Vivemos guiados pelo tique-taque do relógio. Até aí, nenhuma novidade. Mas você já percebeu o quanto estamos sempre apressados?
Algumas mulheres lutam contra o tempo. O relógio biológico avisa que está passando da hora de ter um filho. Elas se inquietam, como quem ouve uma contagem regressiva prestes a estourar.
Quando engravidam, mal podem esperar que o bebê venha ao mundo: querem logo ver o rostinho e descobrir com quem se parece. Assim que nasce, os familiares correm para conhecê-lo. E, aos três meses de vida, se for menino, abandona o confortável macacão e desfila de calça jeans e camisa polo. A cara do papai! Quanta ansiedade!
Enquanto amamenta a filha, a mãe contempla o semblante sereno da criança e já projeta um amanhã distante: “Cursará faculdade de quê?” “Irá se casar?” “Me dará netos?” Perguntas que atravessam os anos, como se o futuro tivesse pressa de chegar.
O comércio também se antecipa. Às vezes, ovos de Páscoa se empilham em lojas e supermercados na mesma época em que compramos adereços para o carnaval. E as crianças saboreiam os chocolates muito antes de o coelho da Páscoa bater à porta. Coelho? Que coelho?
Papai Noel surge com seu “ho-ho-ho” nos comerciais de televisão em pleno final de outubro. Ele, que costumava aparecer apenas em dezembro, agora se apresenta com antecedência, contaminado pelo mesmo ímpeto.
Tememos envelhecer e, a qualquer custo, buscamos disfarçar os sinais da idade. Talvez seja apenas uma tentativa de nos agarrarmos à sensação de juventude como combustível, pois quanto mais vivos nos sentimos, maior é a vontade de alcançar o que desejamos.
Já fomos mais cuidadosos com nossos filhos; hoje, temos urgência em lançá-los à vida e em abreviar a árdua tarefa que é educar.
O planeta inteiro segue esse compasso acelerado. Tudo é frenético, veloz, instantâneo, passageiro, fugaz. Como se a vida fosse servida em doses rápidas.
Janeiro, fevereiro, março, abril… você pisca, e quando percebe, já é dezembro. Onde foram parar os outros meses que estavam aqui? O tempo os devorou, engoliu, consumiu.
Para que tanta correria?
Sacrificamos os momentos de lazer, a convivência com a família, e quase ninguém mais se detém para contemplar a vista da janela. Vivemos apressados e sem olhar para os lados.
Um dia nos disseram que precisávamos chegar “lá”. E nós acreditamos. Desde então, corremos o tempo todo para alcançar esse destino: primeiro que você, primeiro que todos.
Esse “lá” talvez seja a recompensa por tantos sacrifícios. Enquanto não o alcançamos, por favor, desobstrua a rota: temos pressa!





