João Batista Ferreira era considerado o exemplo máximo entre os fiscais dos anos 1800. Mais conhecido como “Mandinga”, até hoje ninguém conseguiu superá-lo no zelo pela coisa pública, ou seja, pela ordem, limpeza e decência da cidade, que estava sob seus solícitos cuidados.
Paranaguá, no ano de 1860, era uma cidade pequena, mas mantinha-se impecavelmente limpa diante da severidade de “Mandinga”. Desde o amanhecer até depois do pôr do sol, ele percorria as ruas com bengala em punho, olhos atentos e postura enérgica, sempre pronto para surpreender alguma infração e aplicar multas conforme os artigos e parágrafos das posturas municipais.
Durante a noite, procurava manter-se oculto nas sombras proporcionadas pela fraca iluminação dos poucos lampiões públicos. Não tolerava qualquer desvio da ordem estabelecida, e qualquer um que cometesse uma infração teria de se haver com a polícia se fosse flagrado por “Mandinga”.
Ele era o temor da população, e todos verificavam a limpeza da calçada ou se o cão estava devidamente preso ao avistá-lo percorrendo lentamente a rua.
Naquela época, havia a proibição de barulho após o toque de silêncio no campanário da Cadeia, um antigo edifício colonial do século XVII. Até 1913, sua fachada de janelas gradeadas de ferro se erguia na Rua 15 de Novembro, em frente ao jardim e ao busto do Professor Cleto.
Às dez horas da noite, o sino da Cadeia tocava, avisando que era hora de silêncio e de trancar as portas. Chamado de “toque do Aragão”, era uma prática introduzida pelo chefe de polícia do Rio de Janeiro colonial.
Assim, a cidade se recolhia, confiando aos santos a proteção contra tentações e almas penadas. Pessoas escravizadas sem autorização escrita para estarem na rua eram levadas à Cadeia. Os homens livres também precisavam justificar sua presença nas ruas, exceto os de elevada posição social.
Ao amanhecer, dissipavam-se os temores noturnos e o dia recomeçava ao som dos tamancos no Mercado. Lá já estava “Mandinga”, inspecionando desde carnes até verduras.
Nada igualava o ódio feroz que “Mandinga” nutria pelos cães. Para ele, todos eram indesejáveis, e, assim, espalhava bolinhos de carne com estricnina pelas ruas.
Conta a tradição que os cães latiam sempre que o avistavam. Quando “Mandinga” adoeceu, continuava suas rondas em cima de um cavalo. Até que, em 3 de outubro de 1862, a morte finalmente o aposentou, levando-o de um dos leitos da Santa Casa de Misericórdia.
Segundo testemunhas, bandos de cães seguiram o cortejo fúnebre, latindo e abanando o rabo, como se celebrassem sua partida.
Portanto, caro leitor, lembre-se de que, ao descartar um papel no chão da cidade ou ao jogar uma bituca de cigarro, é imprescindível observar o entorno. Quem sabe o ‘Mandinga’ não está observando?
Referências:NASC JR, Vic. O Mand. Co No, Pguá, v. 1, p. 1007, 1 jul. 1966.