiovisual. Atua há 16 anos na área de reportagem. Exerce as suas atividades na Folha do Litoral News como coprodutor (PJ).

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