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Paranaguá 376 anos

O jeito de ser de Alexandra: bairro em Paranaguá reúne características únicas

História, natureza e comunidade tornam o local insubstituível para os moradores

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Quem escolheu o bairro de Alexandra, em Paranaguá, para construir a vida e ver os filhos crescerem não deixa o lugar por nenhum outro. Mas, afinal, o que tem esse bairro de tão especial que faz o mesmo reunir características únicas ainda que distante do centro da cidade? Dois de seus moradores, uma que nasceu no local e outro que escolheu o bairro como residência, comentaram sobre os aspectos do lugar e o jeito de ser de Alexandra.

A professora e diretora da Escola Municipal Tiradentes, Gisele Custódio da Veiga Ribeiro, nasceu em Alexandra e, mesmo depois de formada, escolheu o local para viver e educar seus dois filhos.

“Em nenhum momento saí para morar em outro lugar. Cresci gostando muito da comunidade, fiz faculdade no centro, na Unespar. Casei, meu marido é da Lapa, mas a gente construiu a vida aqui, e ainda não almejo sair. Para mim, aqui é o meu lugar”, destacou Gisele.

Ela conta que começou na área da educação na Apae e também em uma escola em outro bairro, sempre esperando uma vaga no local onde nasceu. Na primeira oportunidade, Gisele voltou a servir sua comunidade, desta vez como profissional da educação, já na Escola Municipal Tiradentes.

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“Para mim, aqui é o meu lugar”, destacou a professora e diretora da Escola Municipal Tiradentes, Gisele Custódio da Veiga Ribeiro

“Meu pai é policial civil aposentado e eu cresci com ele falando para estudar para ser professora. Quando chegou o ensino médio eu escolhi a área da contabilidade, mas tudo me levava para a área da educação. Fiz pedagogia e me tornei professora, foi algo que meu pai profetizou na minha vida”, frisou Gisele.

Ela é mãe de Mariana, de 14 anos, e Miguel, de 5 anos, aluno da Escola Tiradentes. “Mariana teve leucemia aos cinco anos, fizemos todo o tratamento e hoje está curada. Na época, a médica aconselhou que ficássemos em Curitiba, mas escolhemos permanecer em Alexandra e levá-la para a capital nos dias do tratamento. Graças a Deus deu tudo certo”, ressaltou a diretora.

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Alexandra tem o título de primeira imigração italiana do Paraná

Infância raiz

Para ela, o diferencial do bairro e da escola é a proximidade com as famílias e com as crianças. “A comunidade de Alexandra é diferente. As crianças são diferentes. Às vezes, elas têm escola do lado de casa, mas preferem andar 15 km ou mais para estudar na Escola Tiradentes. Pelo fato de ser nascida e criada aqui, o pessoal brinca que eu conheço todo mundo e também a realidade das crianças. Eu sei onde fica o Ribeirão, a Estrada Velha, as Colônias, a Toca do Coelho. Gosto muito de estar aqui, pela paz e pela tranquilidade”, destacou Gisele.

São cerca de 280 alunos de quatro a 11 anos da comunidade atendidos na Escola Tiradentes. A diretora afirma que esses fazem parte de uma outra realidade, na qual a infância corre de forma mais lenta e com mais contato com a natureza.

“Aqui a infância é diferente, meu filho de cinco anos anda de bicicleta na rua, a gente vê muito eles brincando. Trabalhamos com crianças que sobem em pé de árvore, que cortam a fruta do pé, que vão na padaria sozinhas, que conseguem viver em comunidade. Hoje, tem muitas pessoas diferentes, mas a grande maioria se conhece, e um acaba cuidando do outro. Quem mora aqui gosta, quem não se habitua procura outro lugar. Vemos muitas pessoas escolhendo morar em Alexandra pelo estilo de vida. Espero que sempre seja um lugar assim bom de se viver”, concluiu a diretora.

Riqueza histórica

O professor Hermes Goldenstein Junior leciona a disciplina de História na Rede Estadual de Educação, atualmente no Colégio Estadual do Campo de Alexandra e no Colégio Estadual Bento Munhoz da Rocha Neto. Além disso, também é morador no bairro desde 2013.

Ele afirmou que a região onde está localizado o bairro é habitado desde as épocas pré-históricas, conforme comprovam os inúmeros sambaquis mapeados na região. 

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“Poucos bairros têm o privilégio de reunir elementos como uma história centenária, patrimônios materiais conservados, patrimônios imateriais riquíssimos e uma paisagem natural de tirar o chapéu”, disse o professor Hermes Goldenstein

“Foi espaço de aldeamento dos indígenas pré-colonização e parte do ramal paranaense do famoso caminho transcontinental do Peaberu.  Serviu como rota de ligação ao Planalto de Curitiba quando da chegada dos portugueses. Mas o fato histórico oficial que origina Alexandra é a chegada dos primeiros imigrantes italianos do Paraná em 1871”, disse o professor.

Por isso, Alexandra tem o título de primeira imigração italiana do Paraná. “Segundo o professor Waldomiro de Freitas, Savino Trípodi, em 1871, conseguiu com o governo imperial brasileiro um contrato para assentar, em pequenas propriedades, 200 famílias (320 pessoas) na região. Isso é muito significativo uma vez que a escravização ainda não havia sido abolida. Comprova as mudanças que passavam a sociedade na época”, mencionou Hermes.

Estação Ferroviária

A construção da estrada de ferro Paranaguá-Curitiba (1880-1885) representou uma transformação profunda e definitiva para toda a região. 

“Segundo pesquisa do professor Evandro Nascimento, a opção por Paranaguá, e não Antonina, como início da estrada fez da nossa cidade e seu porto um dos mais importantes do País. Alexandra receber uma das estações reforça a importância do vilarejo que se formava”, afirmou Hermes.

Após um início promissor, a maioria dos imigrantes italianos deixou a região. Desta forma, a construção da estrada de ferro, a estação, os funcionários e o comércio que atenderia a movimentação de cargas e pessoas foi um fator decisivo para manter e desenvolver a comunidade.

Para o professor, Alexandra reúne aspectos importantes que tornam o local especial aos moradores.

“Poucos bairros têm o privilégio de reunir elementos como uma história centenária, patrimônios materiais conservados, patrimônios imateriais riquíssimos e uma paisagem natural de tirar o chapéu. Alexandra reúne tudo isso!”, enfatizou o professor que também é morador no bairro.

Ele cita a Estação Ferroviária como um dos espaços mais significativos que permanece fazendo parte da história dos moradores. 

“A Estação Ferroviária, com seus 137 anos, traz histórias de senhores de 70, que vendiam ainda crianças goiabas aos passageiros do trem. E adultos de 40 que corriam atrás de balas lançadas das composições. Essas histórias são contadas e recontadas com crianças de sete anos correndo e vendo as enormes locomotivas passar com a riqueza material do Brasil é fazer novas histórias. Tudo isso depois de uma pescaria ou um bate-bola. Um lugar especial, sem dúvida!”, destacou Hermes.

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