Crônicas

Temos pressa

Por: Kátia Muniz

Kátia Muniz

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Vivemos guiados pelo tique-taque do relógio. Até aí, nenhuma novidade. Mas você já percebeu o quanto estamos sempre apressados?

Algumas mulheres lutam contra o tempo. O relógio biológico avisa que está passando da hora de ter um filho. Elas se inquietam, como quem ouve uma contagem regressiva prestes a estourar.

Quando engravidam, mal podem esperar que o bebê venha ao mundo: querem logo ver o rostinho e descobrir com quem se parece. Assim que nasce, os familiares correm para conhecê-lo. E, aos três meses de vida, se for menino, abandona o confortável macacão e desfila de calça jeans e camisa polo. A cara do papai! Quanta ansiedade!

Enquanto amamenta a filha, a mãe contempla o semblante sereno da criança e já projeta um amanhã distante: “Cursará faculdade de quê?” “Irá se casar?” “Me dará netos?” Perguntas que atravessam os anos, como se o futuro tivesse pressa de chegar.

O comércio também se antecipa. Às vezes, ovos de Páscoa se empilham em lojas e supermercados na mesma época em que compramos adereços para o carnaval. E as crianças saboreiam os chocolates muito antes de o coelho da Páscoa bater à porta. Coelho? Que coelho?

Papai Noel surge com seu “ho-ho-ho” nos comerciais de televisão em pleno final de outubro. Ele, que costumava aparecer apenas em dezembro, agora se apresenta com antecedência, contaminado pelo mesmo ímpeto.

Tememos envelhecer e, a qualquer custo, buscamos disfarçar os sinais da idade. Talvez seja apenas uma tentativa de nos agarrarmos à sensação de juventude como combustível, pois quanto mais vivos nos sentimos, maior é a vontade de alcançar o que desejamos.

Já fomos mais cuidadosos com nossos filhos; hoje, temos urgência em lançá-los à vida e em abreviar a árdua tarefa que é educar. 

O planeta inteiro segue esse compasso acelerado. Tudo é frenético, veloz, instantâneo, passageiro, fugaz. Como se a vida fosse servida em doses rápidas.

Janeiro, fevereiro, março, abril… você pisca, e quando percebe, já é dezembro. Onde foram parar os outros meses que estavam aqui? O tempo os devorou, engoliu, consumiu.

Para que tanta correria? 

Sacrificamos os momentos de lazer, a convivência com a família, e quase ninguém mais se detém para contemplar a vista da janela. Vivemos apressados e sem olhar para os lados.

Um dia nos disseram que precisávamos chegar “lá”. E nós acreditamos. Desde então, corremos o tempo todo para alcançar esse destino: primeiro que você, primeiro que todos. 

Esse “lá” talvez seja a recompensa por tantos sacrifícios. Enquanto não o alcançamos, por favor, desobstrua a rota: temos pressa!


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Kátia Muniz

Kátia Muniz é formada em Letras e pós-graduada em Produção de Textos, pela Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Paranaguá (hoje, UNESPAR). Foi colaboradora do Jornal Diário do Comércio por sete anos, com uma coluna quinzenal de crônicas do cotidiano. Nos anos de 2014, 2015 e 2016 foi premiada em concursos literários realizados na cidade de Paranaguá. Em outubro de 2018, foi homenageada pelo Rotary Club de Paranaguá Rocio pela contribuição cultural na criação de crônicas.

Temos pressa

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